domingo, 19 de janeiro de 2014

Provérbios


Diz um antigo provérbio lituano que o cuspe de cego é latrina de saudade. Sempre achei muito profunda e viscosa essa máxima da sabedoria caucasiana. Hoje quero falar da verdade. Não de qualquer verdade ou dogma, mas da verdade que o povo traz em seus ditados e provérbios. Não é por acaso que meu vizinho, um velho turco, gosta de falar quando vê uma mulher bonita e grávida: “Se nada fosse como se vê, seria a viração do irreal na barriga das megeras”. Ele tem razão, claro que tem razão. Minha mãe, pessoa muito culta e que nunca frequentou banco de faculdade, é meu modelo de sabedoria plena. Dela, sempre ouvir dizer coisas do tipo: Você precisa azeitar o eixo do sol, quando me queria longe, ou então, você não tem no cu o que o priquito roa, quando queria despertar em mim um pouco de modéstia, um redutor da soberba. Há pessoas que “se acham”, são verdadeiras bostas ambulantes cobertas de belas roupas e perfumes caros. Tirando-lhes a camada de verniz, o que sobra? Um toletão malcheiroso e, pior, falante. Temos esse hábito maluco de querer ser o que não somos e isso me leva a outro provérbio muito apreciado na Escola de Miceto, no século XI, pouco antes da construção da Basílica de São Gervásio, em Ímola. Reunidos, os monges, quando um deles, sem poder segurar a força interior de seu intestino, entregue totalmente aos movimentos peristálticos e à fraqueza inexorável do esfíncter, peidou ruidosamente nas matinas de novembro, olharam-se pasmos. Uma afronta às preces. Não bastasse o fétido gás que exalara, percebeu-se seu desconforto dentro do hábito marrom. O que está havendo, irmão Bernardo de Varonese? Ele, um jovem noviço, muito tímido, respondeu: Irmãos, perdoem meus intestinos, eles não sabem o que fazem. E isso é muito comum na história da humanidade; por não saber o que fazem, os homens continuam fazendo merda a torto e a direito. Bem nos fala o ditado javanês: O homem é a máscara de sua própria fantasia desmascarada. E tenho dito.

 

Leonardo, o bofe

A luz da noite matinal.


 

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