domingo, 20 de março de 2016

DE PEQUIS E BACURIS



 
bacuris, acima; pequis em baixo
(Edmar Oliveira)

Hoje o país está dividido entre amarelos e vermelhos. Interessante observar a mudança de cores na política. Alguns amarelos se diziam vermelhos no passado. Talvez outros fiquem vermelhos de vergonha no futuro. Do lado dos vermelhos, alguns amarelaram no passado. No governo ficam tão amarelos, mas mesmo assim os outros amarelos reclamam pela origem vermelha dos que querem ficar parecidos. É só uma introdução por divisão de gosto, porque aqui eu não vou falar de política.

Na divisão de quem gosta e quem não gosta de pequi, não tem essa confusão, nem mistura de matizes. Nunca ouvi alguém dizendo “eu gostava de pequi, mas abusei”. Também não tem essa história de que “eu não gostava, mas agora amo”.  Pequi é definitivo na primeira prova. E a partir desse momento o mundo se divide entre os que não gostam e os que gostam de pequi. Errei, não é bem assim: a divisão é entre os que amam o pequi e os que odeiam. Não tem essa história de gostar ou tolerar. Quem não gosta não entra em casa com cheiro de pequi na hora do almoço. Os que gostam se convidam para um estranho, se sentem o cheiro do pequi na mesa. E os grupos se formam imediatamente. Os que gostam se gostam. Os que odeiam, odeiam os que gostam.

Uma questão de unanimidade é o bacuri. Só não gosta (ou não sabe se gosta) de bacuri quem nunca provou. É uma fruta que se parece com o pequi pela casca dura esverdeada. O pequi é mais redondo. Quebrando o pequi o cheiro divide as pessoas. Quebrando o bacuri o cheiro agrada, mas provando não se esquece e se gosta de imediato. O bacuri tem um caroço envolvido por línguas saborosas de um doce azedo inesquecível. Pode fazer refresco, vitamina, mousse, sorvete, picolé, de qualquer jeito agrada a todo mundo. Nunca vi ninguém dizer que não gostou de bacuri.

O pequi tem mais personalidade. Sua polpa é agarrada no caroço e só roendo, para arrancar algum sabor para quem gosta. Tem a dificuldade do caranguejo. Quem gosta rói até perto dos espinhos que estão logo abaixo. Tem que ter uma técnica para não se deixar espinhar. Dizem que não se come língua de boi que mordeu pequi. Tá entranhada de espinhos da fruta. Mas lembro do gosto de pequi cru com farinha. Era bom. Chegava perto dos espinhos do caroço, mas nunca me deixei espinhar. Arroz de pequi é outro arroz. No feijão fica maravilhoso. Mas uma galinhada de pequi não tem igual. Já viram que amo, e quem não gosta não precisava nem ler essa declaração de amor.

Se é pra gente não brigar, vamos comer bacuri.







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