domingo, 9 de dezembro de 2012

Crônica publicada em 13/08/2009


MISTÉRIOS DO TEMPO
 
Edmar Oliveira
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Sabe daqueles dias que você fica em dúvida se teve uma ideia genial ou idiota? Tive um dia desses. Ou melhor, uma noite. Foi insone que esta ideia assustadora me veio à cabeça. Não ousei comentá-la com ninguém por muito tempo até que, numa mesa de bar, falando dela meio sem graça achei um parceiro que acreditava na ideia que tive. Pior, veio nele com as mesmas características da minha. E nem mesmo concordando, conversando muito sobre ela, deixamos de ter a sensação se aquela ideia - agora pelo menos comum de dois - era genial ou idiota. Nem mesmo consumindo bastante álcool, que é um veículo transformador de falsos argumentos em verdades absolutas. Continuamos na dúvida.




Vou enrolar um pouco antes de revelá-la para evitar que você me ache um perfeito idiota e suspenda a leitura assustado. Na verdade eu quero é a possibilidade de ter um terceiro ou quarto membro comum na dúvida para que esta ideia possa circular mais um pouco e não seja destruída precocemente. E tenho minhas razões.



Me lembro agora que, nas minhas aulas de catecismo, quando duvidei que Matusalém tivesse vivido quatrocentos anos o padre argumentou com a relatividade do calendário para não desmentir as sagradas escrituras. Segundo o padre Anselmo, naquela época, o ano poderia ter menos dias que o ano juliano atual. Achei a explicação meio “Mandrake”, mas considerei que o padre tinha que defender sua crença e seu emprego de forma muito firme. Naquele momento firmei a convicção que para ter fé era necessário inventar explicações para vários fatos contraditórios no livro santo. Minha fé foi se desmanchando entre fornecer a outra face para o agressor no novo testamento ou “o dente por dente” do livro antigo. Eu nunca tive tanta fé que me fizesse ir inventando argumentos ao sabor de histórias inverossímeis de Daniel na toca dos leões, dos sonhos adivinhatórios de José do Egito - que certamente explicariam os palpites do jogo do bicho - ou de andar sobre as águas, que no outro livro foram divididas ao meio por Moisés. Por vários destes exemplos - até os delírios expressos no Apocalipse - achei a história dos judeus inconciliável com a os adeptos do Cristo. Mas isto já é outros quinhentos, como gosta de argumentar um contador de histórias, para com a mesma história fabricar outras. Mas porque fui me lembrar agora do argumento do velho padre Anselmo?


Porque acho que ele chegou perto da explicação, pois a ideia que me intrigava no presente já podia ter ocorrido no passado. Se ele concordasse com a minha ideia agora diria a frase que corrige os erros dos que tem fé: Deus escreve certo por linhas tortas...


Muito se tem louvado a ciência para a longevidade dos seres humanos. Antigamente quem tinha cinquenta anos já estava velho. Terceira idade nem existia. Ela foi inventada agora porque a quantidade de pessoas com mais de sessenta aumentou assustadoramente, inclusive ameaçando de falência os regimes previdenciários. E estes senhores de sessenta e poucos (ou muitos) estão aparentando mais jovialidade que os cinquentões de outrora.


Pois bem, se cada dia corresponde à rotação da terra em torno de si própria e o ano corresponde à volta completa da Terra em torno do Sol, quem não me garante que estas velocidades estão aumentando? E em vez da humanidade estar vivendo mais, não seria a rapidez da passagem do dia que relativamente aumenta a idade dos mortais? Estou convencido que de um tempo pra cá os anos estão diminuindo de tamanho. Este ano, que começou agorinha, já embalou sua rotação e daqui a pouco já é Natal, quando nem acabamos de festejar o São João. Desconfio que Antônio, Pedro e João, já, já, são santos que acontecerão no mesmo dia...

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