domingo, 6 de março de 2016

Recordações urbanas

foto: Paulo Tabatinga

(Geraldo Borges)

            Era aqui na esquina. Existia uma casa  construída em madeira de lei. Foi a casa mais linda que eu já conheci em toda a minha infância. No terraço havia um grande pé de tamarindo, que espalhava uma enorme sombra pelo chão, e atraia os passarinhos. Quando eu voltava da escola costumava parar defronte da velha casa e imaginar como se comportavam as pessoas que moravam ali. Nunca vi ninguém entrar ou sair de seus umbrais. Às vezes a casa me parecia um grande barco ancorado. Tinha uma chaminé. Mas, pelo que me recordo nunca vi fumaça saindo dali.

 O tempo passou. Um dia, já na minha mocidade, me ausentei. Quando voltei, vi muita coisa diferente na minha velha cidade. O rio do tempo havia levado a casa. Para começar uma cidade nova estava sendo  edificada sobre as ruínas da minha velha cidade, sem nenhum planejamento, simplesmente ao sabor da especulação imobiliária.

            Percorri antigas ruas, e comecei a sentir a ausência de muitas  casas. A maioria foram  derrubadas para dar lugar a estacionamentos. As ruas de macadame  tinha dado lugar ao asfalto. O andar das pessoas tinha mudado de ritmo. Andavam  apressadas, como se tivessem hora marcada para assinar um cheque.

Era aqui na equina, quase defronte ao Karnak que havia um grupo escolar, num prédio antigo, bem característico da arquitetura da época em que a cidade foi edificada. Virou estacionamento. Se você  começar andar pelas ruas de Teresina, a velha Teresina antiga constatará que a mesma virou uma colcha de retalho construída por um arquiteto esquizofrênico.


            Há momentos em que me sinto perdido pelas ruas da cidade. Os velhos prédios  que me serviam de referencia quando eu me dirigia para casa desapareceram. Minha geração também esta desaparecendo, e com ela as casas de seus pais. Hoje mesmo passei pela Rua Campos Sales, e vi no endereço 1782, onde passei  minha infância e juventude, apenas o terreno limpo, sem uma mangueira,  pronto para uma nova construção.É isso aí. Cada  cidade tem  seu tempo e sua história. E o futuro a transforma-se em ruínas. 





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