domingo, 1 de setembro de 2013

Despesas do envelhecer


(Edmar Oliveira)
 
Meu amigo Cinéas Santos tem um livro de crônicas deliciosas, cujo título “As Despesas do Envelhecer” foi tomado de nosso grande poeta H. Dobal, em justa homenagem. Vez por outra venho contando as minhas despesas por aqui, o que não agrada parte dos meus poucos leitores, principalmente os da minha geração. Volta e meia quando aqui me queixo, meus colegas de infortúnio, quando me encontram, reclamam de que fico falando de velhice, tema que não lhes agradam de especial maneira. Aqui, com meus botões, acho que eles não querem tocar no assunto com medo de se descobrirem velhos. Volto ao tema hoje, tentando que eles me leiam e descubram que na velhice também tem a coluna do haver.

Pois é nessa coluna que coloco o meu amadurecimento com absoluta tranquilidade e anoto com orgulho a quantidade de deveres cumpridos. Dizem que um homem cumpre sua missão escrevendo um livro, plantando uma árvore, tendo filhos. Como tenho três filhos, acho que dois deles podem muito bem substituir a árvore e o livro. Mas plantei uma mangueira num quintal de um amigo meu em Jacarepaguá, que embora entanguida e raquítica sobrevive na minha parca contribuição à natureza. E tenho uns livrinhos escritos, mesmo que poucos leram, mas que servem pra dizer que fiz. Portanto a minha coluna do haver tem bastantes créditos, na minha otimista e parcial avaliação. E as amizades que fiz pelo caminho superam as desavenças (muito poucas) que pendem na coluna das despesas. E elas, as amizades que construímos ao longo do caminho, são a maior riqueza de um homem, em minha opinião. Além de que me sinto tão bem e jovial, que se não é o espelho me desmentir todos os dias, não seria capaz de acreditar nas rugas e nos cabelos que teimam em continuar embranquecendo.

Também, como despesa, ganhei uma barriguinha que não é capaz de incomodar a quem sempre foi magrelo. Mas o corpo vai envelhecendo com tentativas de aumentar a coluna de débito e pender a coluna vertebral. Descobri uma despesa recentemente e já até compartilhei (não é do verbo da internet, é no sentido antigo de conversa fiada) com meus amigos em mesa de bar e demos boas gargalhadas.

Minha nova descoberta de despesa do envelhecer: a gente descobre a velhice na dificuldade de amarrar os sapatos, compreenderam? Não acontece nas sapatarias porque a cadeira de prova é muito mais baixa que as de casa, já repararam? Pois sentado na cama ou nas cadeiras de casa o velho tem que tomar fôlego como se fosse mergulhar, parando de respirar para amarrar os cadarços dos sapatos. Um de cada vez que o fôlego é curto. Amarrando um, voltamos à superfície; respira-se fundo para um novo mergulho ao outro pé. Os que não sentem o fenômeno não aprofundaram as despesas da velhice.

Mas as gargalhadas da descoberta estão na coluna do haver. E se você tem bom humor, compensa essa e outras despesas do envelhecer.   
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nas fotos o contraste do Piauinauta perdendo o cadarço de seu sapato e a agilidade do menino...

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