domingo, 9 de dezembro de 2012

Primeira crônica (04/11/2007)

PIAUINAUTA



Edmar Oliveira

Quando era pequeno, começando a me entender por gente - como se diz no Piauí -, ficava à noite olhando o céu na esperança de ver o satélite russo que rodeava a terra, lá longe no espaço. Depois, não entendi porque o Gagarin declarou que a terra era azul. Só mais tarde, vendo a terra em fotografias coloridas, compreendi o ponto de vista do Yuri, o que considerei, a princípio, uma ironia. Mas da real ironia do Ari Toledo, me lembro bem. Para os que chegaram recentemente ao planeta, o artista estava no auge com canções picantes e debochadas. A melodia invade a memória, mas não posso dividir com vocês. A letra da canção, não sei toda. Me parece que uns versos diziam assim:

“O progresso nordestino
Esse menino já tem fama mundial
Se é foguete lá num falta
Um piauinauta
Foi ao espaço sideral.
Americano quando chega no espaço
Toma uma pílula, mode jantar
Mas lá no norte nós num faz economia
É melancia, rapadura com jabá...”


O mundo deu suas voltas, o foguete também e, cinco anos depois do Yuri, Armstrong pisou na lua. A frenética corrida invadiu o satélite. Logo depois se descobriu que não valia tanto a pena os vôos para o belo astro dos seresteiros, da famosa canção do Gil. A lua não tinha nada que interessasse à economia, só aos poetas. E estes voam sem necessidade de naves espaciais. As assas da imaginação podem levar a qualquer lugar. Mesmo aos enxeridos, como sou, que escreve sem ser convocado.

Isto me ocorre porque danei a escrever croniquinhas ordinárias, que só satisfazem a mim, mas que, aproveitando o fenômeno da internet, divido com as vítimas da minha caixa postal. E alguns de vocês têm me perguntado a razão de tanta conversa jogada fora. Eu também me pergunto e não sei bem a resposta.

Tendo a achar que me sinto como um piauinauta. Saído do sertão, vivendo no sul maravilha, me sinto perdido no espaço tentando entender a modernidade do planeta. As voltas que ele faz neste início de século me tornaram um estranho no ninho. Meu cordão umbilical me prende à nave mãe do sertão. Mas estou girando sem entender muito bem os acontecimentos. Alguém já disse que a crônica trata como banalidade as coisas sérias ou trata com seriedade as coisas aparentemente banais. Na modernidade, que determina o lugar das coisas sem questionamentos, para entender um pouco os acontecimentos atuais esta estranheza da crônica me é necessária... Preciso conversar comigo mesmo. Mando pra vocês porque falar sozinho é sintoma de loucura!

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