1968 - UMA GERAÇÃO CONTRA A DITADURA
1968 Uma geração contra a ditadura de Antonio José Medeiros
é um livro que chegou na hora certa.
Trata se de um depoimento, não em forma jornalística, tradicional, com
perguntas e respostas, mas, sim, de uma autobiografia. O autor começa falando
de seu nascimento. Foi tirado a forceps.
Logo no segundo capitulo fala de sua relação com a igreja,
da sua experiência como seminarista. “ Tínhamos
no Seminário algumas academias de
caráter cultural – literário. Em 1963 eu fui eleito presidente da Academia
imaculada Conceição. A nova diretoria liderou uma campanha para transformar a
Academia num grêmio estudantil, como uma maneira dos estudantes do Seminário participarem do movimento
estudantil em suas atividades culturais
, sociais e também políticas.”
No capitulo três já como ex - seminarista, e respeitado na comunidade
eclesiástica, o autor fala sobre a Fafi, ambiente fecundo e território livre.
”A Fafi era um ambiente intelectualmente fecundo e
politicamente democrático. È incrível como uma faculdade criada e mantida em condições financeiras precárias oferecesse um padrão razoável de ensino.” E nesse tempo que começa a sua participação
política no movimento estudantil contra a Ditadura. A sua participação no
congresso da Une, a sua primeira prisão.
Fala no jornal Dominical o porta
voz da Diocese, e para surpresa minha, ressuscita a figura de seu Joaquim
trazendo para as paginas de seu livro um tipo humano muito querido no ambiente
da faculdade e do jornal Dominical.Falou sobre a palestra de Dom Antonio Fragoso, bispo progressista de
Crateús. Lembro-me muito bem desta palestra, eu estive presente; foi no auditório do colégio
Diocesano.Era um bispo corajoso.
Continuando a leitura do livro de Antonio José Medeiros
chego ao quarto capitulo – As prisões.
Para falar a verdade eu não conhecia o Antonio José. Começamos a nos conhecer
na prisão, e nos tornamos amigos. Ele fala sucintamente de cada colega da
prisão. Talvez tenha se esquecido de registrar muitos episódios, No entanto, traçou
o perfil psicológico, de cada um de seus companheiros de cela.
”Benoni era o mais “ escolado .” Sabia dosar certa
compenetração de revolucionário com o bom humor. Às vezes me gozava pelo que
ele chamava de “ ingênua seriedade cristã.” Tínhamos boas discussões. Era o que
mais sentia a falta do mundo exterior, por isso vivia criando oportunidade para
contatar com alguém “ de fora da cela.” Era o mais entusiasmado com as nossas
pelada de futebol de salão. Infelizmente, em nove meses, não ganhou a
musculatura de atleta com que ele sonhava.”.
Já quanto ao Samuel. “ Era o mais preocupado com o futuro:
estudos, trabalhos e família. Tinha seus rompantes de violência revolucionária,
imaginando grandes ações contra a ditadura. Ficava horas de bruços na cama,
tamborilando os dedos no ar, talvez acompanhando o ritmo de seus pensamentos ou
deixando escapar as energias acumuladas.”
Por último, “ O Geraldo Borges , o sempre querido Geraldin,
era um “filosofo oriental.” Ficava em posição iogue por longo tempo e mastigava os alimentos com
tanta calma que me deixava impaciente. Como já disse era um grande conhecedor
da literatura brasileira e universal.
Foi meu guru literário.”
Pena que o Antonio José não explorou mais o capitulo: - As prisões. Dedicou-lhe apenas
cinco paginas. Lembro que fomos julgados em junho mês da copa do mundo. E
assistimos a vitoria do Brasil, campeão do mundo, de dentro de uma cela, em uma
TV exposta no corredor do quartel próximo a Auditoria Militar E lembro também a
famosa frase que o nosso advogado Pádua Barroso proferiu na abertura de nosso
julgamento. Estes jovens pensam que o céu é perto e o mar e raso.
No capitulo cinco Antonio José fala no movimento social e político da igreja na organização
dos sindicatos rurais antes de 1964, oferecendo ao leitor uma recuo cronológico
em seu depoimento.
No capitulo seis
insere uma entrevista do Benoni Alencar para o Jornal Diário do Povo. E
um pequeno painel de como se desenvolveu a luta estudantil no Piauí no tempo da
ditadura.
No capitulo sete Antonio José vai para o Rio de Janeiro,
antes passou pela Bahia. “ O Rio de Janeiro, além de uma rica experiência
intelectual e profissional, foi uma experiência social e cultural muito
estimulante e que eu vivi com muita intensidade.” Mas Antonio José não para no
Rio.
No próximo capitulo ele já está com o pé da estrada rumo ao Canadá. Conhece praticamente todo o
continente americano. Encontrou o meu amigo Raimundo Santos, exilado político,
na Costa Rica, dando aula. Depois dessa grande experiência que se tira das
viagens Antonio José esta de volta a Teresina.
Aí começa o capitulo nove. A Volta Trabalho, “Bar, Café, Filosofia.” Voltou para
ser profeta em sua terra: Montou a livraria Corisco, com Cineas Santos e outros
sócios.Depois rompeu com eles e montou a sua própria livraria;- A Punaré, que
também não durou muito. Vender livros no Piauí não é fácil. O capítulo e curto, mas irônico,
e termina com a poesia do saudoso poeta e latinista Claudio Ferreira Em tempo.
Antonio José deixou de falar que foi um
dos fundadores do jornal Chapada do Corisco. Um jornal nanico.
O livro constitui se ao todo de
quinze capítulos num leque bom de ventilar a memória. Alguns personagens do
livro tiveram capítulos especiais. Capitulo doze. Dom Avelar: A difícil busca
da virtude. Ribamar Lopes Um militante
decente. Capitulo treze, Mas, em resumo, o livro do Antonio José fala da ditadura no Piauí: repressão e resistência,
E um recado para as novas gerações.
(Geraldo Borges)
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