Geraldo Borges
Essa tal de reforma ortográfica feita por decreto vai mudar alguns acentos e juntar palavras antes separadas por hífens, e algumas coisas mais que eu não estou por dentro. Parece-me uma reforma semiótica que vai mexer em nosso desenho caligráfico, já tão bem familiarizado aos nossos olhos. Já pensou se os chineses dessem na telha mudar os seus milenares ideogramas. A língua é uma coisa orgânica, arqueológica, mesmo morta, continua viva, e não se muda da noite para o dia, até mesmo por causa da força do hábito. Uma nação que vive podando a sua língua, com certeza ainda não encontrou a sua identidade. Esta mudança me parece coisa da globalização Tem mais significado político do que lingüístico. Mudar a nossa ortografia vai servir apenas para facilitar a leitura dos textos das embaixadas, dos consulados, das nossas relações internacionais, dos relatórios da UNO. E para que serve os tradutores? E também por tabela será uma ótima oportunidade para os editores passarem uma rasteira na crise. Principalmente as editoras de livros didáticos e para didáticos. Novas edições de dicionários. Pelo que eu vi os jornais, a mídia, já estão certinho com a nova ortografia.
Eu de minha parte deixei claro que não vejo motivo sério para se mudar de ortografia. Podar a nossa frondosa árvore lingüística. Até mesmo por que o povo a maioria analfabeto, semi – analfabeto, já viu outras mudanças e continua na mesma, sem nenhuma ilustração. Pois o seu livro principal são os muros pichados, cheios de erros ortográficos. . Para o povo a mudança de ortografia não fede nem cheira. Pode ser que para as gerações futuras tenha outro significado Tirando os nossos acentos a nossa língua vai ficar mais parecida com o inglês OK. Mas eu prefiro o Francês. Nossa conquista cultural está visceralmente ligada aos franceses, um idioma que bate recorde em acentos, que generosidade, que sonoridade.
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Mudar a ortografia de um povo por decreto, por lei, é no mínimo muito estranho. Principalmente no momento em que o nosso presidente não liga muito para este negócio de pureza da linguagem. O importante é se comunicar. E ele se comunica muito bem. Melhor do que fazer uma reforma ortográfica seria convidar o presidente Lula para fazer parte da Academia Brasileira de Letras. Ai sim. Ele popularizaria o nosso vocabulário. Desvelaria os eufemismos. Acabaria com o plural dos substantivos e dos adjetivos, por que, quer queriam ou não queiram o nosso presidente é um homem singular.
Mas o bom mesmo deste reforma ortografia é que todo mundo mete a colher. O confrade aqui não me deixa mentir. Não sei se falei sério até agora. Pois o Brasil é um país drôler. Alguém alto e bom tom ou bom som já disse que o Brasil não é um pais sério (sériieux) viu o acento. Já pensou os franceses tirando o acento da palavra sério. Não sei se o Brasil vai tirar acho que não. O problema são os ditongos abertos e acentos diferenciais como para preposição e pára do verbo parar... Tudo vai ficar uma coisa só.
Agora que estou no fim de minha crônica confesso que vou me esforçar para atender as novas regras, lendo com bastante atenção os jornais, até porque é uma maneira de recompor a minha atenção E sabe lá se nessa busca de novidade de repente não encontre alguma coisa interessante e descubra que o importante é que toda esta papagaiada não vai interferir na substancia mais cara da língua portuguesa no Brasil, que é sua literatura, que, com reformas ou sem reformas, cada vez cresce mais no cenário nacional e internacional. Se Machado de Assis ao menos sonhar quem está mexendo no seu texto, mandará Simão Bacamarte identificá-lo e colocá-lo na Casa Verde, assim como fez com a própria mulher que estava se enfeitando na frente do espelho, além da conta.
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