quinta-feira, 30 de abril de 2009

Perfume de Resedá

Paulo José Cunha



(...)naquele tempo
a cidade ria
e acolhia o delírio de seus doidos de estimação
zé honório jaime-doido paca-preto nicinha
manelavião joaninha dondon
doidos respeitados e queridos
doidos mansos
bem assentados
na sala de minha avó
comendo pão com café
e contando histórias fabulosas

(vó sazinha filosofava
que deus nosso senhor
criara duas nações de gente
uma
a dos doidos mansos
premiados com o delírio de flutuar eternamente
em odor de santidade
outra
a dos normais
condenados ao horror da sanidade
até purgarem as culpas
atingirem a purificação
e assim ganharem o direito de voar sem asas)

daí o acolhimento e o respeito
que até hoje nutro às virtudes da doidice
e insisto com tanta determinação
na certeza de que um dia
todos os homens e mulheres andarão sobre as nuvens
pois eu mesmo
com o tempo e algum esforço
adquiri a capacidade de enxergar no escuro
e acreditar no moto-perpétuo
que meu pai perseguiu
na trilha aberta
por leonardo da senhora das dores castelo branco
entre ímãs rolamentos cálculos e engenhos
nas madrugadas de febre
solitário em seu delírio
para provar que o impossível
é apenas o que ainda não se fez acontecer(...)


__________

Edmar,

Te envio trecho do longo poema "Perfume de resedá", em fase de revisão final do projeto gráfico, e que deve ser lançado ainda no Salip, se Deus quiser. Cineas é meu editor. Projeto gráfico é do Amaral (cá pra nós, genial). Deverá ficar com mais de 100 páginas. É uma rememoração poética da Teresina do meu/teu/nosso tempo. Uma declaração de amor à cidade sempre tão querida, apesar da distância em que vivemos dela.


Pode usar no blog, se quiser. Abraços.

PJ

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