Geraldo Borges
Entrei em um shopping. Tinha ido com minha mulher e meu filho fazer umas compras. Primeiro comprei uma luminária em uma loja do ramo. Ia servir para meu filho estudar de noite. Depois saímos para uma livraria a fim de comprar um dicionário de Inglês, e, eventualmente, algum romance que me chamasse a atenção. Quando entramos na livraria eu fui logo me apercebendo que não era uma livraria normal. Fiquei chocado. Pensei que estivesse pousando em outro planeta.
Lembrei-me que em minha cidade natal, que fica na linha do Equador, eu costumava freqüentar livrarias, que, naquele tempo, era uma casa cultural. A gente conhecia o dono, batia papo com ele, tomava café, conversava sobre os últimos lançamentos editorias. Os fregueses entravam lá sabendo que iam encontrar livros, apenas livros.
Ali onde eu estava, era tudo diferente. Os livros pareciam dizer: o que nós estamos fazendo aqui, no meio destas mercadorias tão estranhas, que não dizem nada, que não têm conteúdo. Não que as desclassifiquemos. Mas uma livraria tem que ter uma atmosfera própria, como um templo, uma biblioteca. Os livros pareciam humilhados, com as faces expostas no meio de outras mercadorias.
Está se vendo que não se trata de uma livraria tradicional; se eu fosse listar os tipos de mercadorias, exposta ali, encheria mais de uma resma de papel. Estava meio perdido no ambiente. Não me sentia realmente dentro de uma livraria. Comecei a ficar agoniado. Até que me deparei com um globo geográfico, bem grande, encaixado em uma armação de bronze, fácil de manusear.
Comecei a olhar o mundo para me distanciar da livraria. Vi os mares e os continentes. E não sei bem o porquê, olhado os EUA, o seu tamanho, a sua envergadura do Atlântico ao Pacifico, pensei com os meus botões: nós, que gostamos tanto de imitar os Estados Unidos, devíamos ter ido mais longe, chegado ao Pacifico. Hoje, toda a América Latina seria nossa, com exceção do México, as Guianas e o Caribe. Carlota Joaquina ainda tentou abocanhar o Uruguai. Agora é tarde. Estes pretensos pensamentos geopolíticos passaram rapidamente por minha cabeça. Eu estava meio atordoado dentro daquela livraria. Precisava sair dali. Com certeza, os vendedores não entendiam nada de livros. Quer dizer, se eu quisesse conversar sobre literatura não teria feedback. Se eu perguntasse para alguns deles se conheciam Kafka, se já tinham lido Kafka estaria cometendo um absurdo.
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Geraldo Borges, descobrindo, em pleno pantanal, que as livrarias já não são as mesmas. E eu estava lendo outro dia que vão lançar o e-paper, espécie de parafernália eletrônica flexível como papel, capaz de receber o jornal do dia ou o livro preferido, tudo eletrônico... (Edmar)
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