sábado, 9 de fevereiro de 2008

Visita

p. j. cunha

Última Flor sabia que a hora se aproximava. Mas não se ouvia rumor, leve que fosse. Balançou-se apreensiva, com aquele jeito das flores se balançarem, quando ficam nervosas. Empalidecia a olhos vistos. Mas, vaidosa, cuidava-se. E com ajuda do vento afugentava insetos, sacudia as folhas secas ao chão e procurava manter-se com um mínimo de frescor, já que a beleza lhe fugia. Ele viria, tinha de vir, nem que fosse pela última vez.

Enrubesceu ao ouvir o ruflar que conhecia tão bem. Ele! A palidez sumiu. Estremeceu de gozo diante da elegância com que se aproximou, fazendo-lhe a corte. Como um mestre-sala, rodopiou a seu redor, antes de beijá-la. Ela adorava a ternura de seu beijo, durante o qual sugava-lhe o néctar. Emocionou-se, mas conteve-se. Não queria que a visse chorando. Cumprimentou-o e agradeceu a visita curvando suavemente o caule. Ele fez uma mesura de despedida e começou a se afastar, num vibrar de asas. Ela esperou que ele se distanciasse. Só quando teve certeza de que ele não perceberia, foi que deixou cair a primeira pétala.

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PJCunha. candango piaunauta do Planalto Central, em Conto Mínimo... EXelente!....

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado