Antônio Francisco Da
Costa e Silva (1885 – 1950), nasceu na cidade de Amarante, no Piauí, às
margens do Rio Parnaíba, rio que passou a ser conhecido como “Velho Monge” a
partir dos versos do poeta. Foi menino de brincadeiras rurais e banhos de rio,
onde conheceu a alma do velho monge que separa o Piauí do Maranhão. Desenhava e
era habilidoso com madeira, chegando a ser “santeiro”, ainda muito jovem. Mas
já gostava de escrever versos, desde que aprendeu as primeiras letras.
Foi para o Liceu da capital ainda muito jovem e de lá para o
Recife, onde começa o curso de direito, que só vai terminar muito mais tarde.
No Recife é contaminado pelo a efervescência literária da época. No entanto já
era feito poeta em sua terra, influenciado por livros de Verlaine, Baudelaire,
Francis James, Mallarmé, Poe, Quental, Cesário Verde e Cruz e Sousa. Mas seu
primeiro livro só é publicado em 1908. Testemunhas contam que o poema SAUDADE
(encontrado no fim dessa nota) foi ditado (costume de composição do poeta) à
colega de pensão no Recife em 1907.
Interrompe o curso de Direito para assumir um cargo público
no ministério da Fazenda e para seu exercício morou em São Paulo, Maranhão,
Minas, Rio Grande, Rio de Janeiro. Foi um peregrino em vida, tendo na velhice
ainda morado no Ceará. Esse era o seu “ganha pão” para a composição de seus livros
(Sangue, 1908; Zodíaco, 1914; Pandora, 1919; Verônica, 1927; Alhambra, 1925 –
1933, escritos finais). Há uma edição de 200 volumes de uma obra completa,
publicada no centenário do poeta, ed. Nova Fronteira, da qual sou o feliz
proprietário do exemplar de número 198. Mais três na minha frente eu estaria
fora. Louvo a sorte e o presente de Assaí Campelo.
Tentou entrar no Itamaraty algumas vezes, mais era impedido
pelo próprio Barão do Rio Branco, chefe daquela casa. Numa versão, Da Costa
teria tomado corarem de saber o motivo do veto, se sempre fora bem indicado. O
Barão respondeu que o Itamaraty queria homens sábios e belos. Dizendo que Da
Costa “tirasse o seu cavalo da chuva” pela feiura. Na versão familiar contada
pelo próprio filho (Alberto da Costa e Silva) o Barão teria dito ao poeta:
“você é um homem de talento, com dom das línguas e presença pessoal. Mas não
serve para a diplomacia, porque é muito feio”. E teria arrematado com crueldade
(nas palavras do filho): “Da Costa, você parece um macaco”.
O feio piauiense, traço comum nos machos do sertão entre os
quais me incluo, escreveu os mais belos versos do nosso cancioneiro e ainda é o
autor do hino do nosso estado.
Viu duas edições dos seus primeiros livros esgotarem-se em
vida, o que muito satisfaz a quem escreve. Dizem que ele próprio não tinha um
exemplar de Sangue para presentear a noiva, sua primeira mulher. Na morte dela
escreve Verônica, uma homenagem à amada, mas também à vida. Sua primeira filha
do segundo casamento tem o nome da primeiro mulher nunca esquecida, Alice.
Creusa, a segunda esposa é a mãe do grande poeta, historiador, africanólogo,
membro da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva, que tem boas
lembranças infantis apesar do pai já velho e entrando em estado demencial. A
partir dos anos trinta não mais compõe. Em 25 de julho de 1950 tem um infarto e
é atendido pelo filho Mário, que é médico. Quatro dias depois parece adormecer
nos braços do filho Alberto e não mais acorda. Mas já estava ausente de si há
muito tempo. Porém seus poemas permanecem vivos nas lembranças de seus
conterrâneos pelo tempo que o velho monge deixe suas barbas escorrerem até o
litoral... (Edmar Oliveira)
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SAUDADE
Saudade!
Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto
lento deslizando em fio ...
Saudade!
Amor da minha terra ... O rio
Cantigas de
águas claras soluçando.
Noites de
junho ... O caburé com frio,
Ao luar,
sobre o arvoredo, piando, piando ...
E, ao vento,
as folhas lívidas cantando
A saudade
imortal de um sol de estio.
Saudade! Asa
de dor do Pensamento!
Gemidos vãos
de canaviais ao vento...
As mortalhas
de névoa sobre a serra...
.
Saudade! O
Parnaíba - velho monge
As barbas
brancas alongando ... E, ao longe,
O mugido dos
bois da minha terra ...
(Sangue, 1908)
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