quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Brinquedo Novo

Edmar Oliveira

Para escrever estas primeiras palavras gastei muito tempo. Primeiro o aprendizado com a máquina e os novos instrumentos. Mais difícil que amansar burro brabo no sertão. Se você não entendeu a comparação, faço outra ao seu alcance: mais difícil do que fazer carioca deitar numa rede. Quem já assistiu à cena inusitada não esquece. Tava eu meio assim enrolado com o brinquedo novo. E não conseguia fazer grandes avanços, apesar de me considerar um velho do século passado que conseguiu se adaptar às novidades da informática sem brigar com ela. Mas confesso que vez por outra o aperreio é grande. As coisas mudam numa velocidade maior que a minha capacidade de adaptação. O mouse do novo brinquedo não foi tão difícil de aprender. É suave como passar a mão na pele macia de uma moça. Acho que este é uma computadora, como se diz em espanhol. É muito arisca, temperamental, as teclas ssssssssão tão rápidas que se demorar o dedo onde não deve ela se repeteeeeeeeeee como a gritar. A tela brilha mais que olho de gazela na noite escura. E os documentos, como este que escrevo, são estreitos, meio enviesados ou oblíquos, como os olhos de Capitu. Mas eu tendo a me acostumar com conquistas difíceis. Fico atocaiando até o rendimento final, aí já não interessando se é por cansaço, costume ou paixão tardia. Tendo a entender a letra C por pura vaidade e auto-estima. O som que ela faz é de um agudo muito irritante. Sabe aquela moça bonita da voz chata? Mas a gente pode baixar ou desligar o som, o que se traduz em grande vantagem. O silêncio dela é eloqüente e o barulho do teclado, no silêncio, lembra a matraca das teclas da minha velha máquina de escrever e sinto a saudade do passado, quando aquela era uma máquina nova, bonita, elegante e a última invenção da tecnologia analógica do século passado. Quase como se fosse a lembrança da beleza juvenil daquela primeira professora, que hoje é bem mais velha do que eu e que prefiro a lembrança da beleza na memória. Viram como sei encher de nostalgia a memória de minha computadora moderna? E ela tem memória pra dar e vender no seu disco rígido. Não é esse seu problema. O problema nem é seu, pensei. Acontece que nesse mundo moderno tudo tem que estar ligado na tomada. Em noite de temporal nem me atrevo a chamá-la para me consolar com o rabo preso na tomada. Veio com uma bateria, mas que, que nem a de celular, desliga no meio de uma conversa e deixa você falando sozinh...

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