(Geraldo Borges)
Era aqui na esquina. Existia uma
casa construída em madeira de lei. Foi a
casa mais linda que eu já conheci em toda a minha infância. No terraço havia um
grande pé de tamarindo, que espalhava uma enorme sombra pelo chão, e atraia os
passarinhos. Quando eu voltava da escola costumava parar defronte da velha casa
e imaginar como se comportavam as pessoas que moravam ali. Nunca vi ninguém entrar
ou sair de seus umbrais. Às vezes a casa me parecia um grande barco ancorado.
Tinha uma chaminé. Mas, pelo que me recordo nunca vi fumaça saindo dali.
O tempo passou. Um
dia, já na minha mocidade, me ausentei. Quando voltei, vi muita coisa diferente
na minha velha cidade. O rio do tempo havia levado a casa. Para começar uma
cidade nova estava sendo edificada sobre
as ruínas da minha velha cidade, sem nenhum planejamento, simplesmente ao sabor
da especulação imobiliária.
Percorri antigas ruas, e comecei a
sentir a ausência de muitas casas. A
maioria foram derrubadas para dar lugar
a estacionamentos. As ruas de macadame
tinha dado lugar ao asfalto. O andar das pessoas tinha mudado de ritmo.
Andavam apressadas, como se tivessem
hora marcada para assinar um cheque.
Era aqui na equina, quase defronte ao Karnak que havia um
grupo escolar, num prédio antigo, bem característico da arquitetura da época em
que a cidade foi edificada. Virou estacionamento. Se você começar andar pelas ruas de Teresina, a velha
Teresina antiga constatará que a mesma virou uma colcha de retalho construída
por um arquiteto esquizofrênico.
Há momentos em que me sinto perdido
pelas ruas da cidade. Os velhos prédios que me serviam de referencia quando eu me
dirigia para casa desapareceram. Minha geração também esta desaparecendo, e com
ela as casas de seus pais. Hoje mesmo passei pela Rua Campos Sales, e vi no
endereço 1782, onde passei minha
infância e juventude, apenas o terreno limpo, sem uma mangueira, pronto para uma nova construção.É isso aí.
Cada cidade tem seu tempo e sua história. E o futuro a
transforma-se em ruínas.
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