domingo, 23 de dezembro de 2012

Jesus, um cara legal


 

Geraldo Borges           


Jesus deve ter sido um cara muito legal. Claro. Irradiando luz. Continua sendo. Imagino-o com a sua família na aldeia de Nazaré no meio dos irmãos, da mãe, dos tios, trabalhando na oficina de marceneiro do seu velho pai.
 
            Aos doze anos assustou toda a comunidade de fariseus quando passou um pito nos doutores. Talvez tenha começado aí a sua tragédia e paixão; justo por contrariar este tipo de gente metido a besta. Tanto que a partir deste momento, desapareceu. Suponho que o tenham deportado.
 
 Daí por diante não se fala mais no evangelho sobre a juventude de Jesus. Ninguém sabe se ele foi roqueiro, passou noites em baladas, andarilho. Silencio total sobre a sua juventude. Alguns historiadores dizem que ele foi para o deserto, meditar. Não sei. Tem gente que acha que ele nunca existiu. Seu nascimento foi um mistério, sua mãe era virgem. E que ele não passa de uma bela metáfora que os judeus ofereceram numa bela jogada de marketing aos gentios.
 
            Durante o seu nascimento os reis magos apareceram com as mãos cheias de presentes para ele. Herodes ficou puto da vida. Por que diziam que o menino iria ser o rei dos judeus. E não sabendo como encontrá-lo mandou matar milhares de crianças recém nascidas. Quem sabe o menino Jesus não estaria no meio delas. Mas o casal Maria e Jose  avisando em sonho pela providencia divina, tomaram o menino e fugiram para o Egito. Só voltaram depois que Herodes morreu.

            Uma voz no deserto anunciou que ia aparecer um messias. Aí Jesus apareceu e foi batizado à margem do rio Jordão. Ninguém diz de onde ele veio. Aí começa depois de batizado o seu ministério, o seu mistério. Como ninguém é profeta em sua terra, ele entra em Jerusalém montando em um jegue. Começa a curar doentes, ressuscita Lazaro, ama Maria Madalena. Tira espíritos malignos dos corpos dos possessos, e lança–os ao mar. Transforma água em vinho. Como eu gostaria de ter bebido deste vinho e desta água que aplaca a sede para toda a vida.

            Jesus de tanto ser um cara legal, de tanta se preocupar com o povo miserável e pecador, de fazer discursos e milagres já tinha até um grupo a seu favor, um partido constituído de apóstolos; Jesus reuniu tanta gente no sermão da montanha, que causou medo as autoridades romanas e judaicas. O pior foi quando multiplicou os pães e os peixes. Os economistas e os comerciantes da época não gostaram. E, fez mais, andou sobre as águas. Que legal bicho. Surfou sem precisar de prancha. Pedro tentou. Pedro sempre tentava e era tentado. Mas como era um homem de pouca fé, afundou. Uma pedra. Mesmo assim Jesus estabeleceu sua  igreja  nesta pedra. Jesus era e é um cara legal.

            Tão legal que, segundo o evangelho, que todo mundo conhece, morreu por nós. È uma historia complicada, com sabor de lenda, mito, enigma. Tudo começou com Adão e Eva  no Paraíso. Só que ninguém entende a leitura,  a escritura, ou, melhor, todo mundo entende lá do seu jeito, ou finge que entende. O importante é que Jesus continua sendo um cara legal. Um cara tão legal que quase ninguém conhece. Até Pedro que ele tanto amava, disse, eu não conheço este homem. Foi a primeira vez que Pedro ouviu o canto do galo. E nós continuamos dizendo a mesma coisa. O diabo é que ele nos conhece. Viu aí?, o diabo tinha que entrar no meio desta história. Pois este rapaz faz parte dela, é um desafio. Tanto quando Jesus Cristo, que é um ponto de interrogação  para os cientistas e filósofos que estão longe de ser um cara  legal quanto ele.

            Jesus que demorou tão pouco fisicamente neste mundo deixou sua sepultura vazia. Deu um susto em Madalena. Passeou pelos caminhos de Emaús junto com alguns apóstolos que não o reconheceram. Comeu peixe. Despediu-se e disse vou para o pai. E prometeu voltar. Alguns poetas acham que ele não deve voltar. Se bem que a bem da verdade ele não saiu daqui. Talvez esteja no deserto. A voz que proclama no deserto. Um cara legal, de braços abertos abençoando o pobre povo brasileiro.
 
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ilustração: Head of Christ, Leonardo Da Vinci
 
 
 

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