domingo, 27 de fevereiro de 2011

Os urubus estão no ar


1000TON


Ele está lá, fedendo... O aspecto é por demais repugnante. A catinga espalha-se por todos os cantos desse gigante pela própria natureza, aguardando enterro.



Este cadáver apodrecido e insepulto já teve seus momentos de pompa e circunstância, de alçar GRANDES VOOS na história desse país.



No entanto, sua existência deixou macabras e inesquecíveis cicatrizes: conspirou, articulou, implantou e apoiou o derramar de sangue dos filhos deste solo, pelos risonhos lindos campos de flores e pelos nossos bosques cheios de vida.



Certo dia um CORVO assaz falante, ardiloso e com muita sede de poder tramou um golpe bem urdido, mancomunado com aves de rapina, trajando uniformes da cor do PAPAGAIO, para tomar o governo de assalto,



O sol da liberdade em raios fúlgidos deixou de brilhar no céu da pátria nesse instante. Seguiu-se um longo período de tristeza e de trevas. As aves que aqui gorjeavam, silenciaram. Pipilos, chilreios, os belos cantares da SABIÁ emudeceram.



ÁGUIAS, empedernidas, cheias de medalhas no peito, passaram a comandar com punhos de ferro, com seus fuzis e seus canhões, o reino da passarada.



Para acobertar as prisões sumárias e todas as injustiças colocaram como Ministro da Justiça um poderoso FALCÃO. Na linha de frente, no Parlamento, contavam com um truculento CARCARÁ que veio da Bahia. Como Ministro da Educação nomearam um hipócrita PASSARINHO que mandou, friamente, a democracia às favas.



Enquanto se comemorava a vitória mundial da seleção de futebol CANARINHO, nos porões da ditadura implantada, a truculência aumentava cada vez mais, encoberta por um GAVIÃO majestosamente vil, da raça ‘garrastazú”.



Aves que se rebelassem, com seus cantares de revolta, eram retiradas à força de seus próprios ninhos e conduzidas pelas GARÇAS Armadas direto para a gaiola, De lá, depois de terem passado por todo o tipo de privação, muito machucadas, após sofrerem brutais torturas, de asas quebradas, sem poderem mais voar, ou já mortas, poderosos CONDORES eram encarregados de jogá-las em alto mar.



Assim se passou um quarto de século.



Agora ele está lá... Aquela matéria pútrida fica ali, jogada ao léu. Tentam aproveitar-se dela, como gororoba, agitados ABUTRES..



Um pomposo URUBU-REI, quando viu a sanha das negras aves em cima da carcaça abandonada, espantou-as com vigor. Levou no bico para longe dali os restos mortais e, com um ar solene, enterro-os.



Formosas SAÍRAS de sete cores presenciaram a cena, escondidas numa frondosa árvore. Acharam por bem convocar toda a passarada e propor um dia de comemorações. Foi providenciada uma lápide para simbolizar a restauração da liberdade. Em seguida todos aprovaram a iniciativa de instituir-se “O DIA DO VOO LIVRE”.



Na pedra do túmulo foram gravados os seguintes dizeres: ”AQUI JAZ, PARA SEMPRE, O GOLPE MILITAR E O DEMO, EX-PFL, EX- PDS, EX-ARENA, EX UDN”.

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(O 31 de março vem por aí. Admiremos e exultemos o voar belo e livre dos pássaros, simbolizando o nosso orgulho de haver enterrado uma ditadura truculenta que, além de tantas outras perversidades, mutilou e matou muitos dos nossos irmãos brasileiros)

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