quinta-feira, 16 de abril de 2009

Poty versos Parnaiba



Geraldo Borges


Teresina é banhada por dois rios: o Parnaíba e o Poty. Ninguém se dá conta, hoje em dia, que o rio Poty, em relação a capital tem tanta importância sócio cultural quanto o rio Parnaíba, a nível local do município talvez tenha até mais. Provavelmente porque suas duas margens estão dentro da cidade. E o dito rio carrega a lenda: O Cabeça de Cuia,.que está ligada a comunidade de pescadores, e que já faz parte da nossa literatura, de nosso cordel, da escultura, da oralidade do povo piauiense.
O Encontro das Águas dos dois rios formando uma forte represa na sua embocadura tem sido um convite maravilhoso para atrair turistas.
Outra grande referencia histórica transfigurada pela imaginação cristã que margeia o rio Poty é o episodio trágico da morte do motorista Gregório. Uma das ribanceiras do Poty ganhou justamente no local onde se deu o sinistro assassinato de Gregório um monumento com uma cruz. Ali o povo humilde e crente deposita seus ex-votos e velas. O hospital Meduna também a margem do Poty é testemunha das grandes loucuras deste mundo, uma grande obra feita pelo dom Quixote Clidenor de Freitas Santos.
Na década de 1950, o rio Poty vivia encolhido no fim da cidade, mais corrente, com suas quintas cheias de cajus, com camarões pitú abundantes nas locas,. suas piabas cor de prata, que, às vezes, saltavam dentro das canoas dos pescadores. Fartura era muita. Nesse tempo o rio servia de recreio dos moleques, que mergulhavam em suas águas tépidas.
Tinha apenas uma ponte de madeira ligando o centro de Teresina ao outro lado do rio, que nos levava a Socopo. Um pequeno lugarejo. Mais tarde a cidade cresceu, atravessou a ponte, que teve de ser feita de novo com cimento armado para poder passar, sem risco, os carros. Com a chegada de Don Avelar, o Jóquei cresceu, e o rio Poty começou a ser visto pelo lado de lá. Pontes e mais pontes foram construídas para passar o progresso. A ponte do Poty Velho, a ponte da zona norte que vai para a Universidade, a ponte que fica a altura da Ilhota, e muitas outras que estão no mapa da cidade, é só verificar.
A cidade já esteve longe do rio Poti, como se pode ver. Onde hoje é a Assembléia dos Deputados, o Centro de Convenções, Tribunal de Justiça, e outros prédios oficiais, tempos atrás, mais ou menos, na década de sessenta, tudo era mato na beira do Poty..
Quando menino eu caminhava quarteirões e mais quarteirões com outros colegas, entrava por dentro do mato até chegar ao porto do Gregório, onde íamos tomar banho. Nesse tempo ninguém falava em poluição, pelo menos em Teresina, que era permeada de paisagens rurais. E ainda não estava enlouquecida com o progresso. Não sei se ainda existem crianças, meninos, que se ariscam tomar banho no Poty. Pode até ser. Pois criança não é gente. Muita gente já não come mais as suas piabas fritas, nem muito menos cozidas, alegam que elas se nutrem dos excrementos despejados nas bocas dos esgotos. Bem. São criaturas bastante delicadas. Nunca viram cu de cotia assoviar meio dia.
O Poty, pior do que o Parnaíba, está ameaçado a virar um esgoto, pelo menos na área do município de Teresina, se não for cuidado com todo zelo pela sua comunidade e pelos políticos que com certeza banharam em suas águas quando meninos, brincando de galinha gorda e dando canga-pé. Se não cuidarem vão perder o Encontro das Águas, esta vista maravilhosa na antiga vila do Poty. Além de alguns bares atraentes que acolhem boêmios em tardes de domingo ao por do sol.
O rio Poty é mais piauiense do que o rio Parnaíba, embora ambos sejam da União. Por isso mesmo temos mais responsabilidade com ele do que com o Parnaíba que pertence também ao Maranhão. Ele corre no centro da nossa capital, ou melhor, está parando, pedindo socorro. Caso não lhe atirarmos uma tábua de salvação, nem mesmo o Cabeça de Cuia, se ainda não tiver comidos todas as Marias Virgens, vai agüentar se esconder nas suas águas poluídas.

Um comentário:

LOUCA PELA VIDA disse...

... Falando em rio Poty e tábua de salvação, ele tem se tornado o rio dos suicidas. Praticamente todo mês alguém tenta, ou se joga em suas águas de uma de suas pontes. Já o batizei de rio de Virginia Wollf.