quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Ovo do Corvo

1000TON

A favela é, realmente, a nova senzala. O Favela Bairro, portentoso programa social (atualmente investigado pelo Ministério Público), criado para atender à população carente, no fundo, no fundo, foi só maquilagem. Na parte da frente as melhores casas e comércio local, próximos da entrada das comunidades, favorecidos com meio fio, asfalto, iluminação, água e esgoto, pracinha bucólica, cheirando a cenário do Projac/Globo.

Nos fundos, no fundo, morro acima, em difícil acesso, os mais distantes barracos, babau! Chama-se isso, político-eufemisticamente, de “inclusão social”, ou melhor dizendo, “capitalismo solidário”?

Gastou-se um dinheirão público com essas “melhorias” e os habitadores mais pobres continuaram socados e desassistidos nas suas pocilgas. Ah! E a nova classe média do pedaço, os habitantes da frente, tida como “C” e “D” pelos nossos pesquisadores especializados, aplaudiu, tanto é que manteve o César Mala e seu redondo lacaio Fruta do Conde no poder, com o poder do seu voto, durante doze longos anos!

Assistidos por essas benesses, os emergentes moradores, começaram a fazer cara de nojo pro pessoal dos fundos. Pô! Tem que tirar esse pessoal daqui, ou removê-los para outro lugar, esquecendo-se de que, quando lá se estabeleceram, também sofriam forte pressão para se mandarem dali , lutando contra a PM e seus pastores alemães, contra tratores vorazes e o escambau...

Juntando-se aos aqui representados pelos emergentes das comunidades, agora pertencendo às “classes do asfalto”, aqueles do Nós-pagamos-mais-impostos, as classes “A” e “B”, necessitando da utilização dessa mão- de- obra barata, não compensa mantê--los por perto? Compensa sim, desde que esses mais caidinhos fiquem longe daqui. Mantenhamos só os mais limpinhos por perto, os caidinhos a gente manda pra bem longe, ô raça!

Pobre rico Rio de Janeiro! O Conde Fruta, tentando “completar o serviço”, como arquiteto que sempre foi das elites, quis colocar muros ao redor das favelas. Não conseguiu, porque logo depois esse gordo cuspiu no prato de porcelana do Ao-César-o-que-é-de-César e teve que adotar o Antônio Menininho, mais a sua companheira a Erva Rosinha Daninha, os quais não concordavam com o gueto murado.

Reunidos em torno da Igreja cognominada “Rejuvenescer em Jesus e Ficar Igual a um Garotinho”, acabaram dando com os burros n’água, ou melhor, dando com os chifres nos muros que o Eduardinho Paes, o garotinho da Barra, conseguiu, finalmente, levantar para ver se recuperava os votos da burguesia da Zona Sul, que o Goiabeira, digo, Gabeira tomou dele (aliás, esse menino, o Edubabaquinha teve pouquíssimos votos na zona sul, engraçado!).

BERLIM DERRUBOU OS MUROS! Eu sei, eu sei, mas só os muros, o lado oriental dá pobrema , o ocidental come caviar, e, aqui, o Paespalhão juntamente com o Me-dá-Um- Cabral-Aí levantam um novo muro em pleno século 21! Caraca!!!

“Melhor” fez o Carlos Lacerda que mandou toda a ralé indesejável para a Baixada do Cacete, ou pro Cu da Zona Oeste, ou pra Onde Caxias faz a Curva, ou pra Onde São João de Meriti Perdeu as Botas, ou pros Confins Onde o Padre Miguel vai Rezar Missa, regiões essas que continuam com carência de serviços essenciais até hoje: transportes, água e esgoto, iluminação, hospitais e postos de trabalho.

Isso tudo começou lá pelos anos 60, quando “O Corvo”, e sua “Dama de Ferro” Sandra Cavalcante, à medida que desovavam mendigos no Rio da Guarda, iam empurrando para a Faixa de Gaza carioca os pobretões irrecuperáveis.

Vamos deixar de frescura, Lacerda conseguiu botar o ovo do corvo em pé! A ultra-direita lá já tinha a sua fórmula infalível, a política de resultados, traduzida assim:

Manda os caidinhos pra os alhures que os pariu e deixa os mais limpinhos por perto, sub-empregos para todos, e strawberry-burguesia-fields-feliz-for-ever!...

“Let me take you down, ‘cause I’m going throw………”

Um comentário:

João de Deus Netto disse...

1000Ton, cadê você, meu tovarich?
Aqui em Curitiba tem um dito popular carregado de orgulho e nariz empinado que diz: "eu morro e não vejo tudo!".
PS. "Orgulho" não estava nos meus planos, mas...