domingo, 1 de setembro de 2013

A Tabuada


(Geraldo Borges)
 
As novas gerações mais novas talvez nem saibam o sentido da palavra tabuada. Não são obrigados a saber, é só consultar o dicionário. Tabuada:

“Tabela das operações elementares em numero de um ou dois algarismos usada no aprendizado das quatro operações  e de outras  noções elementares. Livrinho que contem esta tabela. Significa também índice de livro, repertório, compilação.”

 Antigamente  todo aluno do primário aprendia a tabuada de cor, a partir da tabuada você poderia começar a ser um gênio da matemática. A Tabuada, era  vendida  nas livrarias e papelarias de qualquer cidade brasileira como parte do material didático que o aluno teria de levar para a escola, juntamente com o caderno de caligrafia, que naquele tempo era uma arte.  Dois instrumentos importantes para a formação do homem moderno. Hoje, dificilmente se encontram estes objetos nas papelarias e livrarias das cidades brasileiras. Foram descartados.

 Talvez poucas escolas perdidas pelo interior do Brasil ainda os utilizem.

Os meninos de hoje não precisam mais de tabuada. A Tabuada virou maquina de calcular. No tempo da Tabuada havia o argumento, a sabatina. Não era fácil. Se o aluno não soubesse de cor as operações de dividir, multiplicar, somar e subtrair estava lascado, pegava bolo de palmatória do aluno que soubesse. Era assim que funcionava.

          Nada melhor do que uma pequena historia para ilustrar o tempo da Tabuada, que não está tão longe assim.

 Alguém me contou. Não a inventei. Reconto segundo o meu estilo tentando ser fiel, no máximo possível, a versão original.

          Um menino foi visitar seu colega de escola em sua casa. Queria brincar. Quando chegou lá o que viu o fez  voltar para casa por cima do rastro. A mãe do menino estava ensinando a Tabuada ao seu filho. O menino estava dentro de uma banheira. A mãe lhe perguntava a Tabuada. Toda vez que o menino errava, a mãe dava-lhe um mergulho e um cocorote O menino que voltou para sua  casa horrorizado, também, teria de estudar a Tabuada.  Mas não estava ligando para os seus deveres de casa.

          No outro dia, na escola, a professora juntou a turma na sala de aula e começou a lição da Tabuada. Nesse tempo não havia mais bolo. A palmatória, agora, era apenas um objeto de triste memória na historia da nossa educação. Durante a lição da Tabuada a única pessoa que se saiu bem foi o menino da banheira. Resultado. Foi o único a sair para o recreio. Os outros ficaram confinados na sala de aula, de castigo, resmungando, e estudando a Tabuada. Talvez fosse um castigo inútil. Mas era melhor do que a palmatória. A esta altura o estudante exemplar estava constrangido com a sua situação.

          No final do recreio lá estava ele sozinho, se perfilando, o único componente da fila, ao pé da porta, para entrar na sala de aula. Ele era o último e o primeiro da fila ao mesmo tempo. Estava sério, enquanto os colegas riam dele.

           A cena é seria. Mas parecia ridícula. Valeu a pena? Com certeza hoje não iria se repetir. Pois a funcionalidade da maquina de calcular democratizou o seu uso. E do jeito que os meninos estão hoje encarando os professores não haveria mestre que tivesse coragem de  forçar estudantes a aprender a Tabuada, que, atualmente, perdeu o prestigio, e é conhecida apenas pelos idosos da época em que a Tabuada e a palmatória era o terror da infância.

 

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