domingo, 23 de dezembro de 2012

Curraleiro Pé-duro


Agora tá valendo. O Ministério da Agricultura publicou uma portaria reconhecendo o gado “curraleiro pé-duro” do Piauí como raça brasileira. Esse animal é uma legítima mutação darwiniana do boi trazido da península ibérica para os sertões do Piauí, que alavancou nossa colonização. Assim como nós somos resistentes filhos mestiços do português com as irmãs do Mandu Ladino, o boi do Piauí se adaptou correndo na caatinga e no cerrado procurado com esmero pelo nosso vaqueiro e se tornou um bicho arisco, pequeno, da carne dura, mas com um potencial de reprodução extraordinário.

Pesa menos da metade do gado zebuíno, portando desconfie de uma picanha que pese mais de meio quilo. E não reclame de que a carne tá dura. Macio nesse bicho só o pequeninho filé mignon, a mão-de-vaca ou a panelada por culpa da pressão. Agora, pense numa carne que tem sustança e sabor. E a nossa carne-de-sol é a melhor do Brasil, palavra de quem provou a de Caicó.

E minha filha dizia que o piauiense não sabe fazer carne. A culpa é do boi, não do homem. E os nossos cortes são outros: dianteira e traseira; de primeira e de segunda; com osso e sem osso. Não tem todos os cortes do gado gaúcho e argentino, que o nosso é um bicho pequeno. Mas não humilhe não, que a nossa vaca é sagrada tendo sustentado as árvores genealógicas do povo da nação Piauí. Gente esmirrada, mas valente. Como disse Euclides: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”. Como o boi “curraleiro pé-duro”, acrescento.
(Edmar Oliveira)

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