(Edmar Oliveira)
Hoje o país está dividido entre amarelos e vermelhos.
Interessante observar a mudança de cores na política. Alguns amarelos se diziam
vermelhos no passado. Talvez outros fiquem vermelhos de vergonha no futuro. Do
lado dos vermelhos, alguns amarelaram no passado. No governo ficam tão
amarelos, mas mesmo assim os outros amarelos reclamam pela origem vermelha dos
que querem ficar parecidos. É só uma introdução por divisão de gosto, porque
aqui eu não vou falar de política.
Na divisão de quem gosta e quem não gosta de pequi, não tem
essa confusão, nem mistura de matizes. Nunca ouvi alguém dizendo “eu gostava de
pequi, mas abusei”. Também não tem essa história de que “eu não gostava, mas
agora amo”. Pequi é definitivo na
primeira prova. E a partir desse momento o mundo se divide entre os que não
gostam e os que gostam de pequi. Errei, não é bem assim: a divisão é entre os
que amam o pequi e os que odeiam. Não tem essa história de gostar ou tolerar.
Quem não gosta não entra em casa com cheiro de pequi na hora do almoço. Os que
gostam se convidam para um estranho, se sentem o cheiro do pequi na mesa. E os
grupos se formam imediatamente. Os que gostam se gostam. Os que odeiam, odeiam
os que gostam.
Uma questão de unanimidade é o bacuri. Só não gosta (ou não
sabe se gosta) de bacuri quem nunca provou. É uma fruta que se parece com o
pequi pela casca dura esverdeada. O pequi é mais redondo. Quebrando o pequi o
cheiro divide as pessoas. Quebrando o bacuri o cheiro agrada, mas provando não
se esquece e se gosta de imediato. O bacuri tem um caroço envolvido por línguas
saborosas de um doce azedo inesquecível. Pode fazer refresco, vitamina, mousse,
sorvete, picolé, de qualquer jeito agrada a todo mundo. Nunca vi ninguém dizer
que não gostou de bacuri.
O pequi tem mais personalidade. Sua polpa é agarrada no
caroço e só roendo, para arrancar algum sabor para quem gosta. Tem a
dificuldade do caranguejo. Quem gosta rói até perto dos espinhos que estão logo
abaixo. Tem que ter uma técnica para não se deixar espinhar. Dizem que não se
come língua de boi que mordeu pequi. Tá entranhada de espinhos da fruta. Mas
lembro do gosto de pequi cru com farinha. Era bom. Chegava perto dos espinhos
do caroço, mas nunca me deixei espinhar. Arroz de pequi é outro arroz. No
feijão fica maravilhoso. Mas uma galinhada de pequi não tem igual. Já viram que
amo, e quem não gosta não precisava nem ler essa declaração de amor.
Se é pra gente não brigar, vamos comer bacuri.
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