(Edmar Oliveira)
Meu amigo Cinéas Santos tem um livro de crônicas deliciosas,
cujo título “As Despesas do Envelhecer” foi tomado de nosso grande poeta H.
Dobal, em justa homenagem. Vez por outra venho contando as minhas despesas por
aqui, o que não agrada parte dos meus poucos leitores, principalmente os da
minha geração. Volta e meia quando aqui me queixo, meus colegas de infortúnio,
quando me encontram, reclamam de que fico falando de velhice, tema que não lhes
agradam de especial maneira. Aqui, com meus botões, acho que eles não querem tocar
no assunto com medo de se descobrirem velhos. Volto ao tema hoje, tentando que
eles me leiam e descubram que na velhice também tem a coluna do haver.
Pois é nessa coluna que coloco o meu amadurecimento com
absoluta tranquilidade e anoto com orgulho a quantidade de deveres cumpridos.
Dizem que um homem cumpre sua missão escrevendo um livro, plantando uma árvore,
tendo filhos. Como tenho três filhos, acho que dois deles podem muito bem
substituir a árvore e o livro. Mas plantei uma mangueira num quintal de um
amigo meu em Jacarepaguá, que embora entanguida e raquítica sobrevive na minha
parca contribuição à natureza. E tenho uns livrinhos escritos, mesmo que poucos
leram, mas que servem pra dizer que fiz. Portanto a minha coluna do haver tem bastantes
créditos, na minha otimista e parcial avaliação. E as amizades que fiz pelo
caminho superam as desavenças (muito poucas) que pendem na coluna das despesas.
E elas, as amizades que construímos ao longo do caminho, são a maior riqueza de um homem, em minha opinião. Além de que me sinto
tão bem e jovial, que se não é o espelho me desmentir todos os dias, não seria
capaz de acreditar nas rugas e nos cabelos que teimam em continuar
embranquecendo.
Também, como despesa, ganhei uma barriguinha que não é capaz
de incomodar a quem sempre foi magrelo. Mas o corpo vai envelhecendo com
tentativas de aumentar a coluna de débito e pender a coluna vertebral. Descobri
uma despesa recentemente e já até compartilhei (não é do verbo da internet, é
no sentido antigo de conversa fiada) com meus amigos em mesa de bar e demos
boas gargalhadas.
Minha nova descoberta de despesa do envelhecer: a gente descobre
a velhice na dificuldade de amarrar os sapatos, compreenderam? Não acontece nas
sapatarias porque a cadeira de prova é muito mais baixa que as de casa, já
repararam? Pois sentado na cama ou nas cadeiras de casa o velho tem que tomar
fôlego como se fosse mergulhar, parando de respirar para amarrar os cadarços
dos sapatos. Um de cada vez que o fôlego é curto. Amarrando um, voltamos à
superfície; respira-se fundo para um novo mergulho ao outro pé. Os que não
sentem o fenômeno não aprofundaram as despesas da velhice.
Mas as gargalhadas da descoberta estão na coluna do haver. E
se você tem bom humor, compensa essa e outras despesas do envelhecer.
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nas fotos o contraste do Piauinauta perdendo o cadarço de seu sapato e a agilidade do menino...
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