quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Martírio de Madalena

Carlos Augusto de Araújo Jorge
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Madalena, nome fictício, com idade entre 12 e 13 anos, definiu como lugar de viver a divisa entre Manguinhos e Jacarezinho. Ali convivia com o seu grupo de crianças e adolescentes, numa verdadeira “roleta russa”, onde a arma era a pedra do crack. Como eles próprios falam: “a maldita pedra”.

Não só eram a pedra do crack e as demais crianças e adolescentes a companhia de Madalena. A pequenina Madalena, franzina, como todas as outras, filhas talvez da segunda ou terceira geração de crianças covardemente abandonadas nas ruas de nossa cidade maravilhosa e que só são apontadas pela nossa distinta sociedade, quando incômodas, já estavam na teia também maldita da exploração sexual.

Aquela criança, um pequeno sujeito ainda em formação, já era objeto de cobiça do lucro de inescrupulosos, que se utilizava de sua compulsão para fumar uma pedra de crack, e aí é qualquer coisa por um real.

De um lado a dita “cracolândia” do outro, uma surrada barraca de lona e plástico onde Madalena era explorada.

Heróis anônimos, Educadores e Assistentes Sociais, diariamente procuravam Madalena. Abordavam Madalena e, na maioria das vezes, Madalena recusava o contato. Corria e se ocultava nas vielas da favela.

Um dia Madalena não fugiu ao contato, parou escutou; conversou e resolveu que iria cuidar de si. Pactuou com os Educadores e Assistentes Sociais que no dia seguinte aceitaria ser abrigada para um atendimento diferenciado. Gostaria de ter outra possibilidade de vida. Festa na equipe: “estamos chegando lá” desta vez Madalena decidira ir. Com certeza não teríamos mais que nos deparar com a triste e comum resposta: ”evadiu”.

Chega o dia seguinte. A equipe se reúne, define estratégias de trabalho e se dirige ao lugar combinado. Madalena não se encontra: procura-se por Madalena, pergunta-se por Madalena.

A pobre criança devia trinta reais ao “movimento” e este, na noite anterior, assassinara Madalena na linha do trem. As trinta moedas de Madalena levaram-na ao martírio na linha do trem. Não sei se com os braços atados a cada lado da linha...

Esta foi a resposta.

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Carlos Augusto trabalha com a população de rua.

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