quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Abolição da escravatura: Brasil - EUA

Geraldo Borges


A princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Foi aplaudida. Mesmo assim a história é mais objetiva que o sentimento das pessoas. E se formos ver com clareza o processo da Abolição da escravatura no Brasil, vamos ver que a Abolição começou na verdade com a iniciativa da Inglaterra, movida por interesses econômicos da chamada Revolução Industrial. A Inglaterra já estava de olhos no mercado brasileiro desde a vinda de Dom João VI para o Brasil.

A luta pela Abolição, oficialmente falando, começou pela lei instituída na Inglaterra contra o Trafego Negreiro, em 1850. Pressionados pelos abolicionistas o governo cria a lei do Ventre Livre, em 1871. As crianças nascidas a partir desta data seriam livres. Os pais que cuidassem delas. Os patrões lavavam as mãos. As crianças deixavam de ser escravos, mas para sobreviver teriam de ser agregados de algum latifundiário.

Depois veio a Lei do sexagenário, em 1885, quer dizer, os escravos com a idade de sessenta e cinco anos, que tinham envelhecido no cabo da enxada, no engenho, no eito, agora podiam descansar, morrer em paz, já que não acrescentavam mais valor para o patrão: era peso morto.

Com essas duas leia gradualmente a Escravatura foi sendo abolida através de um processo biológico e demográfico, quer dizer, a população escrava tendia cada vez mais a desaparecer, acrescentando, também as alforrias que ias acontecendo. Claro que a Lei do Trafego Negreiro não era comprida à risca, mesmo assim, serviu em parte para inibir a vinda de mais negros da África.

A elasticidade de nosso processo de Abolição da Escravatura ficou tão poroso que os escravos receberam a festa da Lei Áurea, sem muita perspectiva para um futuro imediato. As crianças do Ventre Livre estavam agora com dezoito anos, apenas com o direito de ir e vir, e se agregar em alguma fazenda. Os velhos estavam morrendo. E deixaram uma geração de mão de obra domestica mal paga por este Brasil a fora. O governo deu-lhes liberdade, mas não lhe deram terra. Liberdade sem propriedade não existe. O problema até hoje continua. Os donos do Brasil preferiram os imigrantes europeus para cuidar da lavoura.

Acredito até que não havia mais escravos efetivamente quando a princesa assinou a Lei Áurea, que tudo não passou de uma pantomima oficial, com discursos e fogos. Casso existisse a porção era tão mínima, que eles quase nada representavam para acrescentar valor na economia, a não ser a de subsistência. Mesmo assim a herança da escravidão continua sendo um dos maiores estigmas culturais que carregamos. Pois teimamos em disfarçar uma cor que pulsa em nosso sangue, já que grande parte dos filhos dos latifundiários tinha, como ama de leite filhas de escravos..

Já nos Estados Unidos a libertação dos escravos correu de modo diferente. A escravatura concentrava-se no sul dos EUA. Alguns romances de Mark Tawin e Faulkner mostram muito bem como foi a escravidão naquele país, principalmente às margens das cidades do rio Mississipe, a Cabana do Pai Tomas, de Harriet Beecher Stowe, publicado em 1852, é uma referencia importante para se conhecer o cenário humano da escravidão nos EUA. Lá que se saiba não foi a Inglaterra quem forçou a Abolição, o problema era mais da unidade interna do país.Os Estados Unidos do Norte queriam expandir sua economia, criar um forte mercado interno, e acabar com a classe dos aristocratas rurais do sul que viviam da exportação de tabaco e algodão principalmente, a custa da mão de obra escrava..Em represália os estados do Norte os sulistas ameaçaram criar os estados Confederados da América, isto foi o estopim da guerra. A leitura do romance, E O Vento Levou, contribui bastante para se entrar nas paginas da história do sul escravista.

