terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Vocês conhecem pitomba?





Edmar Oliveira

Da última vez que fui na terra fiquei meio encasquetado com essa festa da uva, acontecida anualmente no município de São João do Piauí. Tá bom, entendo os efeitos da globalização. Bem antes, por se beber vinho em clima frio, lá se plantava a uva. Só que tinha que ser num canto em que fazia frio, mas que tinham quentes verões para a produção da uva. Tipo sul da França, Portugal, Itália, norte da Argentina e, entre nós, o Rio Grande do Sul. Com a globalização se plantam uvas no melhor solo quente de qualquer lugar do planeta e se leva para beber no frio. Tanto que Petrolina, em Pernambuco, tem um pólo vinícola produtor, com vôos semanais para a Europa fria. Eu não sei se São João do Piauí chega a ser Petrolina, mas aí não competiria com meu irmão pernambucano. Será já hora de novo pólo? Sei não. Me parece mais esse negócio de que para ser reconhecido nós também podemos ser iguais aos grandes que comem uva e maçã. O velho complexo de vira-lata nelsonrodriguiano, que no Piauí vira complexo do bode. Lembram que custou para que o nosso bode, que se comia em casa, chegasse aos restaurantes piauienses por pura vergonha? Agora não, já nos orgulhamos do carneiro! Mas, péra aí, carneiro não é bode e cabrito é iguaria portuguesa também. Vamos botar a mesa sem preconceito...

Essa história da diferença de bode e carneiro vai noutra crônica, nessa vamos ficar nas frutas. Como ia a dizer, eu fico meio encasquetado com a festa da uva. Porque não um festival de guabiraba, de sapoti, de mangaba, de buriti, de goiaba, de caju, de umbu, de cajá, de bacuri, de pequi, de bacupari, de jenipapo, de sapucaia, de jaca, e de tanta fartura das nossas frutas que podem ganhar sabor no mundo...

Me lembro daquela brincadeira de bombaquim que para saber com quem ficávamos tínhamos que escolher entre pêra e maça. Eu não conhecia nem uma das duas e chutava mesmo. Porque não podemos brincar de “vocês conhecem pitomba?”. Ia ser uma festa de arromba. Lembrei de escrever essa crônica enquanto saboreava um “cacho” de pitomba e vi que tinha esquecido do gosto...

2 comentários:

Sergival disse...

Ora, pitombas!!!
Alguns amigos se aborrecem comigo quando digo que a transposição deveria ser para plantar mangaba, jenipapo, umbu, araçá e... pitomaba!!! Claro que essa pequena lista só para não me estender no campo das frutas que povoam nossas reminiscências sertanejas.
Às favas, esse séquito de pensamento neoliberalista, que no afã de globalização quer nos empurrar goela abaixo a pêra, maçã e a uva no Nordeste, e de quebra suas festas de colheita, posto que não celebram o suor de quem botou a mão na terra, nem nosso folclore, tão pouco vai fazer parte da mesa na roça (Eu inda tô pra ver um vaqueiro, de chapéu e gibão, puxar do bornal um cacho de uva no meio da caatinga. "O sertão vai virar mar e será o fim dos tempos" - Antº Conselheiro. Por falar em favas, se a proposta é matar a fome com os tais canais, fava no bucho do sertanejo, macacheira (que já oferece pratos sofisticados nos grandes centros), milho, e pra fechar o parágrafo, mandioca ("Se farinha fosse americana,...
banquete de bacana" - Juraildes).
Certo você, meu caro Edmar, em futucar o complexo do bode, do carneiro, do cabrito, botando à mesa sem preconceito na nave do Piauinauta.
Sergival.

Luciane disse...

Existe coisa melhor que jaca dura, sorvete de bacuri, licor de genipapo, suco de umbu?
O nordeste nos abençoa com suas frutas, graças a deus!
Linda crônica Edmar. Concordo plenamente.
Bjs,
Luciane