Geraldo Borges
Jesus
deve ter sido um cara muito legal. Claro. Irradiando luz. Continua sendo.
Imagino-o com a sua família na aldeia de Nazaré no meio dos irmãos, da mãe, dos
tios, trabalhando na oficina de marceneiro do seu velho pai.
Aos
doze anos assustou toda a comunidade de fariseus quando passou um pito nos
doutores. Talvez tenha começado aí a sua tragédia e paixão; justo por
contrariar este tipo de gente metido a besta. Tanto que a partir deste momento,
desapareceu. Suponho que o tenham deportado.
Daí por diante não se fala mais no evangelho
sobre a juventude de Jesus. Ninguém sabe se ele foi roqueiro, passou noites em
baladas, andarilho. Silencio total sobre a sua juventude. Alguns historiadores
dizem que ele foi para o deserto, meditar. Não sei. Tem gente que acha que ele
nunca existiu. Seu nascimento foi um mistério, sua mãe era virgem. E que ele
não passa de uma bela metáfora que os judeus ofereceram numa bela jogada de
marketing aos gentios.
Durante
o seu nascimento os reis magos apareceram com as mãos cheias de presentes para
ele. Herodes ficou puto da vida. Por que diziam que o menino iria ser o rei dos
judeus. E não sabendo como encontrá-lo mandou matar milhares de crianças recém
nascidas. Quem sabe o menino Jesus não estaria no meio delas. Mas o casal Maria
e Jose avisando em sonho pela
providencia divina, tomaram o menino e fugiram para o Egito. Só voltaram depois
que Herodes morreu.
Uma
voz no deserto anunciou que ia aparecer um messias. Aí Jesus apareceu e foi
batizado à margem do rio Jordão. Ninguém diz de onde ele veio. Aí começa depois
de batizado o seu ministério, o seu mistério. Como ninguém é profeta em sua
terra, ele entra em Jerusalém montando em um jegue. Começa a curar doentes,
ressuscita Lazaro, ama Maria Madalena. Tira espíritos malignos dos corpos dos
possessos, e lança–os ao mar. Transforma água em vinho. Como eu gostaria de ter
bebido deste vinho e desta água que aplaca a sede para toda a vida.
Jesus
de tanto ser um cara legal, de tanta se preocupar com o povo miserável e
pecador, de fazer discursos e milagres já tinha até um grupo a seu favor, um
partido constituído de apóstolos; Jesus reuniu tanta gente no sermão da
montanha, que causou medo as autoridades romanas e judaicas. O pior foi quando
multiplicou os pães e os peixes. Os economistas e os comerciantes da época não
gostaram. E, fez mais, andou sobre as águas. Que legal bicho. Surfou sem
precisar de prancha. Pedro tentou. Pedro sempre tentava e era tentado. Mas como
era um homem de pouca fé, afundou. Uma pedra. Mesmo assim Jesus estabeleceu
sua igreja nesta pedra. Jesus era e é um cara legal.
Tão
legal que, segundo o evangelho, que todo mundo conhece, morreu por nós. È uma
historia complicada, com sabor de lenda, mito, enigma. Tudo começou com Adão e
Eva no Paraíso. Só que ninguém entende a
leitura, a escritura, ou, melhor, todo
mundo entende lá do seu jeito, ou finge que entende. O importante é que Jesus
continua sendo um cara legal. Um cara tão legal que quase ninguém conhece. Até
Pedro que ele tanto amava, disse, eu não conheço este homem. Foi a primeira vez
que Pedro ouviu o canto do galo. E nós continuamos dizendo a mesma coisa. O diabo
é que ele nos conhece. Viu aí?, o diabo tinha que entrar no meio desta história.
Pois este rapaz faz parte dela, é um desafio. Tanto quando Jesus Cristo, que é
um ponto de interrogação para os
cientistas e filósofos que estão longe de ser um cara legal quanto ele.
Jesus
que demorou tão pouco fisicamente neste mundo deixou sua sepultura vazia. Deu
um susto em Madalena. Passeou pelos caminhos de Emaús junto com alguns
apóstolos que não o reconheceram. Comeu peixe. Despediu-se e disse vou para o
pai. E prometeu voltar. Alguns poetas acham que ele não deve voltar. Se bem que
a bem da verdade ele não saiu daqui. Talvez esteja no deserto. A voz que proclama
no deserto. Um cara legal, de braços abertos abençoando o pobre povo
brasileiro.
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ilustração: Head of Christ, Leonardo Da Vinci
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