quinta-feira, 16 de abril de 2009

MACACOS DE IMITAÇÃO

1000TON
























Da sua americana senzala o negro ouvia o branco tocando música clássica no casarão da fazenda de algodão, down mississipi vale. Escutou, elaborou , encucou e devolveu, graças ao senhor, o jazz pra o mundo. Bem longe das suas origens, adotaram Moisés nas suas lamentações, ”Let my people go”, correndo atrás da terra prometida, uma dobradinha patético-atávica, branco judeu com preto africano, derramaram-se em spirituals e gospels.
Regado a muito uísque de milho, nos velórios, os crioulos batiam palmas ao som de uma música freneticamente lamento triste. Davam as boas vindas a seus mortos, na entrada para uma boa-vida, no além, longe das chibatadas no lombo, esquecer para todo o sempre os fardos pesados de algodão, branquinhos, branquinhos, levados em jornadas de 18 horas diárias nas lanhadas costas. Lá isso depois de estafante colheita, da fazenda para o porto, depois do porto para as barcaças. Fucking good, man! É ou não é para se comemorar?
Ah! Moon Light Serenade, o bom da guerra é o Glenn Miller. Sua swing band tocava pra os soldadinhos americanos na segunda guerra, e ele deu a sorte de não morrer em combate, e, sim, num prosaico vôo entre Inglaterra e França, desapareceu em 1944. Ainda bem... Não precisou nem saber do massacre em 1945, Dresden, Alemanha, a 100 quilômetros de Praga, Tchecoslováquia. Com a guerra ganha, as facínoras forças aéreas americana e britânica destruíram, não deixaram pedra sobre pedra, aquela belíssima cidade histórica, só para mostrar para o mundo o seu gigantesco poderio bélico. Tem-se notícia de que os bombardeios mataram mais de 30.000 civis, numa cidade sem absolutamente nenhuma resistência militar organizada...
Vinte e cinco anos depois, o deus que re-re-inventou a guitarrrrrra (deu até reverberação na palavra) elétrica, Johnny Allen Hendrix, Jimi Hendrix, o cara, denunciou na sua uterina guitarra, em Woodstock, o horror show que foi a guerra do Vietnam: distorcendo o hino nacional americano com todos os recursos esporrentos de pedais e amplificadores, esse crioulo cidadão mimicou, na sua metralhadora sonora, os macabros sons das bombas assassinas derramadas pelos bombardeiros aéreos.
Budy Holly, branquelo azedo, caixa d’óculos, pediu licença para tocar com a crioulada, nos clubes onde a maioria era black, só assim pôde mandar bem o seu rock P&B calibrado.
Chuck Barry nem pediu licença nem nada, nem pros da sua cor, eruditos das jazz band, que olhavam para aquele irmão meio atravessado, se rebolando muito, muito saliente no palco, e desrespeitando a sublime sonoridade de um instrumento, que um dia, lá para mais antigamente, um cigano chamado Django Reinhardt a dedilhava com rara maestria. Parecia a guitarra fazer parte do seu corpo, feito um prolongamento anatômico do seu coração-braço-mãos.
Mas Chuck chutou o balde direto mandou o seu rock rascante-gutural, arranhando a sua rebelde guitarra e a branquelândia adorou, requebravam-se, lotavam os bailes e chôus. /Trabalha, trabalha, nego/ trabalha, trabalha, nego/ nego tá moiado de suó/ as mão do nego ta que é calo só/...de tanto tocar guitarra pros brancos. Daí o neguinho foi ficando rico e mandou construir uma puta mansão, com bosque e tudo, além de um mega estúdio de gravação, só seu, por onde passaram, dentre outros pop-stars, Keith Richard, dos Rolling Jagger Stones.
Renato Barros, do renato e seus blue caps, ouvia rock lá de fora, formou sua primeira banda no subúrbio do Rio, em Piedade, Senhor, Piedade. Só tinha um preto no conjunto, o saxofonista e voz, Cid, que sobrou do antigo conjunto, e ainda canta com os caras até hoje.
Os Beatles (eu sou neguinha?) tinham um xacundum marcante, combinação de batida perfeita de guitarra, baixo e Richard Starkey. Já o nosso Renato, ouvindo os ingleses, e não sabendo direito como eles tocavam, pegou su
a guitarra, e tirou um xenquendem, maravilhosamente brega-suburbano-tupiniquim, que passou a ser sua marca registrada e influenciou vários músicos da jovem guarda, além de sua voz, maciamente puxada para os tons mais agudos, que virou inspiração para grande parte dos iê-iê-iê cantores da época. Claro que não podemos nos esquecer do irmão baixista do conjunto, o Paulo Cesar Barros, aquele que overdosava, musicalmente falando, o baixo Hofner do Paul Mc Cartney, tornando as versões musicais dos Beatles mais sofisticadamente atraentes.
Lá em cima eu falei de um crioulo que se deu bem nos states e agora vou falar de um outro crioulo, aqui da brazuca, artista que ainda precisa dar um duro danado pra comer o seu angu de cada dia. Ele se chama J. César, guitarrista negro dos The Pops. Merece aqui destaque, porque domina o instrumento como ninguém, toca divinamente e foi o seu maior virtuose na época em que ainda conseguia gravar. Devemos lembrar também de dois outros excelente s guitarristas: Gato (branco) dos Jet Black’s e do Risonho (branco) dos Clevers, que depois virou Os Incríveis.
Passando um pouco ao largo do nosso rock, por aqui, pelos 60’ o Noite Ilustrada mandava: “/ O neguinho gostou da filha da Madame / que nós tratamos de sinhá /...” E o Black Out mandou:”
/Chora, dotô, chora / eu sei que o medo de ficar pobre lhe apavora/...”
Quando chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, o tio Sam conheceu a nossa batucada, levou a Carmen Miranda pra lá e inventou o samba rumba, que misturava Miami com Copacabana. Don Costa, misturou chiclete com banana, e deu uma piel canela legal, tingindo de dolente Caribe as jazz bands americanas. Nosso Severino Araújo chegou junto com
sua magistral orquestra e fulminou o mundo com seu samba-gingado-jazzeado
E do bolero veio o samba canção, e veio a bossa nova dos filhinhos de papai brancos da zona sul. Maisa Matarazzo ouviu Julie London, Cry me a River, que ouviu Billy Lady Day Holiday, as três amarradas num porre só...

