domingo, 21 de novembro de 2010

Resgate so Nós & Elis



Deusval L. Moraes




Cheguei em Teresina em março de 1985. Naquela época, o bar Nós & Elis já havia se firmado como point de frequentadores de vários matizes: intelectuais, artistas, políticos, profissionais liberais, estudantes, boêmios, etc.

Claro que, com qualidades tão inovadoras, passei a frequentar assiduamente o Nós & Elis até os seus estertores em 1994. O Nós & Elis nos deu oportunidade de fazemos amizades, encontrarmos com as pessoas o conhecermos novos talento piauienses. O tempo passou e ficaram gravadas na minha memória inesquecíveis lembranças do bar, até que me deparei na banca de revista com o livro organizado pelo jornalista Joca Oeiras “No Nós & Elis: A gente era feliz – e sabia”, que tornaram ainda mais vívidas todas as minhas lembranças dos fatos e acontecimentos vivenciados e ocorridos naquele estabelecimento de entretenimento.

O jornalista Joca Oeiras, que não conheceu o bar, fez um trabalho primoroso; foi atrás dos tradicionais frequentadores e, como arguto escritor, organizou uma coletânea de textos e crônicas que se transformou numa obra deliciosa. O Nós & Elis era um ambiente saudável, aconchegante, acolhedor, social, performático, politicamente correto, além do expressar manifestações artísticas e culturais de vanguarda, ou melhor, era uma casa que aliava a boemia com produção cultural. Como casa noturna de esquerda (criada à imagem e semelhança do saudoso Elias Ximenes do Prado Júnior, posteriormente deputado estadual pelo PDT) também era frequentada pela direita, e por isso tornavam as discussões políticas bastante acaloradas. Lá também era ponto de encontro social, onde flertes, namoros, noivados, casamentos e desilusões amorosas também aconteciam.

No Nós & Elis desfilaram vários artistas, como Geraldo Brito, Edivaldo Nascimento, Aurélio Melo, a família Fonteles, Roraima, Carlos Ramos, Patrícia Melo, Netinho da Flauta, grupos Candeia e Varanda, entre outros, transformando-se num marco da cultura piauiense, com manifestações de várias tendências artísticas, como quarta poética, representações teatrais e humorísticas, no mesmo clima de abertura política vivida naquele período no Brasil. Não poderia deixar de destacar aqui o músico sanjoanense Netinho da Flauta, de saudosa memória, que praticamente fez do bar Nós & Elis a sua casa, e que por sentir-se em casa fez lá apresentações memoriáveis, era sem dúvida nenhuma um dos artistas mais identificados com o Nós & Elis, flautista de raro talento, mas que muito cedo nos deixou, ficando na nossa lembrança o som afinado da sua flauta.

Por tudo isso, foi uma grande sacada do jornalista Joca Oeiras em produzir a obra “No Nós & Elis a gente era feliz – o sabia” por resgatar um espaço que se tornou referência de uma geração de piauienses no processo de redemocratização do País, além, naturalmente, de prestar uma grande homenagem ao seu idealizador Elias Ximenes do Prado Júnior, que, sem o seu espírito efervescente, o bar Nós & Elis jamais teria atingido a magnitude que alcançou e por via de consequência, teria ensejado produzir-se tão magistral livro.

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