O novo Sítio na genialidade de Gervásio |
(Edmar Oliveira)
Quem descobriu o petróleo no Brasil foi o Visconde de
Sabugosa, personagem de Monteiro Lobato. Getúlio custou a acreditar na
literatura. O petróleo jorrou de verdade na Bahia em 1938. Até a década de 1950
vários poços foram descobertos mostrando que o “Poço do Visconde” – livro de
1937 não era literatura infantil. Em sendo de verdade, a constituição de 1946 –
dominada pelos liberais que apearam Getúlio do Estado Novo – era entreguista,
permitindo a exploração do petróleo por companhias estrangeiras, que Getúlio tinha
tornado estatal. Foi preciso Getúlio voltar ao poder para a campanha
nacionalista “O petróleo é nosso” fazer, por decreto, o monopólio estatal da
exploração, do refino e transporte do petróleo.
Esse monopólio, embora atacado pela UDN desde os primórdios,
atravessou incólume a ditadura militar, foi sacramentado na Constituição Cidadã
de 1988, para ser quebrado – através de emenda constitucional – no governo FHC.
Mesmo assim, o tempo tinha consolidado a Petrobrás como a maior empresa
brasileira. O pré-sal, descoberto mais tarde, escapou das privatizações
indecentes dos governos do PSDB e seria a redenção do país na autossuficiência
do combustível fóssil.
Seria. Documentos do WikiLeaks mostraram compromissos de
José Serra com a Chevron – maior empresa petrolífera do mundo, sediada nos EEUU
– desde a sua candidatura a presidente. Pois bem, Serra senador é autor de uma
proposta de projeto de lei que altera o sistema de partilha do pré-sal, desobrigando
a estatal brasileira de participar dos negócios e excluindo a cláusula que
condiciona a participação da Petrobras em, no mínimo, 30% da exploração e
produção em cada licitação. E, com inacreditável apoio deste governo disforme,
conseguiu aprovação do projeto no senado. Deixando boquiabertos senadores
nacionalistas que lutavam contra a proposta entreguista.
A UDN vive. Desde Getúlio que tentava entregar o petróleo ao
capital estrangeiro. O corvo de agora é Serra, que embora sem a verve oratória
do original, copia dele as tramoias e conchavos para agradar os patrões
americanos. E deu um grande passo para conseguir o intento desde muito
almejado. O complexo de vira-lata volta a nos envolver, como se não fôssemos
capazes de construir nosso destino. A crise em que a Petrobrás foi metida só
poderá ser resolvida com o capital estrangeiro, grasna o corvo.
Santa paciência! Desmoraliza-se a Petrobrás para vendê-la.
Sempre foi assim. O mar de lama do Getúlio veio banhar o costado do partido no
poder. E o ataque à Petrobrás dos sanguessugas é maior que o da corrupção.
E o Visconde de Sabugosa corre o risco de ter seu poço de
petróleo nas mãos do vizinho do norte. E nesse nosso Sítio do Pica-Pau Amarelo
só nos resta ir às ruas, gritar, espernear para a proposta não ir adiante na
Câmara dos Deputados. E se for, temos que pressionar a dona Benta. Pedir dela
um veto desse governo sem rumo, que naufraga sem se dar conta da importância do
pré-sal. Novamente temos que ir às ruas com as palavras de ordem do passado “O
petróleo é nosso!”
Sinto que quanto mais envelhece, o século XXI parece recuar
para dentro do século XX. Como se o nosso futuro fosse o passado!
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