domingo, 23 de dezembro de 2012

um conto de natal


Edmar Oliveira
 
A velha levou o menino pro padre fazer o batismo. O menino nasceu no pé da serra do Araripe, num lugarejo do mesmo nome, perto do Baixio dos Doidos. Por cima da serra um chapadão se estendia a perder de vista separando os dois estados nordestinos. Mas o lugar do nascimento ficava muito distante das duas capitais na mesma lonjura. O lugar em que o menino nasceu era verde quando chovia e o mel das abelhas inxu era o melhor daquele pé de serra.

A velha que levou o menino para receber o batismo não sabia o nome do menino. Como era dia de Santa Luzia o padre chamou de Luiz o menino sem nome. E a velha nem sabia o sobrenome dos pais. De modo que ficou Nascimento em louvor ao mês do nascimento do menino Jesus. O menino cresceu vendo e apreendendo os ensinamentos do pai. Mais ou menos taludinho tentou enfrentar um fariseu na feira. Apanhou da mãe, fugiu de casa e desapareceu. Naquele pé de serra não se sabia notícia do menino por muito tempo. O menino escafedeu e o povo se esqueceu. As abelhas de inxu faziam mel, mas quando o mandacaru secou, o lameiro empedrou, as arribaçãs sumiram, o mel acabou.

Quando não chove no chão, a terra avermelha, fica fina feito pó levada pelo vento, cobre as soleiras das portas com a cor da terra. Os açudes secam na rapidez do sol escaldante, a água evapora saindo de dentro do chão esturricando e rachando o fundo das reservas d’água. O gado come a palma do mandacaru enquanto tem. O cabrito lambe o sal da terra procurando sustança. Perto do Natal Santana lembrava do menino que foi embora e já se fazia muito tempo.

Foi preciso esverdear, o ribeirão voltar, a flor brotar para as abelhas inxu trabalharem afiadas no fabrico mel. Nas ondas do rádio alguém descobriu a voz do menino. Cantando loas à terra deixada pra trás, mas não esquecida. E era de sua terra que o menino cantava em louvor a sua gente. Era Gonzaga que fazia sucesso lá pras bandas do sul.

O resto da história o povo sabe de cor. E uma outra lua brilha no céu na comemoração dos cem anos do rei do baião.    
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foto: a lua é do Paulo Tabatinga onde eu botei a sanfona do Lua.   

Um comentário:

filipe com i disse...

Emocionante!!! Vi o filme recentemente e realmente o conto está melhor que o mel inxu, parabéns poeta e feliz 2013!!
Filipe Doutel