1000TON
Assunto, por demais polêmico, era discutido por jovens amigos lá pela década de 70, incluindo eu, leitores ávidos que éramos dos gibis de aventuras dos anos 50. Na época, aqui como nos EUA, nossos pais macarthistas achavam que era deseducativo esse tipo de leitura, torciam um pouco a cara quando pedíamos alguns trocados para torrar nessas bobagens, mas desde que fiquem quietos, entretidos, vá lá. Mas por que esses meninos não lêem um monteiro lobato, um hans staden?
Pior é que líamos, também, mas as historietas em quadrinhos nos facinavam bastante, Hopalong (Ropalôu, pra nós) Cassidy, Rock Lane, Roy Rogers, Zorro, e o nosso similar nacional: o grande “Cavaleiro Negro”, quer dizer, não tão nacional assim.
Anteriormente o Black Rider, da poderosa Marvel americana, era publicado aqui pela RGE (Rio Gráfica e Editora), desde 1949, na revista Gibi Mensal . Com o cancelamento da revista nos EUA, e aqui o sucesso era estrondoso, a RGE quis dar continuidade à publicação.
Chamaram, então, o desenhista Walmir Amaral de Oliveira para “recriar” o nosso Cavaleiro Negro. Só que: o nosso cavaleiro tupiniquim era redesenhado a partir do cawboy Gringo, uma publicação espanhola, ês muêle? (Google, Universo em HQ, Marcus Ramone, 08/09/2004).
Éramos colonizados e não sabíamos, porém éramos felizes... e sabíamos!
Claro que os índios eram bandidos, imagina! Mocinho é mocinho!... As roupas dos mocinhos eram maravilhosas, as mais atraentes tinham tachinhas nas calças e nas botas. E as cartucheiras duplas, ah! Bandido nenhum, nem um índio escapava, escapava, não !
Alguém já viu o chapéu do mocinho cair no chão? Numa luta, por mais ferrenha que fosse, isso nunca rolava.
Nos filmes não havia sangue nas perfurações de balas nos corpos, nem carnes dilaceradas, nem nada. Os bandidos mal encarados, baleados nos salúns, apenas se contorciam em espiral até atingir o chão, parecendo mais um balé bêbado.
Lá por essa época, dos meus doze anos, um filme, que não era de mocinho, mas me impressionou muito foi “O Cangaceiro”: estrelado pelo Milton Ribeiro (o malvado capitão Gaudino) e a bela Vanja Orico (Maria Clódia), e o Adoniran Barbosa trabalhava também. O filme era dirigido pelo Lima Barreto (Google,“Adoro Cinema Brasileiro”).
Por aquelas terras quentes do norte os homens da lei eram tão feinhos, coitados, e o bando de cangaceiros mais feiosos ainda! As roupas eram tão esquisitas, parecia fantasia de carnaval, e os soldados (macacos) ? Pra começar nem tinham cartucheiras duplas, muito menos botas bonitas, e os cangaceiros, que eram maus pra caramba, usavam sandálias, ora essa...ridículo !
Agora, em matéria de bandido, ninguém barrava os cangaceiros, até o nome metia medo, vade retro, Satan! Quando vi na revista “O Cruzeiro”, a cabeça arrancada, fora do corpo do temido cabra Lampião, eu pensei: foi crueldade muito grande, mas justiça foi feita! Só mais tarde percebi que bandido, bandido mesmo, eram os poderosos coronéis latifundiários assassinos, mas isso é outra estória.
E quem é o mocinho ou o bandido nessa velha nova guerra sangrenta na faixa de Gaza? Quanta violência! Ali jorra sangue pra valer! Como jorrou muito sangue pela caatinga nas batalhas contra Lampião.
Sangue empapou o solo americano nos massacres contra os índios cheyennes e sioux, protagonizado pelo General Custer, condecorado pelo governo americano, aquele que nos filmes e nas revistinhas de caubói, com um só tiro, matava uns três. Ainda bem que os chefes sioux Touro Sentado e Cavalo Louco deram cabo desse tinhoso e de toda a sua tropa (Wikipédia). Não vou falar nem dos nossos índios, nem dos nossos sem-terra, nem dos nossos favelados, quanto sangue, meu irmão, quanto sangue!...
Aí me dá vontade de chamar o velho cavaleiro negro pra pular o precipício, e ir parlamentar com os dois lados, e falar pra eles que essa guerra em Gaza não leva a nada e...
Peraí! Não vai dar certo isso, não! Até o Bobama, tá quietinho, pô!
Esse cavaleiro negro é oriundo lá da terra dos ianques, caubói de faroeste, pode ser é uma bush de canhão. Vai que de repente ele toma partido... e fica do lado dos israelenses. Além do mais, não cheguei a nenhuma conclusão, discutindo com os meus amigos, na época, se esse tal cavaleiro pulava precipício, ou não.
E se ele pular mesmo, vai ter que pular é um abismo!
Abismo cavado aos pés desses dois povos, dos quais um é sem-terra e o outro não.
