domingo, 14 de dezembro de 2014

Paranóia

(Edmar Oliveira)
Boçalnato por Máximo

Quase meio milhão de cariocas deu a maior votação a deputado federal para uma excrescência de nossa atual política, o representante da extrema direita nacional, o guardião dos ossos dos rebeldes que ousaram contestar o regime militar de triste memória. Essa quantidade de mentes cariocas possibilita a carreira política de um energúmeno inominável que só a raça humana é capaz de produzir. Um ser abjeto capaz de matar um semelhante para impor o terror do seu pensamento fascista. Não me alinho dentre os que acham que a democracia pode permitir a expressão de um pensamento que nega a sua existência. Entendo que a democracia tem o dever de proteger a sua existência, tão duramente conquistada com o sacrifício de muitas vidas. Sou de uma geração que viveu a sua juventude sem esperança, porquanto a ditadura militar parecia se fazer sem fim. Uma experiência que não desejo ser vivida nunca mais, nem tampouco por meus filhos, nem por meus netos.

Mas saímos de uma ditadura sem os traumas necessários que agora foram apontados pela Comissão da Verdade, quando elenca a lista de culpados a partir do primeiro ditador, passando por todos os mandantes e executores. Por termos nos conformados com uma anistia recíproca – o recíproco aí concedido em causa própria pelos donos do poder – não acertamos as contas de forma devida com o nosso passado e isso permite que meio milhão de cariocas possa eleger um representante que prometa à nação que os anos de chumbos eram dourados.

Achando-se dono dessa montanha de votos, o deputado se transforma num porco chauvinista raivoso, homofóbico e se dirigiu recentemente a uma deputada esquerdista (ex-ministra dos Direitos Humanos) confessando “que não a estrupa porque ela não merece”. Sem qualquer comentário a uma construção de sentença que nunca imaginei ser possível ao mais degradante dos seres humanos, me surpreendo com a placidez com que a Comissão de Ética da Câmara dos deputados tem com este ignóbil sujeito, e não propõe sua imediata cassação por quebra de decoro parlamentar. Sou do tempo em que um deputado foi cassado por quebra de decoro apenas por se deixar fotografar de cuecas. Se este imbecil não é cassado imediatamente, temos que considerar que estamos diante de uma câmara indecorosa e conivente com a ofensa inominável. O que é lamentável para a nossa jovem democracia.

Rolou um abaixo assinado para pressionar a Comissão de Ética, com mais de cem mil assinaturas, mas estamos ainda longe do meio milhão que aplaudem essa figura execrável. Mesmo que a sociedade organizada cale a boca pública desse indizível sujeito, temo pelo expressivo numero de meio milhão.


E ando desconfiado no Rio. O meu vizinho pode ser um deles. O cara do bar na mesa próxima pode fazer parte desse exército. Estou apreensivo e a minha paranoia tem meio milhão de cariocas me perseguindo... 






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