quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

UM ESQUECIMENTO INDEVIDO

Edmar Oliveira

Acompanhei, curioso, a série de reportagens de “O Globo” sobre os quarenta anos do famigerado AI-5. A cada edição rememoravam-se aqueles dias medonhos, onde todas as liberdades foram suprimidas, escancarando de vez a ditadura, mostrando que não tinha qualquer inocência o movimento militar de 64 saudado pela classe média reacionária em nome da “Tradição, Família e Propriedade”. O Estado Nacional sempre se torna fascista, a história já ensinava, quando se quer afastar o socialismo usando o ferro e fogo como instrumentos de defesa dos valores cristãos. Na medonha reunião do presidente com os poderes constituídos, para a assinatura do ato que liquidava de vez com quaisquer ares democráticos no país, é lembrada a fala de Jarbas Passarinho, ministro de governo: “às favas com os escrúpulos”. Desnudava a ditadura sem dó e piedade. Ao que se seguiu, quem viveu não esquece os horrores de um Estado violador das liberdades cidadãs.
As reportagens do jornal tentaram entender como um ato tão violento foi possível num governo que parecia ilegítimo. Não era bem assim. As matérias vão provando que o Judiciário não se contrapõe e membros influentes daquele poder referendaram o Ato Institucional imoral. A Ordem dos Advogados do Brasil, que mais tarde lutaria pelo fim da ditadura, deu apoio incondicional ao AI-5. A classe média não se incomodou tanto. Desde que a propriedade, a família e tradição não fossem assim reformuladas, pouca importância tinha o sacrifício de alguns de seus filhos rebeldes. Depois chorou, que a ditadura cortou a carne dos filhos da classe média de forma aterrorizante. O clero abençoou o dogma institucional como necessário à manutenção dos valores cristãos. E mais outras revelações de triste memória as reportagens trouxeram.
De repente parou. E eu me perguntava: “O Globo” não vai falar do apoio de “O Globo” à ditadura de então, ao Ato Institucional inclusive? O Dr. Roberto Marinho que fez seu império na sombra da ditadura e a seu favor, nada a declarar? Nem uma palavra. Como se pode esconder assim a história?
Eu, de minha memória, lembro de um ato falho do jornal. Nesta época o lema de “O Globo” era: “o jornal mais vendido do país”. Como pegava muito mal e mostrava na realidade a posição de “O Globo”, o bordão foi mudado para “o jornal de maior circulação do país”.
Mas não temos como esquecer do jornal “mais vendido” daqueles tempos...
_________________

originalmente publicado na Casa Lima Barreto, site no pé do blog. Rara foto d'O Globo. Parece que todas foram confiscadas da internet.

Nenhum comentário: