domingo, 24 de janeiro de 2016

No coração da noite estrelada

(Geraldo Borges)


Continuariam o romance? Isso pertencia ao futuro, que não passava, como a poesia, de uma viagem rumo ao desconhecido.”

            A leitura do romance de Rogério Newton, editora Nova Aliança -  No coração da noite estrelada, sim, é um romance,  cujo roteiro nos leva do começo ao fim, dentro de um ritmo, se não de grande expectativa,   nos conduz pelas ruas e becos de uma velha cidade, Oeiras, como se o leitor fosse levado pela mãos de um cicerone. E, além do mais, não foge da estrutura do romance moderno e contemporâneo obedecendo a maioria das funções da narrativa.

 Enquanto isso a história vai se desenvolvendo através de um rápido reencontro de jovens que aproveitam uma greve nacional de estudantes  para descansar em suas casas, na velha cidade de Oeiras. Aí começa o romance, que deixa transparecer claramente o seu tema.

Trata se de uma história de duas gerações que se contrapõem: a aristocracia rural decadente, tentando perpetuar os valores consagrados pelo seu poder cultural e político, transferindo os para as novas gerações. Essas, mesmo relutando aos velhos valores, não conseguem romper diretamente com a família. Existe muito de sentimental na construção psicológica dos personagens, o que caracteriza um apego quase mórbido pelas ruínas da cidade.

            No romance existem alguns personagens símbolos, arquétipos de uma época, como, por exemplo, o padre reacionário, o eremita, característica  bem marcante de um cidade provinciana.

 Do meio para o fim do romance, após o autor já ter descrito bastante o paisagem urbana e arruinada da velha e antiga capital do Piauí, os personagens principais do romance resolvem, então, editar um jornal nanico. Para publicar suas idéias, dizer alguma coisa, mostrar que estavam vivos. Sacudir um pouco o marasmo da província. As idéias do jornal foram um achado para dar ritmo ao enredo do romance. Um fio de meada  para  sair de um labirinto das ruínas,  e entreter os personagens principais; o romance passa a ser um romance de idéias e não mais um passeio turístico.  Cada personagem ficou encarregado de um tema O romance chega ao seu apogeu a essa altura. Aí aparece uma dificuldade, dinheiro, e o jornal vai sendo protelado.

            Eis que aparece um personagem poeta, de repente, já quase no fim do romance, de nome Claudio. Parece até que o romance vai recomeçar. Aparece também outra personagem chamada Paloma. Claudio e Paloma, através de algumas páginas do livro tomam conta do romance e compõem um belo conto, dando maior vibração ao romance, colocando uma nova encruzilhada ao destino  dos personagens, que povoam o romance.  Não sei se o significado dos nomes desses dois personagens dizem alguma coisa  através do inconsciente do autor na tentativa de radicalizar a mensagem ideológica da narrativa. Mas de súbito eles aparecem e desaparecem  das paginas  do romance, cada um  de uma forma mais violenta. Ela foi morta pela repressão por que optou pela luta armada , e ele morreu de um acidente de carro.

            Finalmente a greve terminou e com ela o romance. “Sofriam com a separação e com o jornal marcado para nascer no dia em que pegariam, de volta, a estrada. Firmaram um pacto; um deles imprimiria o jornal e mandaria exemplares para cada um e para Oeiras. Não esperassem as férias. Era preciso que a cidade recebesse logo aquele biscoito fino, especialmente dedicado a ela.”(capitulo XXXIII)

            A promessa do jornal  simbolicamente, é o elixir do conhecimento que a nova  geração de estudantes adquiriu em sua experiência, e cumpre a sua missão tentando passar para  a sua comunidade,  no caso especifico, a cidade de Oeiras, contribuindo para que a mesma,  não mudando a sua moldura antiga, pelo menos, tenha uma nova visão do mundo. No entanto fica a pergunta. Será se o jornal sairá do primeiro número? Bom. Entre romance e realidade, há muita coisa que não sonha a nossa vã filosofia.






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