domingo, 28 de dezembro de 2014

Louco (Hora de Delírio)



Não, não é louco. O espírito somente 

É que quebrou-lhe um elo da matéria.
 

Pensa melhor que vós, pensa mais livre,
 

Aproxima-se mais à essência etérea.



Achou pequeno o cérebro que o tinha:
 

Suas idéias não cabiam nele;
 

Seu corpo é que lutou contra sua alma,
 

E nessa luta foi vencido aquele,



Foi uma repulsão de dois contrários:
 

Foi um duelo, na verdade, insano:
 

Foi um choque de agentes poderosos:
 

Foi o divino a combater com o humano.



Agora está mais livre. Algum atilho
 

Soltou-se-lhe o nó da inteligência;
 

Quebrou-se o anel dessa prisão de carne,
 

Entrou agora em sua própria essência.



Agora é mais espírito que corpo:
 

Agora é mais um ente lá de cima;
 

É mais, é mais que um homem vão de barro:
 

É um anjo de Deus, que Deus anima.



Agora, sim — o espírito mais livre
 

Pode subir às regiões supernas:
 

Pode, ao descer, anunciar aos homens
 

As palavras de Deus, também eternas.



E vós, almas terrenas, que a matéria
 

Os sufocou ou reduziu a pouco,
 

Não lhe entendeis, por isso, as frases santas.
 

E zombando o chamais, portanto: - um louco!



Não, não é louco. O espírito somente
 

É que quebrou-lhe um elo da matéria.
 

Pensa melhor que vós, pensa mais livre.
 

Aproxima-se mais à essência etérea.



(Junqueira Freire)

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foto: João Freitas Filho

a foto e o poema foram garimpados por Cinéas Santos

Junqueira Freire (1832 - 1855) nasceu e faleceu em Salvador (BA). Monge beneditino, sacerdote e poeta, Freire é autor de uma série de poemas acerca dos sofrimentos da vida religiosa.

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