Carlos Augusto de Araujo Jorge
Deitado, suado, surrado, chapado.
Magrela, teimoso, ausente, banguela.
Está vivo? Está morto? Ou apenas dopado?
É um corpo, ao relento sem cobertas, sem velas.
É uma rua, é passagem com povo e não vê...
Passam carros, ambulâncias, polícia e gente.
Tem um corpo estendido, inerte e pra quê?
Ninguém vê, ninguém olha, inexiste, não sente.
Ao lado acolhem-se bichos, é digno e tem seu valor...
D’outro lado a lixeira, são dejetos, fedor.
Em sua frente uma UPA, que parece não ver...
Essa pobre criança em seu desfalecer.
Ao seu lado a cruel companheira... a pedra.
Que o alucina e conforta em busca de qualquer prazer.
Deste canto não arreda tal qual fosse a sina.
De alguém que não vê a razão do seu ser.
Tem família? Com certeza. Só não pode ir mais lá.
Tem amigos? Ignora, o da vez vai chegar.
A doença, a moléstia? Já não sabe nem viu...
Muita sede e fome com certeza sentiu.
Essa criança sou eu, é você, somos nós...
Que ingênuos, pensamos quão longe é o mal
Mas são tantos os outros cracks que nos chegam, destino atroz!
Que nos chapam e nos deixam num egoísmo fatal.
Lá na frente é a raiva, um vazio sem vida
Com certeza, bem logo a cobrança virá.
Nossos Eus destroçados, emoções descabidas
Vagarão nas vielas onde jamais pensaríamos estar.
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