(Geraldo Borges)
O futebol fez parte da
minha infância. Joguei futebol na Esplanada, terreno que ficava no fundo da
estação ferroviária, ali, o chão era duro. Não tinha grama, puro lajedo, onde
as lagartixas tomavam banho de sol. E como jogávamos descalços queimávamos os solados de nossos pés. Mas a
gente só sentia depois que acabava o jogo. Jogávamos no campo da Fiação, uma
fabrica de tecido que existiu em Teresina e que ficava perto do rio Parnaíba.
Jogávamos na Praça do Liceu. Tinha bastante grama, era uma baixada. As pessoas
levavam os seus animais para pastar por ali; o logradouro era conhecido como
Baixa da Égua. Jogávamos na Praça do Marquês, onde, às vezes, levantavam a lona
de um circo para a alegria da meninada O cimento ainda não havia coberto o
largo. Todas as praças de Teresina que não eram ainda urbanizadas serviam de campo de futebol. Jogamos na Praça João
Luis Ferreira, no tempo em que os pés de figueiras não passam da altura da
gente, hoje estão ruídos de cupim e outros parasitas. Jogamos também na Rua
Palmerinha no cruzamento com a Avenida Miguel Rosa, o trecho era tranqüilo, não
havia asfalto, nem sinais de trânsito. Também jogamos futebol no estádio
Lindolfo Monteiro, a nossa velha praça de esporte, que não tem a soberba de um
Albertão, mas funciona até hoje. E é o verdadeiro símbolo social e
arquitetônico da historia do futebol piauiense. Jogávamos também no 25 BC. Alguns colegas eram
filhos de militares.
Onde mais jogávamos futebol?
Sim. Lembrei-me. Joguei, jogávamos no campo do colégio Domicio Magalhães.Uma vez
no final do jogo fiz um gol de cabeça, e o nosso lado venceu de um a zero. Fui
aplaudido e tive meus momentos de fama. Joguei, jogamos, com bola de meia, bola
de borracha de maniçoba, e com bola de couro. Para enchermos a bola de couro usávamos a bomba de encher
pneu de bicicleta.Torcíamos notadamente pelos times do Rio de Janeiro:
Fluminense, Vasco, Botafogo, Flamengo. Eu torcia pelo Fluminense. Ouvíamos o
jogo pelo radio do vizinho, que era doido por futebol. Pela voz do narrador
imaginávamos as pegadas dos goleiros, os passos dos volantes, e todo desenrolar do jogo.
Disputávamos campeonatos com os nossos times de botões. O goleiro era uma caixa de
fósforos bem colocado no meio da trave.
O jogo era uma brincadeira que preenchia boa parte de nosso tempo, e fazia com
que os meninos da Rua Arlindo Nogueira e da Rua Palmerinha se aproximassem da
gente de uma maneira mais amistosa. As vezes disputávamos corridas, rodeando
quarteirões; o vencedor ganhava uma lata de goiabada, e o aplauso da turma.
Tomávamos banho no
rio Poti. Alertavam que banhar no Poti era muito perigoso, por causa do esporão
de arraias enterradas na lama. Mas não ligávamos para isso.
Naquele tempo a cidade
de Teresina era apenas um província
limitada entre o rio Poti e o Parnaíba, com seus aspectos rurais e urbanos.
Todo mundo conhecia todo mundo, e o nome dos
malucos da cidade que faziam ponto nas esquinas das praças, e discursos ridicularizando políticos importantes. Era
assim que eles se divertiam e faziam parte do jogo.
Para ser sincero não estou sabendo como terminar esta crônica. Continuar jogando não
dar mais. O jogo hoje é outro. Acabou-se
a brincadeira.
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