quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

trëma







Como outros já fizeram, quero também me despedir do trema, cuja morte foi anunciada por decreto a partir de 1º de janeiro.













Não uma, mas cinqüenta e cinco vezes, quero me despedir desta acentuação antiqüíssima e usada com tanta freqüência.
Fomos argüidos a respeito?
Claro que não! Nossa capacidade de usá-lo foi seqüestrada para sempre.
Afinal, a ubiqüidade do trema nunca nos foi exigida.



Quem deve se beneficiar com esta tão inconseqüente medida? Creio que tão somente os alcagüetes, os delinqüentes e os que promovem a iniqüidade, justamente aqueles que não estão eqüidistantes, como nós, dos valores eqüiláteros da sociedade.



Vocês já se argüiram sobre as conseqüências do fim do trema para os pingüins, os sagüis e os eqüestres? Estes perderão uma identidade conquistada desde a antigüidade.
E o que dizer do nosso herói Anhangüera, que vivia tranqüilo com o seu nome indígena?
Com a liqüidação do trema, a pronúncia do seu nome não será mais exeqüível.



Os nossos papos de chopp nunca mais serão os mesmos, pois a tão freqüente lingüicinha acebolada vai ser adulterada.
O que vai acontecer com o grão de bico com gergilim, agora sem o liqüidificador para prepará-lo?
Ah, meu Deus! Tenha piedade de nós! Não sei se vou agüentar a perda da eloqüência, em termos de estilo literário, que o trema trazia à Última Flor do Lácio.
É preciso que averigüemos se haverá seqüelas futuras! E para onde vai a grandiloqüência dos lingüistas?
Haja ungüento para suportar tamanha dor!
O que podemos esperar em seqüência? Será que não se poderia esperar mais um qüinqüênio para que fossem melhor avaliados os líqüidos benefícios dessa mudança? Portanto, pela qüinqüagésima vez, a minha voz se une à dos bilíngües e trilíngües como eu, cuja
consangüinidade lingüística e contigüidade sintática se revolta ante tamanha iniqüidade.
Pedir que nos apazigüemos, para mim é inexeqüível, pois falta-nos tranqüilidade diante de tamanha delinqüência gramatical.



Portanto, é com dor no coração que lhe dou esse meu adeus desmilingüido.



Adeus, meu trema querido! Mas pelo menos uma coisa me apazigua, pois quando a saudade bater, sei que vou poder revê-lo quando estiver lendo alguma coisa em alemão.

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Circulando no território livre da Internet. Garimpado por Sacha.




Quanto a mim, posso testemunhar, o trëma foi o único argumento que me restou para que meu velho pai falasse tranqüilo e não tranquilo. Fiquei sem meu argumento...

Um comentário:

Anônimo disse...

Por que não tirar o h do começo de certas palavras (hélice virar élice, hoje virar oje) ao invés do trema? Não que eu não goste do h. Gosto! E muito! Ele faz toda a diferença na ervilHa e no cHocolate, que virariam ervila e cocolate sem ele. Mas o que muda para a hélice, para o hoje, para o helicóptero e para o Himalaia se ele não existisse, o tal do h na hora h? Nosso apego pelo h teria de ser trabalhado. Agora, quanto ao trema... Ah, o trema não! Quando eu ler, como vou saber que sangue se diz sangue e não sangüe e que sangüinário se diz sangüinário e não sanguinário se os dois simpáticos pontinhos não estiverem sobre o u, acenando sorridentes para nós? Triste a saída do trema e concordo com o autor garimpado: triste não sermos consultados. E por que não um referendo sobre o tema agora? Sobre o tema do trema? Eu apoiaria!