quinta-feira, 16 de abril de 2009

História do Pavão Mysterioso


Edmar Oliveira

Li num fôlego “Chão das Almas” de Moacyr de Góes (Editora da UFRN, 2005, mais de 400 páginas). O autor classifica seu livro como “Romance & História” de forma apropriada. São seis livros que começam na “Guerra de Princesa” (Paraíba / masculina / muié macho / sim sinhô), na revolução de 30, se desmancham na Intentona Comunista em Natal e chega na ocupação potiguar pelos americanos na Segunda Guerra. A narrativa vindo do sertão de Borborema, chega com as jangadas na barra do rio Potengi e faz a travessia marítima dos presos comunistas para Recife e, depois, Ilha Grande. Graciliano Ramos embarca no navio como personagem da narrativa.
Vários outros personagens reais da vida potiguar estão nas páginas do Romance, incluindo o camisa verde Câmara Cascudo e o próprio Moacyr de Góes. Pra mim esta é a forma apropriada de se contar a história, porque aqui ela já é tomada como uma versão apaixonada do autor. E Moacyr sabe contar a história do seu povo. E a história sai das páginas do romance junto com os personagens fictícios, que apenas emprestam mais argumentos à versão do autor, sem o hipócrita compromisso com a “verdade”. E o apaixonamento da alma é o melhor argumento de convencimento, superando, a meu ver, as gélidas análises sociohistoricidas – que mais assassinam os acontecimentos como se fossem frias páginas imbecis. Porque ao historiador, no futuro, o passado tem explicações claras e de fáceis compreensões (se assim tivesse acontecido)...
Por falar nisso (o historiador no futuro), os livros de “Chão das Almas” terminam no livro zero, quando o Pavão Mysterioso (clássico cordel popular) carrega em suas asas Bento e Inês para uma visão do futuro. Mostra aos comunistas a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviéticas, a globalização e alguns problemas do século 21. Diferente do “historiador no futuro”, o Pavão Mysterioso só mostra as contradições sem conclusões historicidas.
Deliciosa narrativa que conta um momento importante no Rio Grande do Norte, “Chão das Almas” revela no fundo do oceano a história que forja o caráter do povo potiguar. As águas do Potengi tem na narrativa de Góes a revelação da alma de sua gente...
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Moacyr de Góes, no dia 27 de março último, fez sua viagem definitiva nas asas do Pavão Mysterioso e deve nos olhar lá de cima. Daqui mando um abraço apertado e carinhoso para Clara, escritora e psicanalista: menina, tenha orgulho do mestre e continue a escrever. Adoro seus textos.

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