domingo, 28 de dezembro de 2014

RETROSPECTIVAS


(Edmar Oliveira)

Este foi um ano duro para as previsões. Mãe Dinah morreu e o ano enterrou na literatura Gabo, Suassuna, Ubaldo e Manoel de Barros numa tacada sem dó nem piedade. Nos rostos da tv se foram o vozeirão de Paulo Goulart, as caras de Wilker e Carvana, as vozes de Marlene e Simonal. Até o Chaves preferiu morrer do que perder a vida.

Um avião da Malásia desapareceu com mais de duzentas pessoas, sem deixar rastro num planeta completamente escaneado por GPS. Parece mistério da antiga série de tv “Acredite se quiser”, apresentada pelo cavernoso Jack Palance. Alguém lembra? (Acho até que ele apresenta este ano maluco). E outro avião do mesmo porte e da mesma companhia foi abatido por um desentendimento entre nações pertencentes à antiga União Soviética. Numa briga de comadres que erraram o alvo (seria o avião do Putin?). Para variar, Israel massacra a Palestina outra vez. Desta vez bombardeando crianças refugiadas numa desmoralizada ONU. Uns malucos querem refundar um califato e o Estado Islâmico nasce em território conflagrado sob a égide do terror e tentando voltar à escuridão da idade média em meio às conquistas da tecnologia.

Aqui na terra tivemos eleições. Um avião matou um candidato, sua substituta morreu na praia do primeiro turno. Num segundo turno ganhou uma candidata que ameaça governar com alguns projetos de quem perdeu. O candidato que perdeu, perdeu também a cabeça e se juntou à direita mais atrasada comandada pelo Lobão. Ratos roeram o barril de petróleo da Petrobrás e os donos das empreiteiras (que para  terem maiores lucros alimentavam os ratos comissionados e os políticos) passaram o natal na cadeia juntos com alguns ratos. Mudou o Natal ou mudou a justiça? A Petrobrás parece desacreditada, mas o Soros tá comprando as sua ações baratinhas.

Eike Batista ficou pobre. O Brasil perdeu a copa no Brasil numa goleada de sete a um para a Alemanha. O Vasco trocou de lugar com o Botafogo. O glorioso viu a glória ir para a segunda divisão pela segunda vez.


Mas ninguém foi capaz de prever a última surpresa deste ano louco, bem no finalzinho: Obama e Raul anunciaram libertação de prisioneiros e reatamento de relações quebradas desde 1961. Obama confessa que não deu resultado e pede ao congresso americano o fim do embargo econômico. Num mundo devassado e sem segredos, as negociações ocorreram em surdina, com a intermediação do Papa Francisco, sem que ninguém no planeta pudesse suspeitar. O velho ditador não falou nada (será que ainda pode falar?), mas o povo cubano já comemora nas ruas. 1961 foi o ano que Obama nasceu e não fazia sentido manter essa asfixia ao povo cubano. E o Obama ganhou um Nobel da paz, que talvez agora tenta merecer.     

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desenho: Luiz Villa

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