domingo, 9 de dezembro de 2012

Crônica publicada em 24/10/2010

ARRE, ÉGUA!

Edmar Oliveira

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Mais uma vez fui à Teresina pelo entroncamento de Brasília. Aquele aeroporto parece a Estaca Zero da canção do poeta. Jogaram a gente por um portão A, onde um ônibus nos levava taxiando pela pista comprida até a aeronave estacionada. Cheguei com os primeiros passageiros e aí começou o martírio. Esperamos quase uma hora pelo embarque de outros ônibus, que chegavam conforme o tempo da conexão de São Paulo, Goiânia, Campo Grande e de outras paragens.
Dentro do avião as caras conhecidas dos conterrâneos e o sotaque inconfundível, além do falar alto e fazer graça com tudo, transformou a espera num perfeito mercado do Mafuá. A aeromoça distribuía um panfleto convocando a um Concurso Cultural chamado “Meu Amigo Golfinho”. Solicitava um texto, sugestão de nomes para o bebê golfinho e premiava com uma viagem a Orlando. Meu vizinho de cadeira reclamou da temática, sugerindo que se fizesse um concurso “Meu Amigo Calango”, que era a possibilidade dos conterrâneos participarem. Quando a moça distribuiu umas balas, outro reclamou que na vinda deram um bom-bom mais pretinho e não esse amarelado que parecia um cearense. A moça perguntou se a outra bala era petit gateau.” Era esse francês afrescalhado mesmo” – respondeu o passageiro.
Finalmente os ônibus chegados lotaram a aeronave e a decolagem se fez. Quando começaram a servir o pobre lanche das viagens de hoje, outro conterrâneo comentou que quando começou a viajar nem tinha coragem de falar com a aeromoça, tão arrumada que a moça era, e que serviam o “de comer” numa bacia de inox. “Agora era aquela porcaria de sanduba que parecia o pão massa fina da garapa do Caçula”.
Tinha um vaqueiro do sertão vestido de texano e falando um inglês com sotaque de São Raimundo Nonato. Seu interlocutor só falava “hã-hã”, me parecendo não entender a língua de filme americano cantada pelo outro.
Uma senhorinha, de um metro e meio, cabelo ondulado e brilhante, parecendo penteado com azeite de mamona, foi na casinha do avião e se esqueceu de passar a tramela na porta. Um outro conterrâneo interrompeu os afazeres da tia e falou alto que não era aquela a intenção. Típica desculpa de piauiense.
O comandante anunciou o tempo de vôo e a temperatura esperada pra Teresina já quase à meia-noite: 30º C.! Todo mundo começou a imaginar o sol nascendo e a temperatura subindo, devendo chegar aos quarenta e poucos pelo meio dia. “Arre égua!” – um conterrâneo interjeitou por todos nós...

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