Agora tá valendo. O Ministério da Agricultura publicou uma
portaria reconhecendo o gado “curraleiro pé-duro” do Piauí como raça
brasileira. Esse animal é uma legítima mutação darwiniana do boi trazido da
península ibérica para os sertões do Piauí, que alavancou nossa colonização. Assim
como nós somos resistentes filhos mestiços do português com as irmãs do Mandu
Ladino, o boi do Piauí se adaptou correndo na caatinga e no cerrado procurado
com esmero pelo nosso vaqueiro e se tornou um bicho arisco, pequeno, da carne
dura, mas com um potencial de reprodução extraordinário.
Pesa menos da metade do gado zebuíno, portando desconfie de
uma picanha que pese mais de meio quilo. E não reclame de que a carne tá dura. Macio
nesse bicho só o pequeninho filé mignon, a mão-de-vaca ou a panelada por culpa
da pressão. Agora, pense numa carne que tem sustança e sabor. E a nossa
carne-de-sol é a melhor do Brasil, palavra de quem provou a de Caicó.
E minha filha dizia que o piauiense não sabe fazer carne. A
culpa é do boi, não do homem. E os nossos cortes são outros: dianteira e
traseira; de primeira e de segunda; com osso e sem osso. Não tem todos os
cortes do gado gaúcho e argentino, que o nosso é um bicho pequeno. Mas não
humilhe não, que a nossa vaca é sagrada tendo sustentado as árvores
genealógicas do povo da nação Piauí. Gente esmirrada, mas valente. Como disse
Euclides: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo
exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”. Como o boi “curraleiro
pé-duro”, acrescento.
(Edmar Oliveira)
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