TUDO VEM DO NEGRO
BLUES, FUNK, SOUL
TUDO VEM DO NEGRO
SAMBA, JAZZ E ROCK’ N ROLL (da autoria de Manuel Branco)

Zum zum zum zum zum zum, capoeira mata um. E mata torcedor de futebol do coração também. Inventado pelos ingleses, veio pra cá, e só era jogado por brancanas. Os brancos bacanas. O nobre esporte bretão não era para pobretão brincar, ainda mais sendo um crioulinho qualquer... Quem muito contribuiu par mudar isso foi um seu manuel ou joaquim, português dono de armazéns de secos e molhados, que não é burro nem nada, p’gou uns cr’oulinhos pra jogaire vola e Angola, sim, o jogo da bola ficou muito mais criativo, cheio de ginga e picardia. CAPOEIRA + FOOTBALL = malícia bailarina de lidar com a esférica dos domingos da guia, dos diamantes negros, dos zizinhos, dos didis, dos garrinchas e dos pelés. E BIBA O BASCO! Apesar de rubro-negro roxo, tenho o dever de reconhecer que os mesmos portugueses, nossos antepassados brancos europeus, dizimadores dos nossos pais índios, e escravizadores dos nossos pretos africanos, num laivo de justiça histórica, tardia, mas oportuna, são esses mesmos que, agora, alforriaram a negrada saliente, soltando-a num retângulo gramado de verde. É pouco, é muito pouco sim, a sociedade, o sistema deve muito, mas muito mesmo a esse povo. O Mike Tyson, que não é nenhum sociólogo metido a besta, falou o seguinte uma vez, presumo que não com essas mesmas palavras: “O que a sociedade deixa a gente fazer, a nossa gente faz, e faz muito bem, e até se supera. Já pensou se os brancos nos deixam chegar a posições mais dignas? Eles não são bobos, não... Se eles deixassem, sabem que a gente ia engolir eles todos!


