domingo, 5 de janeiro de 2014

1 verso & sua réplica

A PORTA SANFONADA 

Meio centímetro do esquadro
O velho portal dá trabalho
Em aceitar a nova porta sanfonada 

As velhas coisas se recusam a admitir as novidades 

O banheiro quer a porta antiga
De madeira irregular
Deixando vazar a água na direção da cozinha 

O velho mestre-de-obras não se rende às evidências
Tritura alguns centímetros
Instala no novo esquadro
A nova porta sanfonada
Branca, limpa, reluzente
Para a felicidade do velho banheiro
E asseio da cozinha

 
(Climério Ferreira)

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&   sua réplica:


POESIA EM TUDO QUE É COISA E LUGAR 

Celso Adolfo Marques
 

Climério continua a provar 
que há poesia em tudo que é coisa e lugar. 

No seu poema sobre
o portal fora de esquadro
sobre a porta nova que quer substituir a velha
a porta velha que não quer ceder lugar à nova
a madeira e no marceneiro 

Prova que há poesia
nas velhas mãos do velho mestre de obras
há poesia antiga rebatendo a que é nova 

no banheiro há poesia. 

Na sanfona há uma porta
e um sanfoneiro atrás das duas. 

No esquadro
nos pingos d'água
nas ferramentas
na cozinha e no banheiro ainda há poesia. 

Duchamps na França
poetas no Piauí e no DF
Marcos Coelho Benjamim
(que ajuntou a poesia da limalha 
e montou uma exposição-deboche 
chamada Borracharia Duchamps em BH)
Manoel Bandeira 
(que viu a poesia do coelhinho da Índia
e d Irene preta que entrou no céu)
Drummnd (que viu um burro e a vida besta) 

são pessoas
de ordinária e extrarodinária importância. 

Tudo valendo as penas e alegrias desta vida,
mais não direi em 2013,
que é para tranquilizar os espíritos de 2014.

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& Cinéas Santos ainda disse:

Numa porta, numa pia...
há vida pulsando em tudo
quando visto com poesia.

 

 

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