quinta-feira, 26 de novembro de 2009

VI Festival de Cultura de Oeiras



Dagoberto Carvalho Jr.

da Academia Piauiense de Letras

Veterano de outros festivais na velha-cap, retorno do VI Festival de Cultura de Oeiras, convencido de que a cidade Monumento Nacional encontrou sua verdadeira vocação, secularmente talhada para o turismo cultural. É disso que cidades históricas, como a nossa, que ainda tem muito a mostrar, precisam para o seu desenvolvimento sustentado. Parece que Oeiras, renovada pela experiência de seus administradores – à frente, Carla Martins – aprendeu a realizar um festival de verdade. Uma grande festa lítero-gastronômico-musical que já se vinha mostrando capaz de incorporar, com sucesso, ao calendário piauiense da moderna especialidade.

Os políticos viram e sentiram isso. Lá estiveram: governador, vice, deputados federais e estaduais, secretários de estado, prefeitos, vereadores, executivos do serviço público e da iniciativa privada, formadores de opinião. Escritores, músicos, cantores. E, sobretudo, o povo, ente e parceiro privilegiado de todos os eventos sérios que se fazem em seu nome e proveito.

Distribuído em dois pólos, a Casa da Cultura, o auditório da Câmara Municipal e o coreto da Praça da Bandeira, muitas foram as apresentações e inúmeras e interessantes as oficinas realizadas. Manteve-se a tradição dos city tours e do passeio ecológico ao Engenho Guaribas. Gastronomia. A boa cozinha da terra do “doce de leite de fio”, incorporando o “capote” como prato da piauiensidade. Teatro, balé, violeiros, congos, reisados, samba, capoeira. Palestras sobre patrimônio histórico. Livros e revistas.

Na música – teluricamente iniciada pelos “Bandolins de Oeiras”, em quem se homenageia o talento da terra – revezaram-se grandes nomes. Da atualidade de Zeca Baleiro a Vital Farias e Xangai, passando pelo “clássico” sertanejo do menestrel Elomar Figueira Melo que, em aula-espetáculo, apresentou suas “Sertanílias do Elomar”.

Solar da Doze Janelas. Reencontro-me na contracapa de “Crônicas Esquecidas” de José Expedito de Carvalho Rego – patrono do Festival – em opinião sobre o melhor dos seus livros, “Malhadinha”. Fui contemporâneo e amigo do grande romancista e poeta dos melhores. Coordenei sua eleição para a Academia Piauiense de Letras e o recebi na Casa de Lucídio Freitas. Reencontro-me, também – assumida e vaidosamente escritor – nas seguras e simpáticas palavras com que Rita de Cássia Neiva Santos Martins Gama apresentou o meu “Eça de Queiroz e Machado de Assis: o Realismo de cada um”. A professora chamando-me à responsabilidade pelo que já tenho escrito sobre Eça e a geração portuguesa de 1870 – com alguns reflexos não só em Pernambuco ou no Piauí, mas de algum modo, em Portugal –, e pelo compromisso com os meus valores culturais oeirenses, ousou criar o termo “dagobertiano” para os tais estudos, como se todos já não fossem ecianos. Como se os não contemplasse a ecite universal do “pobre homem” de Oeiras do Piauí. Cassi Neiva, esta sim, é que chega à Sociedade Eça de Queiroz renovando a linguagem literária, incorporando-lhe – como fazia o nosso guru – novos e sonoros vocábulos. Materializada a idéia, o espaço proposto agregará valores como a jovem historiadora Tátilla Inez de Sousa Rodrigues que, seguindo as pegadas do cronista, está a concluir importante monografia sobre a presença dos jesuítas no Brejo de Santo Inácio.

Ao elogio oeirense do meu livro não faltou a palavra, também especializada, do psiquiatra e escritor piauiense-carioca Edmar Oliveira que, ao apresentar seu “Ouvindo Vozes”, resgatou o conto “O Alienista”, do Bruxo do Cosme Velho, como ponte entre os nossos discursos eça-machadianos. Entre todas as literaturas do Festival.

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Publicado originalmente no Diário do Povo (Teresina), 4 de novembro de 2009

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