TUDO VEM DO NEGRO
CAPOEIRA, FUTEBOL E BATUCADA
TUDO VEM DO NEGRO
DANÇA, MACUMBA E CONGADA

Na arte, no campo subjetivo, na música, a cor da pele não tem cor humana, é apenas pictórica, como tintas numa pintura. A cor da pele não impõe restrições, não impõe lim
itações. O ser humano, vestido e protegido por essa pele, tem corações e mentes envolvidos em doar, em criar, em se manifestar, em sofrer e regozijar, transmitir, ligar, sintonizar.
Aumente agora o volume do seu rádio e preste bem atenção, escute bem o que você está ouvindo lá fora. Ouça a crise. Não, não estou falando do noticiário, que teima em mostrar que os bacanas sacanas estão topando o desafio. Balela!...
Estou falando é do barulho de gente, de multidão, de cidadãos nas ruas, entendeu? De trabalhadores, de desempregados de jovens que precisam de uma profissão. Isso sim ! Não pode ter mais essa de querer salvar banqueiro e impor restrições aos países pobres não.
O G-20 acabou de se reunir agora. Tudo bem...O nosso Lulinha pau-de-arara-paz-e- -amor fez bonito ? Fez sim. Saiu bem no filme? Saiu sim, gostei, e me amarrei na provocação, na cutucada nos branquelos do norte azul. Agora, meu irmão, para que dessa vez não seja feita só uma maquiagem disfarçadora de uma crise seríssima, um colapso mundial, não basta esses escrotos se reunirem e vomitar: Ah! Precisamos acabar com os paraísos fiscais! Papo furado...
Essa nova guerra tem uma fronteira enorme e bem delimitada. Vamos falar sério. São os brancos do norte azedo contra os mestiços subjugados aqui do sul. Essa, a gente vai levar? É desenvolvimento humano agora ou nunca! Dessa vez não deu para disfarçar mais, a máscara se esborrachou no chão...Essa lógica neoliberal não existe, nunca existiu, o fracasso foi total. Fim. Acabou.
BRANCO é o poder que eles têm, não a cor da pele. Assim não dá mais.
O poder tem, de qualquer maneira, que ficar COLORIDO.

2 comentários:

Netto de Deus disse...

Bem ali no ano de 68/69, eu, menino raquítico, cabeção, sofria ameaça de surra todo dia dos colegas um pouco mais velhos, porque eu determinava, decretava e ainda ameaçava com o AI-5, se alguém se atrevesse a dizer que Os Beatles era melhor do que Os Incríveis. Foi por causa de uma música, Os Milionários, executada pelo conjunto do Manito & Cia, que cismei de aprender tocar violão; aprendi, e advinha o que solei em pouco menos de três meses? Eu gostava muito e ficava também encabulado com o solo de guitarra dos Pops. Agora, orgulho mesmo eu tenho de ter visto o início do The Clevers, só não me perguntem que tornardo ou furacão os levaram a Campo Maior, 84km de Teresina, Piauí, naquela época, mais longe do que Antofagasta. Até hoje escuto a zuada danada daquele maravilhoso som no pátio do colégio. Eu estava sendo inoculado pelo rock, graças a eles (ou aos Incríveis?).
Só depois aceitei Jes.. Desculpem, os Beatles.

Sandra Chaves disse...

O G20 no final do papo de cumpadres faz uma proposta para "enfrentar coletivamente a crise".
Não coloca em xeque o modo de produção capitalista e sua expressão política, o neoliberalismo...não interessa
Desde quando o capitalismo trata do coletivo?? Cooperação para sair do caos ?? Os ali reunidos entendem muito pouco ou quase nada de crises. A lógica do capital é regida pela competição, nunca pela cooperação. A solidariedade na é categoria do capital, ou não teríamos tantos milhões de excluídos. O capital sempre foi bom para os capitalistas que detém o ter, o saber e o poder.
E o brasileiro,preto mulato, cafuso ou confuso, já nasceu em crise. Driblar a crise é o dia-a-dia de cada um desde sempre, é de nascença, seu moço ...