Geraldo Borges
De repente, ao passar pela praça da Bandeira, vi, ao pé de uma estátua, a figura de um amigo, vestindo calça e camisa vermelha. Há mais de três anos eu não o avistava. Pois fazia muito tempo que eu não voltava a minha cidade. Agora estava de volta, sentido o clima, tentando ver se valeria a pena voltar de vez, para sempre, ao meu berço natal. Notei, que, meu amigo, mesmo olhando para mim, não deu sinal de vida.
Na verdade, quando o vi, achei-o velho, decrépito, duvidei que fosse ele. Tomei um susto. E não fiz nenhum movimento para me aproximar dele e cumprimentá-lo. Olhei para ele disfarçando e como não vi nenhum brilho nos seus olhos encravado em seu rosto, pálido, desisti, e arrepiei caminho. Se fosse mesmo o meu amigo, teria correspondido o meu olhar e me dirigido a palavra. Mas que parecia com ele, parecia, descontando um pouco as feições envelhecidas.
Ele ficou para trás, escorado, na estatua de um morto famoso.
De repente me deu vontade de mijar. Se estivesse em Roma, rapidamente teria mijado, por que lá existem muitos banheiros públicos entre suas velhas ruínas, e até as estatuas se dão ao prazer de mijar ornando lindas fontes. Mas eu estava em Teresina à margem do rio Parnaíba. Calor quarenta graus.
Procurei um banheiro fora da praça, em um bar. Não foi fácil. Finalmente encontre-o De bexiga aliviada retorno para a praça pelo mesmo caminho.
De repente tomo um susto de novo. Agora é o meu amigo mesmo de verdade que está ali. Não é uma alucinação, embora o sol esteja quase derretendo a minha moleira. Só que não está mais perto da estatua. Está sentado em um banco. Eu o vejo e o reconheço. Chamo-o por seu nome e me aproximo dele. Dou-lhe um forte abraço. Aí conto - lhe minha história recente.
- Não podia ser eu mesmo. Cheguei aqui agora.
Digo-lhe que a única diferença é que ele está vestido de preto, o outro estava de vermelho.
Começamos a recorda a nossa infância e adolescência na rua Campo Sales. Eu falei que estaria voltando para a cidade onde moro, na quinta feira, dia 30 de outubro. Estávamos no dia 25. Ele pediu o meu telefone para telefonar no outro dia e marcar um encontro para tomarmos umas cervejas. Até me perguntou se eu ainda bebia. Ele também me deu seu telefone. Despedimo-nos. Como estava de preto eu pensei que estivesse de luto de alguém. Mas preferi não perguntar.
Passaram-se três dias. Nada de meu amigo me telefonar. Resolvi ligar para ele. Atenderam de uma agencia funerária. Perguntei por ele.
- O Fausto?
- Sim. O Faustino.
- Está morto. No cemitério.
- Que dia ele morreu?
- Amanhã é sua visita de cova.
Bati o telefone, sem entender nada. Depois deste acontecimento resolvi que não voltarei mais a Teresina nem a passeio. Pois toda vez que chego nessa cidade tenho noticia da morte de um amigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário