Diz um antigo provérbio lituano
que o cuspe de cego é latrina de saudade. Sempre achei muito profunda e viscosa
essa máxima da sabedoria caucasiana. Hoje quero falar da verdade. Não de
qualquer verdade ou dogma, mas da verdade que o povo traz em seus ditados e
provérbios. Não é por acaso que meu vizinho, um velho turco, gosta de falar
quando vê uma mulher bonita e grávida: “Se nada fosse como se vê, seria a
viração do irreal na barriga das megeras”. Ele tem razão, claro que tem razão.
Minha mãe, pessoa muito culta e que nunca frequentou banco de faculdade, é meu
modelo de sabedoria plena. Dela, sempre ouvir dizer coisas do tipo: Você precisa azeitar o eixo do sol,
quando me queria longe, ou então, você
não tem no cu o que o priquito roa, quando queria despertar em mim um pouco
de modéstia, um redutor da soberba. Há pessoas que “se acham”, são verdadeiras
bostas ambulantes cobertas de belas roupas e perfumes caros. Tirando-lhes a
camada de verniz, o que sobra? Um toletão malcheiroso e, pior, falante. Temos esse
hábito maluco de querer ser o que não somos e isso me leva a outro provérbio
muito apreciado na Escola de Miceto, no século XI, pouco antes da construção da
Basílica de São Gervásio, em Ímola. Reunidos, os monges, quando um deles, sem
poder segurar a força interior de seu intestino, entregue totalmente aos
movimentos peristálticos e à fraqueza inexorável do esfíncter, peidou
ruidosamente nas matinas de novembro, olharam-se pasmos. Uma afronta às preces.
Não bastasse o fétido gás que exalara, percebeu-se seu desconforto dentro do
hábito marrom. O que está havendo, irmão Bernardo de Varonese? Ele, um jovem
noviço, muito tímido, respondeu: Irmãos, perdoem meus intestinos, eles não
sabem o que fazem. E isso é muito comum na história da humanidade; por não saber
o que fazem, os homens continuam fazendo merda a torto e a direito. Bem nos
fala o ditado javanês: O homem é a máscara de sua própria fantasia
desmascarada. E tenho dito.
Leonardo, o bofe
A luz da noite matinal.
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