A humanidade
começou a se desinteressar por sua continuidade. O alarme veio do Japão. Aquela
terra tão miúda, que nos meus tempos de juventude preocupava era a quantidade
de gente que havia por lá.
Pois bem, as
folhas noticiam que o governo japonês está criando espaços públicos para
namoros coletivos. Os espaços visariam facilitar o encontro de jovens para que
uma relação estável possa acontecer e com isso promover um acasalamento.
Apostam que os afetos promovidos nesse acasalamento possam gerar filhos. Uma
coisa que acontecia normalmente com tanta frequência, que levou os chineses a
limitarem um filho por casal. Essa proibição chinesa também já foi abolida –
talvez acompanhando o que acontece no Japão.
O que os
japoneses descobriram é que a taxa de natalidade vem caindo assustadoramente. O
modo de vida moderno tende ao individualismo e às relações virtuais através dos
aparelhos interativos que foram impostos à vida moderna. Basta um indivíduo e
um smartphone para uma relação digital com o mundo. Com isso o contato entre
dois humanos, de forma analógica – digamos assim – caiu vertiginosamente. As
relações entre duas pessoas são efêmeras e necessárias às relações sexuais –
cada vez mais bissexuais também – desprovidas de interesses mais profundos
necessários à geração de outros humanos. Hoje, no Japão, um quarto da população
já tem mais de sessenta anos. Estima-se que em cinquenta anos – mantido o ritmo
atual de natalidade – essa relação ultrapasse os cinquenta por cento. E
certamente isso inviabilizará a economia e os programas sociais para sustentar
os velhos.
Assustadoramente
poderíamos viver a solução preconizada em um antigo filme de ficção, cujo nome
não me lembro agora. No filme, a terra no futuro estava devastada não permitindo
a agricultura e pecuária. Então, os velhos – chegada à idade estabelecida, como
naquele também antigo desenho dos dinossauros – eram levados a uma sala de
cinema, com lindas imagens do que a terra fora um dia, para morrerem lentamente
e sem dor – recordando o belo passado que a humanidade foi um dia. Eram então
processados industrialmente para alimentar os mais jovens que viviam até o
momento de virar a própria comida. Este era o segredo do filme, para nós
espectadores. No filme matavam-se os velhos para alimentar aos vivos. Na vida
real podemos ter que matá-los para alimentar a economia.
Parece que
os japoneses estão preocupados com a ideia da solução final que talvez seja
aplicada aos nossos velhos que teimam em viver além do que permite a economia.
(Seria
melhor algo diferente do que ocorre aqui entre nós no combalido sistema de
saúde sem o aporte de verbas suficientes. Com menos sofrimento, pelo menos).
E eles
identificaram o problema na relação doentia entre os jovens e suas máquinas
digitais. Oxalá as casas de encontro públicas, que os japoneses estão criando
para resolver o problema de aumentar a taxa de natalidade entre os jovens, deem
resultado que evitem uma tragédia na terceira idade. O problema não é só do
Japão, mas de toda a porção “civilizada” do planeta.
Certamente
você já viu um casal num restaurante, que ao invés de estar num agarra-agarra ou
mesmo conversando, estão com dedos e olhos nos smartphones maravilhosos,
preferindo os encontros digitais aos, digamos, analógicos. E, se os japas
estiverem certos, teremos menos nascimentos mundo afora, ameaçando a própria
humanidade.
Curioso, se
não hilário, foi o indicador econômico que disparou a desconfiança dos
japoneses de que estavam nascendo menos crianças do que a quantidade de velhos
que teimam em viver: a quantidade de vendas das fraldas geriátricas passou a
ser maior do que a venda de fraldas para bebês. Uma merda de indicador
econômico, mas eficiente.
Talvez um
aviso como o do cartaz “Não temos wi-fi,
conversem entre vocês”, colocado nos ambientes em que não é permitido
fumar, tenha a mesma eficiência do que as casas de encontro japonesas. Ah!, e
poderia ter um adendo: “é permitido fumar
para quem estiver num relacionamento sério com o parceiro do lado”.
Um comentário:
Adorei o seu Texto Edmar. Parabéns!
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