quinta-feira, 19 de março de 2009

UM DIA UM GATO PASSEAVA POR WALL STRET





1000TON

Se bem o nosso brasileiro homem do povo pudesse ser fielmente representado, me vem logo à cabeça a figura de João Grilo, esse maravilhoso personagem criado por Ariano Suassuna , e quase ao mesmo tempo surge, coladinha com ele, a figura de Macunaíma... Em algumas reportagens Mestre Suassuna, quando solicitado a botar em cena o seu João, comparado-o com o “herói sem caráter” de Mário de Andrade, comenta que ardil não é sinônimo de trambique. Muito bem colocada, a propósito de definir melhor seu personagem é, a idéia de astúcia, poderosa arma, a qual Ariano já declarou ser própria da política e deveria ser usada pelos políticos honrados contra os seus colegas desonestos.
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Pois astúcia foi o que faltou a Jarbas Vasconcelos ao proferir o seu inflamado discurso moralista, lançando mão do já oportunista e desgastado expediente, escatologicamente falando, de jogar excremento no ventilador. Em se tratando do congresso nacional, sabe-se lá habitar seres já cronicamente excrementados. Moral da história: Jarbas saiu do plenário com as roupas emporcalhadas de fezes...
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Não que os nossos congressistas mereçam ser poupados da inclemência de discursos contundentes, desafiadores da transparência dos seus atos, mas Jarbas não é um desinfetante que se cheire.
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Pelo contrário, o odor de creolina inundou o ambiente quando a velha raposa oportunista começou a bradar vitupérios a esmo.
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O principal objetivo do indignado orador, muito longe de tentar moralizar o legislativo, era, em primeiro lugar, trazer o foco das atenções para si, num momento em que a voracidade incontida do PMDBosta dominava as barganhas tradicionais por cargos e posições de prestígio.
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Interessava-lhe, sim, no papel de capitão do mato Zé- serrista, arregimentar grande parte do podre partido da situação - naquele instante os seus seguidores estariam, então, ungidos pela pureza franciscana - para engrossar as fétidas brancaleônicas fileiras do PSDBunda, controladas pelo paulistano motoSerra, rumo à conquista do Planalto em 2010.
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Voltando agora as atenções para João Grilo, permito-me fazer uma alusão ao gato que ele queria vender, alegando ser o bichano um descomedor de dinheiro: “passa a mão no traseiro do gato e tira uma prata de cinco tostões”.
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Tratava-se apenas de um prosaico ardil, imaginado por um pobre homem nordestino, tentando sobreviver às agruras do seu dia a dia.
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Algum espertalhão, que não se sabe por que cargas d’água por ali passava, até porque água no árido nordeste é coisa rara, sorrateiramente presenciou aquela cena e percebeu ser o golpe de muita valia. Utilizou-o com grande sucesso e outros, e mais outros, e muitos outros sabidões, passaram também a explorar o esfíncter anal do gato alheio para ganhar muito dinheiro; daí por diante uma quantidade enorme de felinos foram sequestrados mundo afora.
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Dependendo da belezura do animal, da idade, do valor de cada moeda investida e da retro quantidade armazenada, o sucesso da empreitada poderia ser fantástico!
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Acontece que de tanto ser aplicada, ao mesmo tempo em que se espalhava por todo o planeta, a falcatrua acabou ficando fora de controle.
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Quem se sentia lesado tentava passar o gato pra frente, o mais rápido possível, mesmo perdendo algum dinheiro. Alguns se afeiçoavam ao bicho, alimentavam-no, criavam-no, cuidavam-no. Ao final de algum tempo, além do investimento na compra do animal, percebiam ter assumido despesas fora de controle e sentiam a necessidade de revendê-lo. No afã de obter alguma vantagem, os donos dos cofregatos acabavam depositando nos intestinos do pobre animal uma quantidade excessiva de moedas. O resultado do entupimento monetário da vítima levava-a ao inevitável sacrifício.
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A coisa foi ficando cada vez mais fora de controle e culminou com a criação de gatos produzidos secretamente em laboratórios clandestinos. A grande novidade desenvolvida pelos veterinário-econômico-cientistas revolucionou o comércio felino-descomedor de valores.
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Baseados na anatomia do aparelho digestivo dos seres ruminantes, os denomonados felinonovos receberam um estômago extra, ligado diretamente ao intestino reto do bichano. Pode-se imaginar o grande sucesso do bem bolado enxerto anatômico: a capacidade de armazenamento de valores quase que quintuplicou, tornando os gatos naturais completamente obsoletos. Os saqueadores, comerciantes, criadores e atravessadores desses animais passaram a ser conhecidos pela alcunha de gatunos, espalhando-se com incrível velocidade pelo mundo afora.
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Passado algum tempo, com o intuito de organizar e fiscalizar toda essa esbórnia financeira, causada não só pela comercialização e criação de felinos descomedores de valores, como também pelo contrabando cada vez mais intenso desses animais, foi então criado o F M I AU.
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Concomitantemente estabeleceu-se que, em virtude da diversidade das moedas transacionadas, os negócios deveriam ser, dali por diante, concretizados exclusivamente num imenso e poderoso templo financeiro denominado MI WALL STREET.

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