Assunto, por demais polêmico, era discutido por jovens amigos lá pela década de 70, incluindo eu, leitores ávidos que éramos dos gibis de aventuras dos anos 50. Na época, aqui como nos EUA, nossos pais macarthistas achavam que era deseducativo esse tipo de leitura, torciam um pouco a cara quando pedíamos alguns trocados para torrar nessas bobagens, mas desde que fiquem quietos, entretidos, vá lá. Mas por que esses meninos não lêem um monteiro lobato, um hans staden?
Pior é que líamos, também, mas as historietas em quadrinhos nos facinavam bastante, Hopalong (Ropalôu, pra nós) Cassidy, Rock Lane, Roy Rogers, Zorro, e o nosso similar nacional: o grande “Cavaleiro Negro”, quer dizer, não tão nacional assim.
Anteriormente o Black Rider, da poderosa Marvel americana, era publicado aqui pela RGE (Rio Gráfica e Editora), desde 1949, na revista Gibi Mensal . Com o cancelamento da revista nos EUA, e aqui o sucesso era estrondoso, a RGE quis dar continuidade à publicação.
Chamaram, então, o desenhista Walmir Amaral de Oliveira para “recriar” o nosso Cavaleiro Negro. Só que: o nosso cavaleiro tupiniquim era redesenhado a partir do cawboy Gringo, uma publicação espanhola, ês muêle? (Google, Universo em HQ, Marcus Ramone, 08/09/2004).
Éramos colonizados e não sabíamos, porém éramos felizes... e sabíamos!
Claro que os índios eram bandidos, imagina! Mocinho é mocinho!... As roupas dos mocinhos eram maravilhosas, as mais atraentes tinham tachinhas nas calças e nas botas. E as cartucheiras duplas, ah! Bandido nenhum, nem um índio escapava, escapava, não !
Alguém já viu o chapéu do mocinho cair no chão? Numa luta, por mais ferrenha que fosse, isso nunca rolava.
Nos filmes não havia sangue nas perfurações de balas nos corpos, nem carnes dilaceradas, nem nada. Os bandidos mal encarados, baleados nos salúns, apenas se contorciam em espiral até atingir o chão, parecendo mais um balé bêbado.
Lá por essa época, dos meus doze anos, um filme, que não era de mocinho, mas me impressionou muito foi “O Cangaceiro”: estrelado pelo Milton Ribeiro (o malvado capitão Gaudino) e a bela Vanja Orico (Maria Clódia), e o Adoniran Barbosa trabalhava também. O filme era dirigido pelo Lima Barreto (Google,“Adoro Cinema Brasileiro”).
Por aquelas terras quentes do norte os homens da lei eram tão feinhos, coitados, e o bando de cangaceiros mais feiosos ainda! As roupas eram tão esquisitas, parecia fantasia de carnaval, e os soldados (macacos) ? Pra começar nem tinham cartucheiras duplas, muito menos botas bonitas, e os cangaceiros, que eram maus pra caramba, usavam sandálias, ora essa...ridículo !
Agora, em matéria de bandido, ninguém barrava os cangaceiros, até o nome metia medo, vade retro, Satan! Quando vi na revista “O Cruzeiro”, a cabeça arrancada, fora do corpo do temido cabra Lampião, eu pensei: foi crueldade muito grande, mas justiça foi feita! Só mais tarde percebi que bandido, bandido mesmo, eram os poderosos coronéis latifundiários assassinos, mas isso é outra estória.
E quem é o mocinho ou o bandido nessa velha nova guerra sangrenta na faixa de Gaza? Quanta violência! Ali jorra sangue pra valer! Como jorrou muito sangue pela caatinga nas batalhas contra Lampião.
Sangue empapou o solo americano nos massacres contra os índios cheyennes e sioux, protagonizado pelo General Custer, condecorado pelo governo americano, aquele que nos filmes e nas revistinhas de caubói, com um só tiro, matava uns três. Ainda bem que os chefes sioux Touro Sentado e Cavalo Louco deram cabo desse tinhoso e de toda a sua tropa (Wikipédia). Não vou falar nem dos nossos índios, nem dos nossos sem-terra, nem dos nossos favelados, quanto sangue, meu irmão, quanto sangue!...
Aí me dá vontade de chamar o velho cavaleiro negro pra pular o precipício, e ir parlamentar com os dois lados, e falar pra eles que essa guerra em Gaza não leva a nada e...
Peraí! Não vai dar certo isso, não! Até o Bobama, tá quietinho, pô!
Esse cavaleiro negro é oriundo lá da terra dos ianques, caubói de faroeste, pode ser é uma bush de canhão. Vai que de repente ele toma partido... e fica do lado dos israelenses. Além do mais, não cheguei a nenhuma conclusão, discutindo com os meus amigos, na época, se esse tal cavaleiro pulava precipício, ou não.
E se ele pular mesmo, vai ter que pular é um abismo!
Abismo cavado aos pés desses dois povos, dos quais um é sem-terra e o outro não.
Um comentário:
Sensacional.Muito bom recordar essas maravilhas de nossa infância !
Postar um comentário