quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Raiz do Bem







O melhor CD de Samba do ano. Comprem e escutem. Jorge Curuca, sambista de primeira lança seu disco com um atraso de muitos anos. Esta pérola já devia ter saído há muito tempo. E ele tem outros guardados. Presidente da Casa Lima Barreto. Você pode escutar uma amostra no site da Casa alí em baixo. Mas comprem que a qualidade é demais. E para quando forem escutar já publico as "notas Cabotinas", onde Simão explica os parceiros e as passagens, de Japeri ao Samba Indignado. (Edmar)



NOTAS CABOTINAS





Alguns amigos, secundados pelo Tavares, acusaram uma “falta” no CD Raiz do Bem, este folgado disquinho com orçamento de filme B, o que me ascende à categoria de um Zé do Caixão fonográfico.





Dizem-me eles que certos sambas exigiriam notas explicativas pelo excesso de carioquismo ; seja pela linguagem, seja pelas estórias. Nem pensei nisso. Achei, como acho, que essa prática encerra uma certa aura de pernosticismo, de cabotinismo.





Mas... se for para a boa compreensão, se for para dirimir falsas interpretações, seja feita a vontade de Tavares & Seus Blue Caps.





Sem maiores propedêuticas ou frescuras lingüísticas, vamos direto à exegese das manhas cariocas, com uma passada pelas “regionais” toadas (Mariim, Mundéus e Anuviou) e a valseada cantiga Japeri.





RAIZ DO BEM


Além de uma celebração ecológica, é uma homenagem a um dos mais dignos sambistas cariocas: Monarco da Portela, compadre, parceiro e insigne baluarte. A citação do Jacaré, que pouca gente compreende, refere-se à comunidade do Jacarezinho, onde Monarco morou por longos anos, e é presidente de honra de sua Escola de Samba, para a qual também compôs várias obras-primas,, com destaque para os enredos sobre Lupicínio Rodrigues e Frei Caneca. Quanto à “generosa sombra da Gamboa” e o “pé de samba plantado em Xerém”, trata-se de uma menção a dois outros nomes, discípulos do baluarte-mor. São eles, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho.


A voz é do “parisiense” Marcos Sacramento. Craque!






JAPERI


Aponta para uma sofrida e desgastada relação que chega ao fim. O cenário é o vagão de um trem da linha Central/Japeri. A sofrida reflexão do homem dá ênfase à inexorável passagem do tempo, impressa no rosto da mulher, uma vazia estação do não-sorrir. Japeri é o duplo fim. Da viagem e do convívio.


O vocalise do Chamon deu um brilho especial à canção.






SÃO JORGE SÓ TEM UM


Autoexplicativa. São Jorge está com o “Perna de Calça”, certamente sacaneado pela arrependida “Rabo de Saia”, que o procura pelas favelas do Rio. Mas não tem perdão porque “S. Jorge só tem um, cavalo tem de montão”.


Mario Vivas faz sua graça.






BONDE DA SERRINHA


Um samba de breque surreal. O “Rambo 171” tenta resgatar a “nega do 41”, que foge no cavalo de Ogum. Até Salvador Dali aparece no final quando o otário Rambo/Curuca se vangloria de ser do IAPI: “Eu sou daqui, não sou Dali/Se Moringueira é o tal, eu sou Curuca do IAPI”. Estranhamente este samba é tocado num programa chamado Ronca Ronca, da OI FM.


O Curuca atropela o Bonde.






ANUVIOU


Uma toada, lindamente entoada. O sentimento da voz aveluda a cantiga. Há um tom de realismo fantástico que a cantora “pega no ar”.


Raquel Nascimento, dona de privilegiada voz, é a cantora.






MARIIM


Cantador, violeiro, compositor e luthie radicado no interior de S. Paulo, Levi Ramiro é o autor da melodia-cônjuge, bem casada com a letra, uma estória inspirada no inquieto amor de Riobaldo por Diadorim, só consumado em sonho. A estória, como quer João G. Rosa, é do épico Grande Sertão: Veredas.


