Edmar Oliveira
.
Mais uma vez fui à Teresina pelo entroncamento de
Brasília. Aquele aeroporto parece a Estaca Zero da canção do poeta. Jogaram a
gente por um portão A, onde um ônibus nos levava taxiando pela pista comprida
até a aeronave estacionada. Cheguei com os primeiros passageiros e aí começou o
martírio. Esperamos quase uma hora pelo embarque de outros ônibus, que chegavam
conforme o tempo da conexão de São Paulo, Goiânia, Campo Grande e de outras
paragens.
Dentro do avião as caras conhecidas dos
conterrâneos e o sotaque inconfundível, além do falar alto e fazer graça com
tudo, transformou a espera num perfeito mercado do Mafuá. A aeromoça distribuía
um panfleto convocando a um Concurso Cultural chamado “Meu Amigo Golfinho”.
Solicitava um texto, sugestão de nomes para o bebê golfinho e premiava com uma
viagem a Orlando. Meu vizinho de cadeira reclamou da temática, sugerindo que se
fizesse um concurso “Meu Amigo Calango”, que era a possibilidade dos
conterrâneos participarem. Quando a moça distribuiu umas balas, outro reclamou
que na vinda deram um bom-bom mais pretinho e não esse amarelado que parecia um
cearense. A moça perguntou se a outra bala era petit gateau.” Era esse francês
afrescalhado mesmo” – respondeu o
passageiro.
Finalmente os ônibus chegados lotaram a aeronave e
a decolagem se fez. Quando começaram a servir o pobre lanche das viagens de
hoje, outro conterrâneo comentou que quando começou a viajar nem tinha coragem
de falar com a aeromoça, tão arrumada que a moça era, e que serviam o “de comer”
numa bacia de inox. “Agora era aquela porcaria de sanduba que parecia o pão
massa fina da garapa do Caçula”.
Tinha um vaqueiro do sertão vestido de texano e
falando um inglês com sotaque de São Raimundo Nonato. Seu interlocutor só falava
“hã-hã”, me parecendo não entender a língua de filme americano cantada pelo
outro.
Uma senhorinha, de um metro e meio, cabelo ondulado
e brilhante, parecendo penteado com azeite de mamona, foi na casinha do avião e
se esqueceu de passar a tramela na porta. Um outro conterrâneo interrompeu os
afazeres da tia e falou alto que não era aquela a intenção. Típica desculpa de
piauiense.
O comandante anunciou o tempo de vôo e a
temperatura esperada pra Teresina já
quase à meia-noite: 30º C.! Todo mundo começou a imaginar o sol nascendo e a
temperatura subindo, devendo chegar aos quarenta e poucos pelo meio dia. “Arre
égua!” – um conterrâneo interjeitou por todos nós...
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