Geraldo Borges
(mesmo já tendo um Papa argentino, Geraldo imagina um brasileiro. Adivinhem quem!)
Pensando,
aqui, com os meus botões, num jogo de imaginação tive uma idéia, e levanto a questão. Trata-se da candidatura à Papa de um cardeal brasileiro.
Quem seria? Tem muitos nomes
importantes que a gente poderia citar. Dom Avelar, se fosse vivo, por exemplo. Dom Helder Câmara, este seria mais difícil,
devido a sua posição política radical. Também está morto. Os vivos são muitos.
Mas continuando a mexer com mus
botões vou tirar o Papa do bolso da minha cartola. Quer dizer, vou dar o meu
voto, e nesse caso, o Papa não seria nem europeu, muito menos asiático nem da America hispânica, nem da África, nem
americano, se bem existe uma profecia
que fala na eleição de um Papa negro para o Vaticano.
O Brasil nunca ganhou um premio Nobel,
dificilmente teríamos um Papa. Digo assim porque acho que a literatura e a
religião tem algum coisa em comum.
Falando em literatura, é daí que vem
a minha proposta para um candidato a Papa. Caso
o meu candidato não tivesse se desviado de sua primeira vocação. Caso
tivesse seguido a carreira eclesiástica, hoje seria Cardeal, na cidade
maravilhosa do Rio de Janeiro, e como é um humanista, com certeza seria muito
respeitado, tanto no morro, como no asfalto. E, além disso, sabe várias
línguas. E, além do mais, é longevo, uma das necessárias características para
ser ungido pontífice, tornar-se uma ponte entre o céu e a terra.
Mas em vez de se tornar padre, resolveu sair
do seminário, e a igreja perdeu, quem sabe, um futuro Papa, contando com meu
voto, aqui com meus botões.
Mas que seria este personagem?
Vamos com calma. Comecei a entrar em contacto
com ele nos idos da década de sessenta, lendo suas crônica no jornal carioca, se não me falha a memora, era o
Folha da Manhã , e o titulo da coluna era
“da arte de falar mal.” A esta
altura se o leitor é antigo já tem uma pista de quem estou falando. Depois o
acompanhei na revista Manchete lendo suas crônica ferinas. Ambos os periódicos
desapareceram. Depois o redescobrir no
Jornal Folha de São Paulo E grande foi a minha alegria.
Logo
depois li o seu primeiro romance. “Informação ao Crucificado.” Trava-se de um
relato descrevendo a sua experiência no
seminário, o eixo de sua narrativa corre
no fulcro da memória. Seu livrinho, magro e rígido, em fôrma de diário é uma
biografia espiritual que termina com esta frase.
Deus acabou.
Este homem abandonou a Igreja.
Tornou-se um grande escritor brasileiro. Foi preso pela ditadura. È um imortal
da academia. Não vou citar a lista de seus grandes romances. Nem também de seus
trabalhos jornalísticos. Só digo uma coisa; eles são de grande importância para
se entender a história cultural e política do Brasil
Todo mundo já sabe de quem estou falando. Deus
acabou para Carlos Heitor Cony. Mas se não tivesse acabado e ele tivesse ficado
na igreja seria hoje um respeitável
cardeal, e se o rebanho pudesse votar e ver a fumaça subir pela chaminé,
com certeza ele teria o meu voto. Só que
ele preferiu desistir da hóstia e
aderiu ao chá da cinco da Academia que
também é uma grande instituição de ídolos que, as vezes, se vestem com uma
roupa bizarra em solenidades especiais. Bom.
Acho que já chega me mexer em meus
botões. E isso aí: Carlos Heitor Cony
seria o novo Papa que eu tiraria da cartola. Pois tornar-se Papa é um dos
grandes milagres da vida contemporânea.
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