A interpretação de Levi agrega um toque de ternura a esta faixa.








BULIU NO MEU GONGÁ


Guiomar buliu com os santos de devoção do autor. E seus santos no samba, no futebol e na macumba são intocáveis...


Nesta faixa, Curuca é o cambono.






SÂNDALOS, SACHÊS, NAFTALINAS


Um inventário da infância através dos cheiros que a impregnaram. Quando, porém, se fecha a gaveta e cerram-se as cortinas, os odores que suscitaram tantos signos nostálgicos atiçam a grande perplexidade: “Pra onde foi, onde andará, a criança do retrato?”


Chamon se lança – corpo e alma - nesta canção.







MUNDÉUS


A dúvida maior ficou na semântica. Mundéus são armadilhas para caça. O título é a chave da canção . É densa, é pênsil. O ardil está presente na proposta de liberdade para a fuga irremediável. A armadilha rege o destino.


Mais uma vez, Raquel empresta grande sensibilidade ao tema.






RESTO DE ESPLENDOR


É um libelo agnóstico. As religiões, quanto mais fundamentalistas e intolerantes, mais destroem os elos humanitários. É inconcebível a exploração de fiéis evangélicos por vigaristas da estirpe Macedo, é inaceitável essa epidemia de padres pedófilos e papas anacrônicos, é espantoso o assassinato de inocentes por fanáticos do Islã, é uma estupidez o que fazem os ortodoxos judeus com o povo palestino, enfim, é aterrorizante lembrar o talibã protestante George Bush e seus pares que, em nome de Deus e da democracia, massacraram mais de 200.000 civis no Iraque.


E, definitivamente, todas - absolutamente todas - as religiões são um atentado à Ciência.


A voz educadíssima de Roberto Serrão promove um interessante contraponto a tanta indignação.






A FESTA TEM QUE CONTINUAR


Invadida a festa, resta aguardar a dissipação da nuvem do passado, chamar os erês à mesa e, sem perder a ternura, afirmar que a festa tem que continuar.


Soninha Luz e seu sotaque carioca dão o tom certo a esta Festa.






BABACAS


Samba não, é um pagode babaca com todos os ingredientes musicais que caracterizam os pagodes de hoje. Homenageia o povão do Big Brother e seu gosto por três pragas fundamentais, que superam em melefícios as sete pragas do Egito: pagodeiros presepeiros, boleiros biscateiros e políticos trambiqueiros.


A pior música do CD é despejada pelo autor, babaca também.






SAMBA INDIGNADO



A letra fala por si mesma. Foi feita por volta de 1997, ano em que o deputado federal Hildebrando Pascoal (AC) começa a ser acusado por ligações com o narcotráfico e assassinatos e torturas de mais de 60 pessoas. A especialidade de Hildebrando, na mutilação de suas vítimas, era a moto-serra. A lembrança da data vem dos versos deste samba (Essa gente impoluta/ de ilibada conduta e de brandos doutores/São Senhores da Guerra/Sacam da moto-serra atrás dos bastidores.)


Curuca “declama” sua bronca.






MEU FÍGADO, O ENREDO



Embora fale do fígado, é uma peça autobiográfica.


Curuca assume.





2 comentários:

Ibys Maceioh disse...

Olá,meu veio e amigo parceiro,Simão.
Parabéns pelo trabalho, que não é novidade falar isso.Fico feliz em encontra-lo nesse blog iluminado do nosso amigo Edmar.Muito sucesso!!Abração.Ibys Maceioh.

Ibys Maceioh disse...

Olá,meu veio e amigo parceiro,Simão.
Parabéns pelo trabalho, que não é novidade falar isso.Fico feliz em encontra-lo nesse blog iluminado do nosso amigo Edmar.Muito sucesso!!Abração.Ibys Maceioh.