quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vício ao Contrário

1000TON


Diante dessa mixórdia que virou a grande imprensa do sul maravilha, comecei a sentir uns arroubos incontroláveis do que passei a denominar de “vício ao contrário”. Perguntarão vocês: mas como vício ao contrário? O vício é uma sensação pessoal e intransferível, na maioria

das vezes inconfessável, a não ser aqueles

que viraram viciozinhos corriqueiros , muitos deles confundidos com superstição, como bater na madeira, não passar embaixo de escadas ou coisas assim. Outros são aqueles hábitos que, mesmo trazendo malefícios à saúde, são consumidos pela sociedade como as bebidas alcoólicas, o cigarro e as drogas chamadas mais pesadas. Como se o tabaco e o álcool, vendidos legalmente em qualquer esquina, não o fossem também. Droga é bom! Senão não haveria tanta gente boa atrás delas. E, por isso mesmo, ela é muito perigosa!

Mais eu não estou aqui tergiversando, nem tentando falar sobre a discriminalização do uso de drogas (assunto esse, aliás, muito importante de s

er discutido), nem cortar o barato de ninguém, nem o meu próprio. Cada um sabe onde vai pendurar o seu chapéu, não é mesmo? Eu, por exemplo, sou um ex-fumante e tem coisas absurdamente agressivas que vejo acontecer recentemente na caça aos consumidores de tabaco, principalmente em São Paulo. O governador de lá, um cara que não sai da moita e também não dá lugar, e tem pretensões sérias de ser presidente desse país, resolveu que só limitar o espaço para fumantes (até aí nada demais) não seria suficiente. Resolveu proibir, por lei, o estabelecimento comercial de receber um tabagista. E o que é pior, qualquer um que se sentir incomodado pode chamar a radiopatrulha e exigir que o infeliz seja autuado...Quer dizer, o pascácio governante tira o dele da reta, estimula o denuncismo, os incautos burgueses metropolitanos e a grande imprensa apoiam a medida, e acham que isso vai melhorar a qualidade de vida da cidade mais poluída (ar, água e solo) da América Latina. Os comparsas elitistas partidários desse Senhor governam São Paulo há mais de 15 anos e, a cada mandato, o dia-a-dia do cidadão paulista, principalmente a do trabalhador da periferia das grandes cidades, se deteriora cada vez mais.

Gente, eu estou disfarçando um pouco, mas o assunto é pertinente. Vou entrar no vício ao contrário agora. Falei lá em cima dos jornais safados, aqueles de maior circulação que todos nós conhecemos, pois é... Não sou mais eu quem lê o jornal, é “ele” quem me “lê”. É ele quem me saca, sacou? E aí vem o pior desse vício ao contrário: é que eu sei disso!... Notem bem, eu não estou falando do vício de pegar no jornal, sentir o papel e o leve cheirinho de tinta (já foi bem mais forte), ouvir o

barulhinho do folhear de páginas, que, não nego, tudo isso me traz uma sensação boa (apesar do meu hábito diário de procurar opiniões bem mais abalizadas nos excelentes blogs informativos que a internet me oferece, e de graça). Eu estou falando de uma coisa muito grave, estou falando de um distúrbio mental, e eu não sei se tem cura.

Vou descrever uma cena do meu cotidiano: todo o santo dia eu me digladio com aquele calhamaço inútil de folhas. No que eu abro a porta para pegar o “cara”, já dou uma olhada, de soslaio, na manchete principal e nas chamadas menores. Só essa primeira lambida do meu olhar já dá para perceber, tanto nas notícias, quanto nos temas escolhidos pelos miquinhos colunistas amestrados, as matérias mal intencionadas, incongruentes, caluniosas e tendenciosas. Tento jogar num canto da estante, aquele catatau de informações. Mas o desgraçado me pega, me gruda nas mãos, quer me devorar. Quem lê tanta notícia ? Eu vou... sem lenço, sem documento, nada no bolso, só com o meu jornal na mão. No trajeto até o banheiro antevejo os dissabores que tomarão conta de mim, num confronto inevitável a ser travado com “ele”, ou seja, me subjugo a ler, já sentado no vaso (sinto falta de ler qualquer coisa quando estou obrando, nem que seja bula de remédio ou até mesmo coluna de jogo de bridge), tudo aquilo que me despertará raiva, deboche,

desprezo ou empáfia. Para não “sofrer” tanto, passo a desenvolver uma leitura dinâmica, que eu próprio inventei, tentando me livrar logo da minha espinhosa missão, ter que ler aquelas hodiernas páginas... Luto bravamente, vai nessa Miltão, vai, leva fé, continua... quatro linhas pra acabar, agora é rapidinho, faltam só duas linhas...está chegando a faixa final, digo, o ponto final, você vai conseg......................................Qual nada!... Ao sair do banheiro, derrotado, em frangalhos, ele me obriga a ler tudo que eu fingi que não li, o meu carrasco já me conhece de priscas eras, esse maldito. Envergonhado e humilhado, leio tudo, agora, de cabo a rabo. Pronto! O que você quer mais de mim, seu canalha?

Triste sina. Eu sei muito bem do espírito do cramunhão que baixa toda a manhã no meu quintal... É o nosso Cidadão Kane tupiniquim. Ou, melhor traduzindo, o nosso cidadão Kano, ou Cano, tanto faz. Pode ser a mira de umcano de fuzil, ou um cano de esgoto, para o qual “ele” sempre tenta nos empurrar.

Vocês sabem de quem estou falando, não sabem? Daquele espírito de porco, de um dos maiores pulhas senhores de veículos de comunicação do mundo todo, tão poderoso que chegou a mandar no nosso país, e que hoje deve estar vivendo nas profundezas do reino do tinhoso, e não mais habita o nosso globo terrestre.

1000TON

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