domingo, 21 de novembro de 2010

Ganha-Pão





1000TON





Seria possível estabelecer-se alguma conexão entre um mecânico de máquinas de lavar, a ferida de um pobre indigente, uma empresa de dedetização e um recém-formado advogado?



Siga-me raro e caro leitor de meus medíocres artigos e constatarás que não são estapafúrdias as comparações que virão a seguir:



Dona Ermelinda possuía uma velha máquina de lavar roupa, era mesmo do “tempo do onça”, uma Westinghouse para 12kg de roupa. Seu Firmino sempre dava seu jeitinho de manter a geringonça nos trinques, sabedor do amor da patroa pela amiga e companheira da lufa-lufa diária.



O mecânico, não se sabe como, ou canibalizando peças de ferro-velho ou até fundindo peças de reposição, ia fazendo seu pezinho de meia, à custa dos reparos, quase quinzenais, da “velha senhora”.



Um belo dia Seu Firmino quase teve um “troço”!



Dona Ermelinda apaixonou-se por uma novinha em folha Brastemp...



Numa esquina de Copacabana com muito movimento, lá pelos idos dos anos 70’, passa um médico e fica comovido com o sofrimento do mendigo, perna com ferida exposta. Morador da área com consultório nas imediações ofereceu seus préstimos para curá-lo e recebeu a seguinte resposta:



_ Seu Dotô, se o senhor me dá uma esmolinha e se há de ter uma pomadinha pra aliviar a dor desse pobre esquecido por Deus, eu aceito sim. Agora, de primeiro, num posso sair daqui não, porque se eu saio, vem logo um “colega” e pega meu ponto. E dispois, se eu acabar com a “fedegosa”, aí sim, é que eu vou morrer de fome mesmo, sabe? Com tanto concurrente, quem é que vai ficar com pena de mim, Seu Dotô?



Raimundinho trabalhava para o Seu Joaquim numa pequena casa de dedetização ali na rua larga e não estava lá muito satisfeito com a merreca que ganhava. Percebeu logo que, como todas as outras firmas do ramo, o bom negócio ERAM os insetos, e não ACABAR com os insetos...E aconteceu uma coisa engraçada:



O portuga, que tinha o coração mole, não com os seus empregados, claro, que são uns molengas, como dizia, viu na televisão aquela propaganda de um inseticida. Lembram? Aquele que uma baratinha, coitadinha, implorava: Não! Rodox não! É covardia! Rodox não! Pois é, mudou de ramo, com pena de todas as milhões de baratinhas que matou durante 30 longos anos. Resultado: o Raimundo e mais uns companheiros conseguiram comprar a lojinha do seu Joaquim. Um deles tinha um nome muito esquisito, Zoroastro. Raimundo, que não era bobo nem nada, arrumou logo o nome e o slogan do novo negócio: DDTIZAÇÃO ZOROASTRO, MATA TUDO E NÃO DEIXA RASTRO!



A última história é aquela velha conhecida, a do recém-formado. Marcelinho, agora, lia com orgulho na placa de bronze em cima da sua vistosa mesa: Dr. Marcelo Botelho Pederneiras ADVOGADO.



No escritório novinho que o papai, também advogado, montou para ele, ainda tinha o cheiro de verniz dos armários e prateleiras repletos das coletâneas mais caras e mais raras do mundo jurídico, havia também secretárias gostosas de tailleur e mini-saia, tudo, tudo.



Assaz dedicado, trabalhava com afinco, afinal de contas tinha que mostrar para o pai a sua competência quando, um belo dia, o velho abre abruptamente a porta, sem bater, e vomita aos berros:



_Seu imbecil, seu safado! Eu gastei os tubos para montar este império e você, seu canalha mal agradecido, termina com aquele inventário que eu mantive, a duras penas, durante 45 longos anos!...



E segue a vida:



Lá embaixo da pirâmide a maioria come o pão-que-o-diabo- amassou. Muitos comem pão-dormido. A grande massa trabalha duro para ganhar o pão-nosso-de-cada-dia, enquanto muito poucos, lá no ápice, arrotam brioches.


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Baratinha do Valbercy Ribas








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