domingo, 21 de setembro de 2014

Resenha de GERALDO BORGES

1968 - UMA GERAÇÃO CONTRA A DITADURA

1968 Uma geração contra a ditadura de Antonio José Medeiros é  um livro que chegou na hora certa. Trata se de um depoimento, não em forma jornalística, tradicional, com perguntas e respostas, mas, sim, de uma autobiografia. O autor começa falando de seu nascimento. Foi tirado a forceps.

Logo no segundo capitulo fala de sua relação com a igreja, da sua experiência como seminarista. “ Tínhamos  no Seminário  algumas academias de caráter cultural – literário. Em 1963 eu fui eleito presidente da Academia imaculada Conceição. A nova diretoria liderou uma campanha para transformar a Academia num grêmio estudantil, como uma maneira dos estudantes do  Seminário participarem do movimento estudantil em suas atividades  culturais , sociais e também políticas.”

No capitulo três já como ex  - seminarista, e respeitado na comunidade eclesiástica, o autor fala sobre a Fafi, ambiente fecundo e território livre.
”A Fafi era um ambiente intelectualmente fecundo e politicamente democrático. È incrível como uma faculdade criada  e mantida em condições financeiras  precárias oferecesse  um padrão razoável de ensino.” E  nesse tempo que começa a sua participação política no movimento estudantil contra a Ditadura. A sua participação no congresso da Une, a sua primeira prisão.  Fala no jornal Dominical o  porta voz da Diocese, e para surpresa minha, ressuscita a figura de seu Joaquim trazendo para as paginas de seu livro um tipo humano muito querido no ambiente da faculdade e do jornal Dominical.Falou sobre a palestra de  Dom Antonio Fragoso, bispo progressista de Crateús. Lembro-me muito bem desta palestra, eu  estive presente; foi no auditório do colégio Diocesano.Era um bispo corajoso.

Continuando a leitura do livro de Antonio José Medeiros chego ao  quarto capitulo – As prisões. Para falar a verdade eu não conhecia o Antonio José. Começamos a nos conhecer na prisão, e nos tornamos amigos. Ele fala sucintamente de cada colega da prisão. Talvez tenha se  esquecido  de registrar muitos episódios, No entanto, traçou o perfil psicológico, de cada um de seus companheiros de cela.

”Benoni era o mais “ escolado .” Sabia dosar certa compenetração de revolucionário com o bom humor. Às vezes me gozava pelo que ele chamava de “ ingênua seriedade cristã.” Tínhamos boas discussões. Era o que mais sentia a falta do mundo exterior, por isso vivia criando oportunidade para contatar com alguém “ de fora da cela.” Era o mais entusiasmado com as nossas pelada de futebol de salão. Infelizmente, em nove meses, não ganhou a musculatura de atleta com que ele sonhava.”.
Já quanto ao Samuel. “ Era o mais preocupado com o futuro: estudos, trabalhos e família. Tinha seus rompantes de violência revolucionária, imaginando grandes ações contra a ditadura. Ficava horas de bruços na cama, tamborilando os dedos no ar, talvez acompanhando o ritmo de seus pensamentos ou deixando escapar as energias acumuladas.”

Por último, “ O Geraldo Borges , o sempre querido Geraldin, era um “filosofo oriental.” Ficava em posição iogue  por longo tempo e mastigava os alimentos com tanta calma que me deixava impaciente. Como já disse era um grande conhecedor da literatura  brasileira e universal. Foi meu guru literário.”

Pena que o Antonio José não explorou mais  o capitulo: - As prisões. Dedicou-lhe apenas cinco paginas. Lembro que fomos julgados em junho mês da copa do mundo. E assistimos a vitoria do Brasil, campeão do mundo, de dentro de uma cela, em uma TV exposta no corredor do quartel  próximo a Auditoria Militar E lembro também a famosa frase que o nosso advogado Pádua Barroso proferiu na abertura de nosso julgamento. Estes jovens pensam que o céu é perto e o mar e raso.
No capitulo cinco Antonio José fala no movimento  social e político da igreja na organização dos sindicatos rurais antes de 1964, oferecendo ao leitor uma recuo cronológico em seu depoimento.
No capitulo seis  insere uma entrevista do Benoni Alencar para o Jornal Diário do Povo. E um pequeno painel de como se desenvolveu a luta estudantil no Piauí no tempo da ditadura.
No capitulo sete Antonio José vai para o Rio de Janeiro, antes passou pela Bahia. “ O Rio de Janeiro, além de uma rica experiência intelectual e profissional, foi uma experiência social e cultural muito estimulante e que eu vivi com muita intensidade.” Mas Antonio José não para no Rio.
No próximo capitulo ele já está  com o pé da estrada  rumo ao Canadá. Conhece praticamente todo o continente americano. Encontrou o meu amigo Raimundo Santos, exilado político, na Costa Rica, dando aula. Depois dessa grande experiência que se tira das viagens Antonio José esta de volta a Teresina.

Aí começa o capitulo nove. A Volta  Trabalho, “Bar, Café, Filosofia.” Voltou para ser profeta em sua terra: Montou a livraria Corisco, com Cineas Santos e outros sócios.Depois rompeu com eles e montou a sua própria livraria;- A Punaré, que também não durou muito. Vender livros no Piauí  não é fácil. O capítulo e curto, mas irônico, e termina com a poesia do saudoso poeta e latinista Claudio Ferreira Em tempo. Antonio José deixou  de falar que foi um dos fundadores do jornal Chapada do Corisco. Um jornal nanico.

O livro constitui se  ao todo de   quinze capítulos num leque bom de  ventilar a memória. Alguns personagens do livro tiveram capítulos especiais. Capitulo doze. Dom Avelar: A difícil busca da virtude. Ribamar Lopes  Um militante decente. Capitulo treze, Mas, em resumo, o livro do Antonio José  fala  da ditadura no Piauí: repressão e resistência, E um recado para as novas gerações.

(Geraldo Borges)

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