Paulo José Cunha
Quando for a Teresina não deixe de visitar o Espaço Torquato Neto. Fica num daqueles casarões antigos, ali no centro da cidade, desapropriado para acomodar a lembrança de um dos melhores representante da poética brasileira contemporânea. Lá você vai entrar em contato com textos, fotos, documentos, rascunhos, desenhos e raridades do “Anjo torto da Tropicália”. Vai poder acompanhar a evolução de alguns textos, desde o primeiro lampejo até o verso definitivo de algumas das canções mais importantes da música popular brasileira da segunda metade do século passado. Vai conhecer o artista multimídia Torquato Neto, através da exibição permanente de vídeos-documentários sobre ele ou inspirados em sua obra. Vai ver e ouvir depoimentos sobre o poeta, dados por parceiros, poetas, músicos, cineastas, artistas plásticos, designers gráficos, amigos e parentes. Vai ter acesso à obra do poeta organizada de forma a que o visitante entenda a evolução do pensamento de TN desde o início de sua produção, na Teresina dos anos 50 até seu suicídio, em 1972. O Espaço Torquato Neto é uma das mais simples – e também das mais arrojadas – concepções destinadas à perpetuação da obra e do espírito inquieto de um artista que não sai de moda, que continua desafinando o coro dos contentes e influenciando gerações e gerações de artistas pelo Brasil e pelo mundo.
A característica mais moderna e curiosa do Espaço Torquato Neto é que ele não é um museu, no sentido de ser um memorial onde se guardam as lembranças de um personagem, como o Memorial JK ou o Abraham Lincoln Museum. O Espaço TN, ao contrário, é uma usina de criatividade, onde artistas de todas as áreas fazem exposições ou ministram, em rodízio ou simultaneamente, oficinas de poesia, composição, cinema, vídeo-arte, computação gráfica, mídias interativas, arte cibernética, percussão, fotografia, teatro, cordel etc. Algo como o Espaço Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro (Hélio, aliás, foi um os grandes amigos de Torquato e foi quem o convenceu a exilar-se em Nova York quando as ameaças do Comando de Caça aos Comunistas começaram a preocupar seriamente o poeta).
Enfim, o Espaço Torquato Neto é dessas atrações turísticas que se tornam obrigatórias. Provavelmente Teresina, a cidade onde Torquato Neto nasceu, não tivesse a projeção turística que tem hoje se não houvesse o Espaço Torquato Neto, que estabeleceu um link definitivo entre a bela e calorosa capital piauiense e o melhor das vanguardas das mais diversas áreas. Eu próprio, que sou de lá, quando visitei pela primeira vez o Espaço, fiquei profundamente emocionado. Eu, que convivi direta e intimamente com Torquato, senti-me como que embarcando numa nave do tempo, e reencontrando o primo e amigo naqueles tempos em que, apesar da barra pesadíssima, a criatividade estava à flor da pele, entre tropicálias, geléias, festivais e bananas ao vento.
O texto acima é profundamente verdadeiro não fosse por um detalhe quase imperceptível: o Espaço Torquato Neto (ainda) não existe. E não existe porque apesar dos apelos dirigidos por mim aos prefeitos e governadores, nas últimas três décadas, nenhum deles teve a iniciativa de colocar o projeto em pé. Provavelmente não entenderam que, qualquer que seja o governante a concretizá-lo, estará associando seu nome à palavra Futuro, uma vez que a obra de Torquato Neto continua a ser uma das mais provocativas no panorama poético e musical brasileiro, e como já foi dito, não sai da moda.
Há poucos dias estive em Teresina e, junto com o primo George Mendes, passeamos a vista e a memória por dentro de um pacote de inéditos do poeta, que a viúva Ana Maria Duarte mandou do Rio de Janeiro. Textos datilografados, manuscritos, letras de músicas, fotografias, esboços e até desenhos daqueles que a gente faz distraidamente nas páginas de caderno estão lá, aguardando apenas que o atual ou o futuro governador, o atual ou o futuro prefeito acordem para a importância dessa obra e criem um local onde tudo isso possa ser visitado e conhecido. É bom lembrar que o interesse e a curiosidade por Torquato permanecem os mesmos, atestando a atualidade e a permanência de sua obra. O poeta estaria completando 66 anos. Que tal iniciar – agora – o projeto do Espaço Torquato Neto? Como ele mesmo diria, com aquele jeitão que deixou saudades: Câmbio, governador! Câmbio, prefeito! “Este menino crescido, que tem o peito ferido, anda vivo, não morreu”!
A característica mais moderna e curiosa do Espaço Torquato Neto é que ele não é um museu, no sentido de ser um memorial onde se guardam as lembranças de um personagem, como o Memorial JK ou o Abraham Lincoln Museum. O Espaço TN, ao contrário, é uma usina de criatividade, onde artistas de todas as áreas fazem exposições ou ministram, em rodízio ou simultaneamente, oficinas de poesia, composição, cinema, vídeo-arte, computação gráfica, mídias interativas, arte cibernética, percussão, fotografia, teatro, cordel etc. Algo como o Espaço Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro (Hélio, aliás, foi um os grandes amigos de Torquato e foi quem o convenceu a exilar-se em Nova York quando as ameaças do Comando de Caça aos Comunistas começaram a preocupar seriamente o poeta).
Enfim, o Espaço Torquato Neto é dessas atrações turísticas que se tornam obrigatórias. Provavelmente Teresina, a cidade onde Torquato Neto nasceu, não tivesse a projeção turística que tem hoje se não houvesse o Espaço Torquato Neto, que estabeleceu um link definitivo entre a bela e calorosa capital piauiense e o melhor das vanguardas das mais diversas áreas. Eu próprio, que sou de lá, quando visitei pela primeira vez o Espaço, fiquei profundamente emocionado. Eu, que convivi direta e intimamente com Torquato, senti-me como que embarcando numa nave do tempo, e reencontrando o primo e amigo naqueles tempos em que, apesar da barra pesadíssima, a criatividade estava à flor da pele, entre tropicálias, geléias, festivais e bananas ao vento.
O texto acima é profundamente verdadeiro não fosse por um detalhe quase imperceptível: o Espaço Torquato Neto (ainda) não existe. E não existe porque apesar dos apelos dirigidos por mim aos prefeitos e governadores, nas últimas três décadas, nenhum deles teve a iniciativa de colocar o projeto em pé. Provavelmente não entenderam que, qualquer que seja o governante a concretizá-lo, estará associando seu nome à palavra Futuro, uma vez que a obra de Torquato Neto continua a ser uma das mais provocativas no panorama poético e musical brasileiro, e como já foi dito, não sai da moda.
Há poucos dias estive em Teresina e, junto com o primo George Mendes, passeamos a vista e a memória por dentro de um pacote de inéditos do poeta, que a viúva Ana Maria Duarte mandou do Rio de Janeiro. Textos datilografados, manuscritos, letras de músicas, fotografias, esboços e até desenhos daqueles que a gente faz distraidamente nas páginas de caderno estão lá, aguardando apenas que o atual ou o futuro governador, o atual ou o futuro prefeito acordem para a importância dessa obra e criem um local onde tudo isso possa ser visitado e conhecido. É bom lembrar que o interesse e a curiosidade por Torquato permanecem os mesmos, atestando a atualidade e a permanência de sua obra. O poeta estaria completando 66 anos. Que tal iniciar – agora – o projeto do Espaço Torquato Neto? Como ele mesmo diria, com aquele jeitão que deixou saudades: Câmbio, governador! Câmbio, prefeito! “Este menino crescido, que tem o peito ferido, anda vivo, não morreu”!
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