Geraldo Borges
Expresso-me nesta pequena crônica, não como um simples leitor, não como critico literário. Mas, sem pedir desculpa pela minha falta de modéstia, acrescento que tenho uma longa experiência de leitura de prosa e poesia, sei distinguir um texto valioso de um texto ordinário, traduzindo: tenho bom gosto. Alguém perguntará. Para que todo este intróito? Explico. Simplesmente para falar a respeito do livro – Impressões sobre os “Caçadores de Prosódia” do poeta Durvalino Filho.
Recebi-o de sua mão no ano de 2000, quando estive em Teresina, com seu autografo. Estranho livro.. Não tem orelhas, mas é um livro atento, não tem uma apresentação, quero dizer, uma apresentação do editor, ou de um critico literário. O livro por si dispensa apresentação. Talvez o poeta tenha dispensado esse procedimento editorial. O leitor vai direto ao livro. Não passa por porteiras. Não entra influenciado por opinião de ninguém.
Publicar poesia em uma província como Teresina, principalmente no século passado era uma temeridade, embora a capital do Piauí esteja sempre cheia de poetas, mas cada qual dentro de sua igreja. Mesmo assim uma coisa que me deixou admirado em seu livro é que ele chegou a segunda edição, o que quer dizer que foi lido. Coisa rara para quem publica poesia no Piauí A edição que eu tenho é a segunda de 1995.
Descobri que ler o poeta Durvalino Filho é fazer uma viagem pela intertextualidade da literatura brasileira, não só brasileira E, muito embora, Durvalino tenha escolhido Teresina para morar, viajou e morou em outras capitais do Brasil E teve alhures experiências; o seu livro não reflete um poeta provinciano. Sua poesia espelha um período de transição cultural dos ásperos tempos, que nossa geração teve de enfrentar; e, para isto, teve de mudar de linguagem, criando metáforas bizarras. Como se pode conferir, o seu livro é o resultado de sua experiência política – cultural, exercida, e compartilhada ao lado de seus companheiros, que redigiram o jornal “O Gramma”, veiculo de comunicação que marcou o rumo de um grupo de jovens que se manifestaram culturalmente contra o regime militar.
Se formos prestar nítida atenção nos detalhes, nas entrelinhas dos seus versos, sua obra é um leque aberto, e abarca escolas da nossa literatura, desde o barroco passando pelo modernismo, até mesmo, chegando ao concretismo, como se num fôlego só procurasse abarcar todas as nossas expressões literárias; E, como eu falei no começo, dado aos meus séculos de leitura, vejo que Durvalino também leu muito e aprendeu com poetas tais como: Camões, Gregório de Matos, Fernando Pessoa, Lorca, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Drummond, Sá Carneiro, Torquato, Mario Faustino, e mais. O poeta é também letrista, habilidade afluente de alguns poetas. Não é toda poesia que se encaixa em notas musicais.
Na verdade, o livro de poesia do Durvalino, é composto de vários livros, com subtítulos. A vantagem e que você pode abri-lo em qualquer página e se deleitar; isto é o que é bom na poesia. Mas para terminar as minhas leves impressões sobre a leitura de “Os Caçadores de Prosódia” acabo de abrir o livro na página 195. E movido de grande interesse começo a ler a poesia LET’ POETRY, oferecida a Drummond, Torquato e Faustino(in memorian) A poesia ter relevo para ser transcrita.
também conheço um anjo
de rara envergadura
anjo também louco
anjo com sexo de anjo
arcanjo de asa dura
um ser de ouvido mouco
ao tanger real do meu banjo
e ao clamor sem fim do corpo
anjo cruel
que me avisa
com sua asa de ouropel
vai duda
não liga se a morte
é carrocel
vai ser boing na vida.
Se o leitor possui o livro do poeta, parabéns, se não, vá atrás, entre em contato com um dos maiores poetas piauiense, contemporâneo. É ler e conferir.
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Geraldo Borges, piauinauta pantaneiro, ataca de crítico literário. Pra quem duvida, é ler e conferir: logo aí embaixo tem Durvalino.
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