quarta-feira, 12 de novembro de 2008

BAR DO GREGÓRIO

Edmar Oliveira

Bem ali em frente ao monumento que a prefeitura ergueu em homenagem ao Gregório. Bem em frente a esta tragédia da morte do motorista Gregório, que Geraldo Borges arruma maravilhosamente aqui na edição anterior do Piauinauta, ficava o Bar do Gregório. Preste atenção, Neto de Deus, você que tão bem advogou a causa do Parabelum na mão! No bar, mistérios não tinham. Cachaça, conversa, paca, tatu, cotia não. Isso era Gregório. O cabra montou um bar pra faturar os devotos ou as almas do Gregório. Fui um deles. À procura de bar na madrugada me dei por fim no Gregório. Bom de papo, mesa de sinuca, cerveja estupidamente gelada, que em Teresina sai do saco de farinha: empoada! Se assim não for gelada, não se bebe. E paca, tatu, toda sorte de caça e conversa lá tinha. Uns amigos meus até fizeram músicas em bar pro Gregório. Pegou fama. Toda vez que ia a terra minha, me fazia em mesa de conversa no Gregório. E nas iguarias da terra, que isso era antes de se ter que ser politicamente correto. Era que na minha infância, capivara nadava no rio, paca corria na mata, tutu tirava-se do buraco. Claro que sei, não venham me dizer, que contribuí pra extinção das espécies, que o planeta ficou pequeno. Mas eu é que não sou culpado de tudo. Nem o Gregório. Pois é, o dono do bar, converseiro que só, aceitava ser chamado de Gregório, capitalizando o monumento e os milagres, ali em frente.


Um belo dia, volto em férias na terra e me dirijo ao Gregório. O bar de frente ao monumento. Tava caidaço! Quase ninguém, uma tristeza pelas pontas. Waldick cantando lá na vitrola. Quis a mesma alegria de outrora. A cerveja, a conversa e a comida. Aí morava a confusão. A cerveja tava gelada, a conversa tava morna, a comida não tinha. Gregório me fala que seu negócio chegara ao fim. Uns fiscais do IBAMA lhe multaram e proibiram as caças das melhores comidas que provei. Também fiquei triste, mas entendia a preservação e a razão de ser daquelas ações. Tentei consolar Gregório. Em vão. A revolta era grande. Me contou porquê. Os fiscais chegaram e pediram um tatu. Saborearam e tomaram cerveja. Só depois se identificaram e aplicaram a multa e prenderam o Gregório. A revolta do Gregório é que metade da prova tava na barriga dos fiscais. Desejei que um verdadeiro milagre do motorista Gregório fizesse aqueles fiscais cagarem água. A cacaneira é a única vingança que se deseja aos falsos de coração...

Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo Edmar, a lenda diz que o moço antes de ser executado, passou muita fome e sede. Pois bem: e ainda ter que conviver, com o barulho dos cascos de cervejas e com o cheiro gostoso de tatu ao leite de coco ou assado na brasa; escutar todo tipo de babaquice a respeito de sua santidade? Aí foi pedir demais para um santo. O Gregório do bar foi caguetado pelo xará.