O mais importante da Abolição da Escravatura nos EUA é que ela foi feita a partir da deflagração de uma guerra, comandada pelos brancos, claro que com a participação dos negros. Em 1859, um levante de escravos foi reprimido na Virginia e seu líder John Brow foi enforcado, transformado - se em mártir do movimento abolicionista...

Enquanto isso, em 1865 o Brasil estava lutando na Guerra do Paraguai como espoleta da Inglaterra, fazendo parte da Tríplice Aliança, junto com a Argentina e Uruguai. Nessa época o governo oferecia alforria aos negros que se alistassem para a guerra. Claro se voltasse vivos. Muitos deles eram obrigados a tomar o lugar de filhos de latifundiários, que eram recrutados. Uma boa parte da população negra foi dizimada.

Para resumir a diferença entre a luta pela Abolição da Escravatura nos EUA e no Brasil, é que, no Brasil o escravismo caiu de podre junto com o Segundo Reinado, após um refrigério aqui, outro acolá. E nos Estados Unidos, constitui-se em uma saga de bravura. Juntamente com a Abolição da Escravatura nos Estados Unidos procederam-se certos Atos importantes como a do Homestead Act que fornecia 160 acres de terra a todos aqueles que cultivassem a terra durante cinco anos, enquanto no Brasil existia uma lei estabelecendo que só poderia adquirir terra quem pudesse comprar.

Terminada a Guerra Civil Americana, Os Estados Unidos restabeleceu a sua unidade economia e territorial, e continuou se expandindo, Depois da guerra teve de lutar contra o preconceito racial avassalador preconizado pela Ku – Klux – Klan.

Hoje coroando a sua luta, apresenta ao mundo um presidente negro.

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Geraldo, o velho professor de História nos brinda com aula no dia de hoje.

3 comentários:

Anônimo disse...

Me ajudou um pouco mas ñ muito. ¬¬

Anônimo disse...

Permita=me um comentário... há equívocos imensos nas duas questões, tanto Abolição quanto Guerra do Paraguai.
Os brasileiros costumam pensar que nossa História move-se apenas sob pressão da velha Inglaterra, e não é assim.
A Abolição aconteceu gradualmente por um motivo: foi feita dentro da Lei. E quem fazia as leis eram os parlamentares da época. E sabemos que o Brasil era um país agrícola, e os políticos eram representantes dos fazendeiros. A maior pressão para a Abolição não veio do estrangeiro, e sim dos bravos abolicionistas como Rui Barbosa, José do Patrocínio, André Rebouças, Joaquim Nabuco, e a própria Princesa Isabel. A Monarquia caiu porque a Princesa "forçou a barra" para que a Lei Áurea fosse aprovada. A República dos fazendeiros engavetou o projeto para assentamento dos ex-escravos e os empurrou para as favelas.
Sobre a Guerra do Paraguai, também há um grande engano. Essa antiga versão de que "a Inglaterra mandou atacar o Paraguai porque tinha medo da concorrência" já caiu no ridículo faz tempo... só lembrando que na época, o Brasil estava de relações cortadas com a Inglaterra; e o Paraguai não era um país progressista e rico, coisa nenhuma, era sim um país pobre dominado por um tirano e só tinha uma coisa: um bom exército armado e treinado. Um exército seis vezes mais poderoso do que o do Brasil.
Obrigado pelo espaço.

Anônimo disse...

Só completando a questão: Na época da Monarquia existiam pelo menos dois projetos para assentamento dos ex-escravos, o mais polêmico era do mulato André Rebouças, engenheiro do Império: seu projeto era tomar a terra das fazendas e dividir entre o fazendeiro e os ex-escravos. André Rebouças era amigo pessoal da Princesa Isabel e foi embora do Brasil quando aconteceu o Golpe Militar do Marechal Deodoro.
O outro projeto era de um Senador do Império, que previa o assentamento dos ex-escravos nas terras públicas ao longo das ferrovias.
A República não fez nada disso. As terras ao longo das ferrovias foram exploradas por um empresário estrangeiro.