sentido horário: as balsas do Parnaíba; a ponte velha; a ponte nova e a cidade nova; a cidade velha e as carroças |
(Geraldo Borges)
Quando
cheguei com a minha família em Teresina para estudar, vindo de uma fazenda no
Maranhão, desembarcamos à beira do cais do rio Parnaíba, a altura do local onde
hoje é o Troca-Troca, ao lado das rampas onde as mulheres lavavam roupa. Nesse
tempo ainda singravam o canal do Velho Monge os antigos navios gaiolas, os
vapores de carreira e rebocadores de barcas, e que faziam viagens redondas.
A gente
desceu o rio de balsa, uma espécie da jangada, trazendo a nossa mudança; pouca
coisa. Pois na cidade o estilo de vida é diferente. Trouxemos apenas o
indispensável. Levamos os trens para casa em carroças tocadas a burros. Eu
ainda não conhecia carroça. Conhecia apenas carro de boi. Na fazenda burro servia apenas para botar sela e cabresto, e
viajar para resolver negócios na sede do município; era mais resistente do que
cavalo; Nunca vi um cavalo puxando carroça. Cavalo puxa carruagem. Quantos aos
burros, eles têm uma história relevante na formação cultural do Brasil. Foram
responsáveis pela difusão do comercio, notadamente na região nordeste. Com suas
famosas caravanas de tropeiros.
Com o
desenvolvimento da cidade o normal seria as carroças terem desaparecido, e hoje
serem peças de um museu do transporte. Mas o diabo é que a cidade tem muita a
ver ainda com o campo. E isto não aconteceu.
Hoje, em
pleno século vinte e sob o signo do
asfalto e da velocidade, costuma-se
vê carroceiros estalando o chicote no
lombo de seu burro pelas ruas da cidade, como se a modernidade tivesse feito um
hiato e voltado para os primórdios da Idade Media.
Uma vez,
fui surpreendido, com um burro correndo no meio da rua por que
atrás dele vinha um caminhão buzinando. Aquilo me pareceu desesperador, até que
o pobre animal conseguiu fazer um desvio para uma rua paralela. E tomar fôlego.
Um burro
com sua carroça compõem uma cena típica de identidade cultural piauiense.
Podemos dizer que existem duas
Teresinas: as dos burros puxando carroças e as dos motorista de carros, afora
outras, invisíveis, que, ainda, não foram inauguradas publicamente.
Não sei,
nem adivinho como os donos dos burros tratam os seus animais. Com certeza, não
têm cocheiras adequadas para cuidar deles. Talvez passem fome. Uma vez vi um burrico comendo
capim nascido do lodo no rego da calçada de um vizinho. E muitas vezes de manhã
cedo vejo carroceiros passar defronte lá de casa. Pelo visto são bastante procurados. E para quem está interessado em contratar um carroceiro, para
algum serviço, eles fazem ponto na Praça do Marques. Agora para quem quiser
conhecer burros mitológicos, literários, grandes personagens da cultura
ocidental e só ler O Asno de Ouro de
Apuleio ou Platero y Yo de Juan Ramon Jimenez. Quando eles falam
os outros burros murcham a orelha.
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